AS ENGRENAGENS

Maria ama José que ama Maria. Resolvem casar e constituir família. O tempo passa e o grupo aumenta com a chegada dos filhos: um adolescente, uma criança, um bebê e o senhor Joaquim, pai de Maria. Uma família composta pelos pais, três filhos e o avô - aposentado e doente, pode ser um exemplo de uma típica família de classe média que compõem a nossa sociedade. Num grupo heterogêneo como esse - formado por mulher, homem, criança, adolescente e idoso, torna-se complexo e complicado o relacionamento entre eles, apresentando muitas diferenças e diversidade de pensamentos, ideias, conceitos e opiniões, mas isso não diminui a beleza de conviver empaticamente. São essas diferenças que fazem surgir debates que auxiliam na solução de problemas.

Pode-se imaginar cada indivíduo com uma correia dentada ao redor de seu corpo e essa engrenagem deve se fundir perfeitamente com o outro indivíduo que faz parte da família, também envolto numa correia dentada. Ao redor de cada família também se pode imaginar uma correia dentada entrelaçando-se ordenadamente com outras famílias. Podemos aumentar essa imagem tendo um grupo de famílias rodeado por um enorme mecanismo que deve trabalhar harmonicamente com outro grupo: a iniciativa privada – o padeiro, açougueiro, lavadeira, sapateiro, verdureiro, cabeleireiro, restaurante, loja, enfim, o comércio em geral.

A iniciativa privada também teria essa engrenagem em sua volta para se fundir afinadamente com o grupo familiar. Essa sociedade formada por grupos de seres humanos que convivem organizados uniformemente distribuídos em famílias somados à iniciativa privada, é uma maneira de enfrentar os problemas da vida: viver em sociedade, “um por todos e todos por um”. Isso não quer dizer que o indivíduo que decide morar só, sem constituir família, seja um excluído da sociedade. Pelo contrário, ele - mesmo morando sozinho – pode participar de grupos de amigos, de estudo, de trabalho, de lazer.

O grupo formado por seres humanos constituindo uma sociedade tem em seu meio, membros que devem seguir normas reguladoras das relações, das obrigações e dos seus direitos – como as peças de um motor trabalhando otimamente. Para que haja justiça social com os membros da família exemplificada, assim como de todos os seres humanos, deve haver a prática e o exercício do que é de direito, sempre glorificando os fundamentos da moral, a fim de eliminar as injustiças.

O ser humano deve viver numa sociedade perfeitamente organizada para que tenha seus direitos garantidos: habitação, trabalho, segurança, educação e saúde de boa qualidade para todos. É um dar-e-receber. É uma via de mão dupla. É aqui que entra o terceiro grupo constitutivo dessa engrenagem: o Estado, que deve desempenhar sua função de agente regulamentador da vida social, política e econômica do país, garantindo os direitos do cidadão.

O Estado deve, com ética e respeito, asseverar ao cidadão serviços públicos e proteção, mas infelizmente o nível de prestação social prestada à população brasileira, é baixo. Essa prestação de serviço é muitas vezes oferecida apenas aos mais abastados. Quando isso ocorre, quando há certo desequilíbrio, surgem as desigualdades sociais – e acontece o travamento da engrenagem exemplificada.

Para a engrenagem dessa máquina trabalhar perfeitamente, deve estar lubrificada e constantemente em manutenção com o auxílio dos Direitos Humanos que são os direitos básicos de todos os seres humanos: que incluem o direito à vida, à propriedade privada e à liberdade; à liberdade de opinião e de expressão; o direito ao trabalho e à educação, entre muitos outros. Para proteger o cidadão e as minorias e garantir esses direitos foram criados alguns estatutos como o do idoso, da criança e do adolescente, do consumidor, etc.

Apesar das críticas, opiniões, erros e acertos atribuídos ao Estado, ele não pode ser separado da vivência humana, pois faz parte de uma sociedade que queira viver com harmonia. De um lado, o cidadão que deve agir e comportar-se dentro da moral e dos bons costumes e do outro lado, o Estado. Cabe então à população, que faz parte dessa engrenagem formada por família + iniciativa privada + Estado, saber desempenhar seus talentos com dignidade, a fim de receber produtos e serviços de um Estado com procedimento ético para alcançar a tão almejada JUSTIÇA SOCIAL. Utopia?

Simone Possas

(escritora gaúcha de Rio Grande-RS,

membro da Academia de Letras do Brasil/MS, ocupando a cadeira 18,

membro correspondente da Academia Riograndina de Letras,

membro da UBE/MS – União Brasileira de Escritores,

autora dos livros MOSAICO, A MULHER QUE RI, PCC e O PROMOTOR,

graduada em Letras pela UCDB,

pós-graduada em Literatura,

contista da Revista Criticartes,

blog: simonepossasfontana.wordpress.com)