A MALANDRAGEM

A cultura da malandragem é bem brasileira. Esse jeito bem humorado de encarar as coisas, a maneira extrovertida de viver a vida, a leviandade de se encantar com propostas de facilidades para obtenção de vantagens, a esperteza como recurso para conquistar o que quer, fazem do brasileiro essa figura conhecida como “malandro”. Esse estereótipo é cantado em verso e prosa na literatura e na música nacionais, principalmente nos meados do século XX. Em 1943, após visita feita ao Brasil, Walt Disney criou o personagem Zé Carioca, que retrata bem o estilo malandro do brasileiro, representado por um papagaio simpático e falante.

A malandragem é, portanto, marca registrada do nosso povo. Esse comportamento se faz presente em todos os níveis sociais. Tanto é que encaramos com naturalidade pequenos artifícios utilizados no cotidiano, ainda que contrariem os costumes éticos e até mesmo a lei. É o famoso “jeitinho” do brasileiro para vencer na vida.

Essa identidade nacional com a malandragem faz com que a gente, de certa forma, seja cúmplice da corrupção. A sociedade brasileira está repleta de corruptos e corruptores. É muito ruim aceitar essa verdade, mas ela é evidente. Lamentavelmente verifica-se uma ambigüidade moral que assusta. Ao tempo em que se exige honestidade e seriedade dos que têm a responsabilidade de conduzir a gestão da coisa pública, exaltamos a “malandragem” dos que conseguem na artimanha lidar com os poderosos ou então na engenhosidade e sutileza vencerem dificuldades, mesmo que de forma ilícita.

Para nos livrarmos dessa pecha de malandro que corre mundo afora, seria necessário vivermos uma revolução cultural. Queremos sim ter a fama do “bom malandro”, aquele que seduz, tem a cordialidade como característica, está sempre alegre, não se lastima da vida, mas respeita os limites da moralidade e da ética no comportamento social e político. A afirmação pode chocar alguns que se colocam no campo das exceções, mas convenhamos que a regra se aplica a uma grande parte da população. Está em tempo, portanto, de mudar esse conceito negativo.

Rui Leitão
Enviado por Rui Leitão em 13/01/2018
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