O estilo de vida solitário merece ser melhor observado (por dr Marty Nemko)

A RECLUSÃO COMO OPÇÃO

O estilo de vida solitário merece ser melhor observado

Publicado em 24/10/2014

A maior parte das pessoas não sonha em se tornar um recluso. Nos ensinam que somos animais sociais, ou mesmo animais sexuais e muitas razões são enumeradas.

Muitos gostam de viver e trabalhar com outras pessoas para poder ter benefício mútuo por acreditarem que nestes difíceis tempos econômicos, duas rendas são melhores para os gastos da casa. Muitos desejam ter filhos, o que é melhor se criados por duas pessoas.

A maior parte das pessoas acha as relações familiares e de amizade prazerosas. Viver com outras pessoas aumenta a chance de poder ter disponível alguém que cuide delas quando chegarem a uma idade avançada. Por estes supostos benefícios, chegam mesmo a aceitar os problemas sérios de um casamento. Porém se você faz parte destes 50% que se divorciam, pode sofrer por anos com a guerra da separação e no fim é forçado a ceder periodicamente dinheiro a alguém que agora odeia.

Para estes, ter um par romântico, amigos e família é fundamental. Contudo, a liberdade que se conquista com o estilo de vida solitário é bem maior e pouco valorizada. Este é o motivo da publicação deste artigo. As vantagens do recluso se estendem da manhã à noite:

. Ao acordar: você levanta quando quiser, calmamente reentrando no mundo dos seres acordados, ao invés de tomar um susto com o despertador de seu parceiro(a) ou crianças pulando sobre você. E, por viver em reclusão, tem seu próprio emprego e pode, em muitos casos, dormir até o horário que desejar. Não precisa, ainda meio sonolento, fazer o café da manhã do esposo ou das crianças, nem brigar para que eles se vistam e se aprontem para a escola. Pode, de forma prazerosa, preparar sua refeição, apreciando-a depois com as notícias da manhã, música ou simplesmente em silêncio.

. Trabalhando: quando estiver pronto e quando bem entender, seu expediente inicia. Como sua renda será utilizada somente por você, tem mais chances de trabalhar com algo que ama, mesmo que não seja muito lucrativo. Muitas pessoas adorariam ser artistas, dançarinos, escritores, mas se sentem forçados a trabalhar com finanças, marketing ou ser operário numa fábrica porque precisam sustentar a família. Autônomos não precisam comprar roupas caríssimas para ir para o trabalho. Não há viagens diárias obrigatórias, nem chefe pé-no-saco, colegas de trabalho mal-intencionados, nada de processos confusos ou produtos que não valham a pena, nem reuniões intermináveis que resultam em planos mornos. Você é o chefe do negócio ou trabalho que quiser ter, seja ele lucrativo ou não. Claro que se você é daqueles que precisam da estrutura e suporte de uma empresa para se manter produtivo, ótimo. Nada contra um emprego convencional. Mas a liberdade de ser seu próprio patrão não se compara. E se você mantiver seus gastos baixos e seu negócio simples, provavelmente conseguirá evitar estar entre aqueles cujo empreendimento fecha nos primeiros anos de existência. Isso acontece com metade dos negócios em atividade.

Precisa de ajuda? Contrate alguém para o tempo que for preciso, para o serviço que você não pode ou não quer fazer. Esta poderia ser uma exceção para seu modo de vida recluso... ou não. Eu costumava pagar uma faxineira. O serviço era bem feito, mas ela queria sempre conversar comigo por longos quinze minutos assim que chegava. Decidi eu mesmo limpar a casa. Assim, economizo dinheiro, mesmo fazendo a limpeza aos poucos, inserindo a necessária atividade à minha vida sedentária.

Sobre intervalos: trabalhe para você mesmo e você poderá ter quantos intervalos quiser. Quer dar uma caminhada com o cachorro no meio da noite? Sem problemas. Você pode continuar o trabalho outra hora.

. Sexo: é comum pessoas viverem juntas pelo simples motivo de poder fazer sexo regularmente. Mas é claro que, como tudo na vida, existe um preço. Para alguns pode valer a pena, mas o recluso prefere a masturbação ou mesmo sexo casual. Muitas pessoas tem apetite sexual diferente dos parceiros, o que pode tornar a situação difícil. Na vida solitária, não há compromisso algum.

. Gastos: as pessoas podem ser bastante diferentes com relação a compras. Uns podem ter uma queda por grifes, carros, habitação cara e cursos pagos. Outros podem achar tudo isso um absurdo.

. Lazer: o que assistir na TV? Qual filme ver? O que fazer no sábado à noite? Onde passar as férias? Alguns não gostam de viajar. Outros, viajam com bastante frequência. Viva sozinho e isso não será problema.

. Sono: ser solitário ajuda até mesmo na hora do sono. O quarto estará exatamente na temperatura que você gosta. Claro, casais podem usar lençóis e cobertores separados, mas não é a mesma coisa. E se ele/ela roncar?

. Amigos e família: a reclusão pode ter exceções com relação a amizades e família. Mas os mais fechados acreditam que parentes e amigos são um problema. Pode até ser egoísmo, mas o recluso acredita que é justo: eles não impõem nada aos outros e não querem ninguém impondo nada para eles. Quando precisarem de ajuda, vão pagar por isso e se não tiverem condições, receberão assistência do governo ou de entidades.

Passar um tempo com amigos e familiares pode parecer generoso. Mas você praticaria generosidade maior em outras atividades para auxiliar o próximo. É melhor escutar seu primo chato ficar reclamando da vida ou ajudar como voluntário numa entidade, escrever um artigo, criar um vídeo no YouTube que possa ajudar pessoas?

A cada dia aceitamos mais as formas não-tradicionais de existência, como relacionamentos LGBT, grupos morando em casas e cohabitação sem casamento. Mas o estilo de vida do recluso ainda não foi devidamente aceito, nem analisado.

[ Dr. Marty Nemko. Psicólogo, para a revista Psychology Today ]

José Antônio Dias
Enviado por José Antônio Dias em 29/06/2018
Reeditado em 29/06/2018
Código do texto: T6376889
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