O mal do desemprego

O desemprego é um mal social do Brasil que tem atingido níveis alarmantes e causado insegurança e angústia aos brasileiros. Nós nos sentimos inseguros porque sabemos que a vida é incerta e, como enfrentar os problemas que podem aparecer a qualquer momento sem que tenhamos pelo menos como nos sustentar? De repente, podem vir doenças, dívidas e tantas outras coisas que exigem que tenhamos dinheiro. Vivemos num mundo capitalista. Ninguém pode viver de vento. Precisamos pagar despesas, comprar alimentos e roupas e ter uma quantia guardada para o futuro. Além disso, nós sabemos que chegará um dia no qual precisaremos cuidar de nós mesmos. Alguém espera passar sua vida contando com a boa vontade dos outros? Naturalmente não. E nenhuma pessoa inteligente quer viver dependendo dos demais. Queremos sentir que somos capazes de nos garantir e vencer os desafios da vida. Sem emprego, ficamos como bolas de sinuca, sem controle sobre os nossos dias.

Outro problema comum entre os desempregados é o tédio, o qual vem acompanhado de uma sensação de fracasso e inutilidade. Muitas das pessoas sem emprego são formadas, com curso superior e tantos outros de capacitação. Imaginemos a mente de alguém que passou anos estudando, fazendo cursos técnicos e se capacitando vendo todas as portas fechadas. Chega-se a sentir que foi inútil estudar e adquirir tantos conhecimentos e habilidades se não há chance de usá-los na prática. Muitos são os que, sem conseguir emprego na área em que formaram, acabam por ir trabalhar em outros ramos.

A sensação de tédio pode levar à depressão, pois quem está desempregado se sente como um barco à deriva, sem conseguir determinar seu destino, investir nos seus sonhos e lutar para melhorar suas condições de vida. É horrível imaginar-se preso sob uma redoma, sem praticar o que aprendeu ou, pelo menos, ocupar-se com uma atividade que, se não corresponde ao seu nível educacional e qualificações, permita que se sustente e se mantenha ocupado. Os dias de alguém sem emprego parecem sempre iguais, a pessoa pensa que não está indo a lugar nenhum e as usuais palavras de consolo que muitos dizem chegam a soar insuportáveis depois de um tempo porque, num determinado momento, não se quer mais ouvir: "tem que lutar"; "é assim mesmo" ou "por que não manda currículo para...". Quer quer trabalhar, não quer ser eternamente consolado. Quer trabalhar. Palavras de ânimo podem nos trazer um conforto emocional, mas não resolvem nossos problemas nem pagam nossas contas, que não param de crescer.

Um dos fatores negativos mais fortes no problema do desemprego é que muitas das vagas exigem pelo menos algum tempo de experiência. E ainda que não se exija diretamente que o candidato seja experiente, sempre se dá preferência ao que já desempenhou tal função em cargo anterior. Assim, quem nunca trabalhou antes pode ficar realmente desestimulado. Se já está difícil para alguém com experiência, imaginem para quem não tem. Está certo que a pessoa com experiência possui mais traquejo, e não se terá tanto trabalho explicando a ela como desempenhar a função. Entretanto, falta de experiência não significa falta de competência. Alguém que está começando a trabalhar pode muito bem compensar sua inexperiência com entusiasmo, vontade de aprender, ambição e conhecimentos atualizados. Não dar chances a alguém por nunca ter trabalhado antes é cruel, porque o impede de mostrar sua capacidade e de desenvolver seu potencial. Além disso, os empregadores também perdem a chance de conhecer novos e promissores talentos, gente que pode representar um excelente investimento para o futuro da empresa. Quem conseguirá crescer se não lhes dão dadas as oportunidades para isso? Experiência se adquire, assim como só podemos desenvolver certas habilidades se dermos o primeiro passo nesse sentido.

Não investir no potencial de tanta gente que quer trabalhar é não investir no futuro do país. Queremos trabalhar, crescer e o Brasil só conseguirá funcionar bem se pessoas capazes tiverem a chance de pôr em prática sua capacidade.