TEOLOGIA OU PORNOGRAFIA?

TEOLOGIA OU PORNOGRAFIA?

A televisão exibe volta-e-meia o filme “Bruna Surfistinha” que conta a histó-ria de uma jovem do interior paulista que sai da casa dos pais e se transforma em “garota de programa”. O conteúdo ético-moral do filme é de baixa qualidade, uma vez que faz apologia às drogas e à prostituição, como práticas usuais da persona-gem-título. Os diálogos são, em sua maioria, “ornados” com uma saraivada de pa-lavrões... Alguém pode se surpreender com o fato de uma pessoa como eu estar assistindo um espetáculo desse quilate. Como cronista e crítico social não posso permanecer escondido em guetos e sacristias, sem ver o que acontece no mundo. Meu múnus de comunicador exige uma visão sistêmica.

É curiosa a apologia que o filme faz à prostituição quando fala que essa prá-tica dá mais do que passar oito horas atrás de um balcão de loja, e que rende mais que cursar uma faculdade para depois ser sub-remunerado. Para os autores da trama, que abusa das cenas de sexo, em geral pervertido, parece que nada mais resta a uma moça que vem do interior, do que se tornar uma “garota de pro-grama”.

Enfocando a vida da personagem, o filme narra uma ascensão e queda de sua carreira, onde o dinheiro arrecadado com o comércio do corpo é insuficiente para cobrir gastos com drogas, roupas e outros supérfluos, obrigando Bruna, ali-ás Raquel, a descer ao ponto mais baixo da vida humana. O filme como um relato de vida pode ser real e contemplar bons desempenhos artísticos, mas do ponto de vista moral, como exemplo para os jovens, é deletério e totalmente destituído de qualquer valor ético.

Mas o que mais me chamou a atenção no filme foi a cena final, onde os cré-ditos relatam que Bruna, ou Raquel fez publicar, através do ajutório de um jorna-lista, sua autobiografia que vendeu 250 mil exemplares a R$ 40 a unidade, possi-bilitando-lhe um ponderável aporte financeiro. Como escritor que editou mais de cem livros me senti frustrado. Eu escrevo livros religiosos, católicos, de teologia, moral e catequese há 20 anos. Um livro meu, de catequese de jovens, vendeu mais de 200 mil exemplares em 26 edições, custa R$ 14, dos quais a editora me repassa modestos 8%.

Este artigo é a realidade, sem muitas variações, do mercado do livro religio-so no Brasil. O escritor não investe na produção e divulgação do livro, mas sua remuneração é ridícula e desestimulante, tornando o ato de produzir esse tipo de literatura mais um apostolado do que uma profissão ou fonte de renda. Depois de ver o filme da “Bruna Surfistinha” eu fiquei me questionando se, sob o enfoque da remuneração, não é melhor escrever pornografia ao invés de teologia.