Lá vêm o Brazil Descendo a Lameira!

Mais uma; mais uma; mais uma! Mais um triste carnaval, mais uma lamentável história nada fantasiosa, menos ainda folclórica, que quanto mais se repete, mais menosprezada; afinal, como não bastasse a falta de respeito pela Vida e à técnica aplicada, no entanto, depois que o pior acontece, sobra discurso infundado e omissão dos doutos (ir)responsáveis. Diferente das demais áreas do conhecimento, incluindo as falas tolas dos (des)humanos de humanas, a maioria das engenharias assassinam impiedosamente.

“Estou enfiado na lama, é um bairro sujo onde os urubus têm casas e eu não tenho asas, mas estou aqui em minha casa onde os urubus têm asas”. Trocadilhos na letra "Lama ao Caos", composta pela Banda Nação Zumbi.

Contextualização: Mais uma vez prevaleceu a irresponsabilidade, a falta de escrúpulo, a falta de caráter, a falta de critérios técnicos, a falta de respeito e compromisso com a Vida, a falta profissionalismo daqueles que se intitulam como administradores, gabaritados coordenadores e gerenciadores de projetos; em contrapartida, sobrou lamaçal nos olhos dos humildes operários; sobrou o solícito rejeito químico pincelando flores, casas, carros e folhagens de barro com a cor densa/avermelhada. Ambientalmente, por onde a tragédia passou, levou consigo a fauna e flora. Sobretudo, a poesia está para o caos, assim como a racionalidade está para a comprometida verdade; e fundindo poesia e racionalidade, temos a TCA: Trágica Cultura do Absurdo; sob a qual, tudo torna-se normalidade diante das justificativas humanas, quando não, insinuam que foi fatalidade advinda da maldita Natureza. Será?

O conhecido quadrilátero ferrífero cobre uma superfície territorial de aproximadamente 7,5 mil Km2; e se estende sentido oeste por mais de 200 Km de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Só e somente por essa credencial, dispensa dizer que é riquíssima em minerais, tais como manganês, ferro e outros; perfazendo 2/3 da extração e produção mineral do país. Porém, onde tem ouro e riquezas em abundância, invariavelmente, o saqueador, o afanador, o ladrão e o explorador fazem morada por perto. É tão verdade, que a história do Brasil inicia sendo contada por àquelas bandas; e por questões estratégicas, culminando com Vila Rica, atual Ouro Preto, recebendo o título de "Imperial Cidade, - uma espécie de Capital Federal - conferido por Dom Pedro I na época do Império.

Dizendo adeus ao pequeno relato sobre certo período do Império e ao mando estabelecido, viajamos por mais de um século nas asas do tempo e aterrissamos nos dias atuais. Sórdidos dias atuais, os quais tudo se teoriza, tudo se sabe, tudo se explica e não aparece um, apenas um dos que teorizam e explicam para resolver; e quando não se resolve, salve-se quem puder.

Em novembro de 2015, na mesma região onde está situado o quadrilátero ferrífero, segundo palavras de Ambientalistas, houve o maior desastre, a maior catástrofe ambiental brasileiro. A tragédia ocorrera em Mariana e na ocasião, o lamaçal proveniente barragem de Fundão fizera um estrago sem proporções; com a grossa lama química dizimando gente; atropelando casas e carros; desapropriando escolas e hospitais; desalojando escolares e pacientes; criando redemoinhos insanos; pondo abaixo volumosas árvores seculares; poluindo rios, efluentes e afluentes límpidos, indo parar em determinado ponto da costa marítima do Espírito Santo. A tragédia e as muitas sêquelas deixadas foram motivo de alarde geral e dignas dos maiores impropérios contra a Samarco; empresa prestadora de serviços para a Vale do Rio Doce. Contudo, de lá para cá 3 anos se passaram e como diz o ditado, cão que muito late, nada abocanha o afanador e ladrão; e fora as absurdas imagens que tatuaram as emoções e mentes dos lesionados, o restante da tragédia caíra em inerte sonolência; em profundo esquecimento. Até o instante que escrevia o segundo parágrafo deste sinistro texto, silêncio de morte.

