A INQUISIÇÁO

A INQUISIÇÃO

Conforme aprendi em História da Filosofia, a Inquisição Medieval foi deflagrada para que a cultura não sobrepujasse a fé. Diziam que, lendo autores profanos, algumas pessoas tendiam à heresia e ao deboche. No filme “O nome da rosa” Umberto Eco conta que os monges eram proibidos de ler a “Poética” de Aristóteles, por causa do riso, considerado, à época, manifestação diabólica. Naquele tempo, como em todos os regimes ditatoriais, pensar era um defeito que podia levar à morte. As ditaduras, em geral são ideológicas.

A Inquisição, que nada mais foi que um controle de pensamentos e ações, teve um cunho eminentemente religioso. Eu vou falar mais sobre o assunto inquisição, futuramente, em outro artigo. Hoje quero me referir à inquisição doméstica. Eu tenho medo de usar a expressão “entendidos”, que no Rio é sinônimo de veado. Mas, dizem os entendidos, não as bonecas, mas experts no assunto, que as mulheres controlam mais os homens que esses às mulheres. Será verdade? Hoje em dia, é impressionante observar o controle que algumas esposas exercem sobre seus maridos.

Esses tempos, andando sem destino, pela nublada Garopaba, fui à casa de um determinado cidadão, amigo, irmão de caminhada, ver como ele ia, tomar um chimarrão... A esposa me recebeu mal-humorada. Ele não estava em casa. A mulher disse laconicamente: “Ele deve estar caminhando pela praia...” Quando o marido está fora de casa, seja sob que motivo for, algumas mulheres deixam suas imaginações voar aos píncaros do pessimismo. Elas, em alguns casos, esperam aquela fatídica “ligação anônima” que vai denunciar: “olha, aqui é uma amiga, cuidado, o fulano tá na casa da fulana...”.

Em Pelotas, tempos atrás, eu liguei para falar com o amigo e a esposa dele atendeu. Ela foi logo perguntando: quem é? qual o assunto, de onde está falando? não pode ser comigo? Elas ficam mais “buzinas” ainda, quando, ao invés de dar o nome, o interlocutor diz: é um amigo, eu ligo depois... E logo tascam: e “esse amigo não tem nome?” Eu digo o nome e o que se trata, para evitar a geração de maiores constrangimentos ao pobre do oprimido quando de seu regresso, às vezes da farmácia ou de um passeio com o neto na praça.

Mas tem gente, e eu conheço, que gosta de torturar a inquisidora, com respostas evasivas. Essa inquisição revela algumas facetas dignas de estudo: ou o marido não tem a mínima autonomia, e é tratado como um adolescente, ou está em um limbo, decorrente de alguma coisa que andou aprontando.