Venezuela e Oriente Médio

Falar a verdade na política não é na maioria das vezes algo aconselhável e inteligente para quem pretende conquistar ou permanecer no poder, lição antiga nos dada por Maquiavel. Por não fazer parte de nenhum partido, movimento social ou outra forma de militância, estou de antemão perdoado por falar a verdade.

Vou falar de forma direta, sem medo de entregar qualquer coisa, pois não sou comprometido com nenhum grupo ou partido. Sou cético em relação à utopias e ao próprio homem, pois pensamos sociedades ideais para homens concretos, não necessariamente bons ou maus.

A Venezuela esta trilhando o que vou chamar de Revolução Soft. Sim, se compararmos com o tempo e a forma drástica e violenta como ocorreram as revoluções na Rússia, Cuba, China e em outros, a Venezuela esta em um processo muito menos violento e mais gradual. A análise dos fatos e referências que dei confirmam isto.

Eles optaram por uma revolução sem grandes rupturas ou choques drásticos contra a democracia. Ainda faz sentido falar em revolução neste caso, por que o sentido destas mudanças é certo e planejado: uma sociedade comunista.

A primeira fase desta Revolução Soft é o preparo do povo para a vivência nesta nova sociedade e exclusão gradual da chamada elite privada do poder e dos espaços públicos. Neste momento, há antes uma doutrinação e desmoralização desta elite e alguma censura. Esta elite é deixada com alguma liberdade de expressão, mas nunca sem que suas ideias sirvam de combustível para uma luta de classes catalisada pelo Estado. É uma fase tanto de provocação e exclusão ideológica, quanto de ocupação dos espaços políticos pelo governo e pela ideologia bolivariana.

Evidentemente, que esta fase de acossamento desta elite e sua burocracia mais fiel não ocorreria sem que se agravasse a situação econômica do país, isto somado a diminuição do preço internacional do petróleo. A base financeira do governo bolivariano na Venezuela é o petróleo.

A segunda fase é a destituição definitiva desta elite de qualquer instância de poder, congresso e judiciário. Esta nova fase é marcada pela tomada pela Suprema Corte das funções legislativas, note que o congresso venezuelano não é destituído fisicamente, e sim esvaziado de poder de fato.

Nesta segunda fase, é esperado que a oposição, antes cercada pelo aparato econômico e ideológico do Estado, agora se encontra sem outra alternativa senão a luta não política pelo poder. A jogada então é construir uma outra ordem constitucional agora sem esta oposição representada. O que torna as coisas aparentemente democráticas, sendo na verdade um avanço no movimento iniciado por Chaves de exclusão desta elite privada do poder.

A questão na Venezuela, ao contrário do que os ingênuos acreditam, não é a econômica. A Venezuela não tem um regime que fracassa economicamente, ela tem uma revolução cujos efeitos são as dificuldades econômicas. A Venezuela esta em uma transição avançada para um regime comunista de fato, onde pretensões e iniciativas privadas na economia serão abolidas e reprimidas.

É preciso que certas besteiras parem de ser ditas. A crise econômica na Venezuela é efeito da transição que aquele país esta efetuando para um regime comunista de fato.

Suspeito que a oposição na Venezuela possa contar com apoio financeiro dos Estados Unidos, tal como fizeram na Ucrânia, para derrubar o governo de Maduro. O que significará uma guerra civil, mais mortes e instabilidades na região.

Outra coisa muito importante a ser dita democracia implica que diversos grupos e ideologias políticas possam se representar por meio do voto, de garantias às liberdades de expressão, consciência de associação entre outros. Isto não combina com sociedades comunistas pelo simples fato de que em uma democracia os interesses privados diversos também teriam que ser representados.

Não é possível uma sociedade comunista em que interesses privados tenham representação e possam desta forma alterar leis e conduzir uma política que lhes é favorável. Tentar conciliar interesses privados e coletivos é algo típico de regimes fascistas, neste sentido regimes comunistas são muito mais radicais em relação ao coletivo.

O coletivo, em regimes comunistas, é uma construção do Estado, que tem nele a sua voz única e legítima representação. Este coletivo não é o mesmo que público, pois este supõe autonomia individual e reconhecimento dos espaços e temas comuns aos indivíduos. Portanto, a ideia de um Coletivo não deve ser confundida com a de Público.

De forma didática, podemos perguntar sobre a diferença entre interesse coletivo e interesse público. Este último supõe indivíduos e o reconhecimento de espaços e interesses comuns. O primeiro não precisa partir dos indivíduos, mas antes se refere a reunião e organização de um conjunto de pessoas - o que se dá por meio de partido ou outro grupo social.

A crítica rasa não consegue entender que o problema da Venezuela não é a sua crise econômica, é rumo político que ela esta tomando e o que farão as forças políticas de oposição para deter esta mudança. Quando os desprecavidos tomam os problemas humanitário como uma crise do chavismo, eles não entendem que não é o chavismo que está em crise, mas a crise que o chavismo esta provocando tanto política quanto econômica em direção a um regime comunista de fato.

Outro aspecto importante desta crise é o papel que os Estados Unidos mais uma vez esta exercendo nas políticas internas de países do seu interesse. Os incautos acreditam que os americanos estão interessados em arrumar a bagunça e levar democracia. Não, eles não estão nem aí para isto.

O problema dos Estados Unidos na Síria não é o Estado Islâmico é o governo apoiado pela Rússia. Neste sentido, eles financiam grupos rebeldes, financiam a bagunça e os genocídios com o simples intuito de derrubar um presidente que não comunga com os interesses deles.

Outra "bagunça" promovida pelos Estados Unidos é Israel. Teria Israel força para desrespeitar as resoluções da ONU quanto aos direitos territoriais palestinos se não fosse o respaldo e apoio da maior potência do Mundo?

O que brasileiro pensa disto? Ele vibra achando que se trata de uma crise do chavismo, o que ele se engana como demonstrei. Ele não percebe como as intromissões americanas só aparentemente servem para estabelecer democracia (sheriffs do mundo), como geram instabilidade política e prejuízos econômicos onde interferem.

Um estudioso islâmico mediano é capaz de fechar o seguinte raciocínio a respeito do Ocidente, cuja a representação eles veem nos americanos:

> são conquistadores gananciosos que por onde passam destroem a religiosidade, estabelecem valores imorais, relativistas e egoístas, são dissimulados, atacam e prejudicam civis, porém os terroristas são os outros.

> a solução é voltar-se para a própria cultura e religiosidade, que é um forte escudo contra a cultura cética, relativista e materialista do Ocidente. E além de tudo, a jihad é o instrumento tanto interno quanto externo de resistência ao Ocidente.

> o fundamentalismo religioso tem sido um escudo inclusive para os próprios ocidentais que não usufruem de uma sociedade baseada no consumo e no dinheiro, cuja religiosidade e valores tem relativizado e enfraquecido.

> O fundamentalismo religioso, visto o enfraquecimento do cristianismo na Europa, será cada vez mais interessante e atrativo para o número cada vez maior de europeus desempregados e sem perspectivas de acesso a esta sociedade de consumo.

Onde eles se intrometem, os americanos geram e fomentam sem perceberem ideologias anti americanas. Os islâmicos sempre foram mais tolerantes com os cristãos do que o contrário, veja a história, porém os americanos conseguiram mudar até isto. Sempre conviveram bem com os judeus, mas a insistência em apoiar o sionismo fez com se tornassem quase inimigos de honra um do outro.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 01/08/2017
Reeditado em 01/08/2017
Código do texto: T6071336
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