A ENTREGA

A ENTREGA

O ato de entregar-se requer uma profundidade nem sempre compre-endida por todos. Os modernos tratados de solidariedade afirmam que só tem valor quando se processa através de um ato de entrega total, que vai desde a doação de alguma coisa material até o oferecimento da própria vida. O lecionário romântico vem permeado de histórias, umas piegas e outras interessantes, a respeito dessas coisas, onde se pode ler alguns e-xemplos de namorados, casais, amantes, cujo amor se transformou em sacrifício, numa eloqüente entrega em favor do outro, nessa ou naquela situação dramática. Quem não sonha com a entrega total do ser amado? Todos nós temos sonhos...

A questão é como lidamos com eles... Nesse particular, me recordo de algumas lições, ministradas por um parente meu, que já partiu, grande mestre na arte do amor: “Quando você estiver com uma mulher, você deve fazê-la se sentir única no mundo!” É lógico que o que onde ele dizia “mu-lher”, por ser homem, pode ser trocado por “homem”, pelas leitoras do se-xo feminino.

Continuando, afirmava: “A mulher  pelo menos aquela que tem ca-pacidade de perceber as coisas  ao contemplar essa dedicação e entrega, mesmo sabendo que você não é dela, que nunca será, sentir-se-á ligada a você, em uma amizade, namoro ou coisa que o valha, por muito tempo”. Ao falar em perceber, ele enfatizava, dizendo existirem mulheres que pela vida afora não percebem nada, exceto a suba do preço da cebola. Nesse raciocínio do momento ímpar, ele faz uma futurologia: “Quando você fizer amor com uma mulher, entregue-se a ela, como se ela fosse a primeira, a única e a última em sua vida. Ela nunca vai esquecer de você, pois se sen-tindo amada, mesmo que saiba que dali a meia hora você se vai, ela vai fazer, naqueles segundos de encontro e paixão, a síntese de todas as suas fantasias e expectativas. E a mulher  prosseguia  nunca esquece quem a faz se sentir amada, quem lhe deu prazer”.

A entrega de paixão é fogo, corpo, alma e coração, e fica, em nossa vida, como um perfume, qual uma flor guardada dentro de um livro... A satisfação do amor nas pessoas, mesmo que por momentos, cria um liame tão forte, que se transforma em algo que vara o tempo, desacata a moral e contraria o bom senso.

É como diz uma velha música “diga que me ama, mesmo mentindo diga, minha alma fará tudo para acreditar...”. Nessa perspectiva, mesmo que qualquer relação não tenha a mínima possibilidade de prosperar, o-correndo esse esvaziamento, a entrega, essa sensação do único, estabelece laços difíceis de romper. Isso pode ser o começo de um grande amor ou, dependendo da circunstância, o fato gerador de uma grande dor de cabe-ça.

Filósofo, Escritor e Professor universitário