Contudo, ao iniciar o terceiro parágrafo, um berro gutural escapou das entranhas da Natureza; e alvoroçada pela atrocidade a qual fora acometida, pedia socorro urgente. Afinal, diante de tantos pequenos desastres suportados por ele no dia a dia, qual a dimensão da tragédia ocorrida para deixar o Meio Ambiente tão atônito e apreensivo de um momento ao outro?!

Ao ouvir os berros ensurdecedores, lembrei da analfabeta, estúpida, sábia, devota de Santa Retidão e minha mãe, que paulatinamente alertava-me dizendo que quando o sujeito perde a vergonha, torna-se safado por fé e crença, pode caminhar em passos lentos, observando minuciosamente a estrada de mão única de Ushuaia até o Japão, que jamais encontrará o tesouro que perdeu. Afirmava a filósofa de tempos que estavam por vir, que o fulano cruzaria com a vergonha inúmeras vezes, sem no entanto, ser reconhecido por ela. Então, eu que tomasse cuidado, pois para perder a vergonha era fácil; difícil era achá-la e passar confiança o bastante, para reconquistá-la. Sem sair do lugar e apenas idealizando um mundo, de humanismo vivencial, a minha orientadora tinha razão, conhecimento e bagagem experiencial suficientes, a ponto de jamais gastar saliva, jogando conversa fora. Cada palavra era fundamentada sob verdade absoluta.

Pois bem, infelizmente, o homem (letras minúsculas) tem a capacidade inata, tem o dom único, para produzir tragédias. Em nome do progresso e na busca incessante dos lucros, o homem acaba cometendo as maiores barbáries e atrocidades, quando não é contra o homem, é contra o meio ambiente; mas também pode ser contra Natureza e homem. Desgraça pouca é tolice; e está escrito nos anais de história que essa plaga destruidora universal, quando é para o seu interesse e mais meia dúzia, é versátil e presta, quase que exclusivamente à destruição em massa.

Existe um dito chinês que diz o seguinte: “Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranquilidade”. Aquilo que para minha mãe não passava de uma “Grande Tragédia Anunciada”, os usurpadores da Natureza e governantes costumam resumir num simples eufemismo: “Fatalidade". Todavia, de fatalidade e tragédia natural não houve nada; mesmo porquê, o número de barragens de rejeito de materiais condenadas ao uso na região, é quase totalidade.

Ainda nos tempos de faculdade, ouvi de um bocudo professor que os educandos estavam sendo enganados; pois, engenharia é 10% de conceito físico aplicado e 90% de bom senso do engenheiro/projetista. Deveras, sem contar que qualquer obra de infra-estrutura envolve altas cifras de dinheiro, (e dinheiro mata, corrompe toda e qualquer inteligência)quase sempre os números enganam; motivo de aplicação do chamado "super-dimensionamento", ou coeficientes de segurança.

A grosso modo, uma barragem ou reservatório de grande dimensão, é um maciço triangular de terra e pedra compactados; cuja finalidade é represar alguma coisa, via de regra líquida. Ora, valendo-se da terceira lei de Newton e pelo simples pensar técnico, dá para imaginar que o maciço de terra deverá exercer uma força contrária maior que as forças que agem em suas espessas paredes. Outro conceito físico importante e obrigatoriamente é levado (ou deveria) em consideração no projeto de uma barragem, é uma das leis de Pascal, que diz que a força resultante nas paredes é proporcional à massa do material, multiplicada pela ação da gravidade, multiplicada pela altura, ou seja Fr = mgh. Lembra-se dela?

Por fim, as barragens são construídas em lugares estratégicos, ou melhor em baixios, gargantes e depressões. Novamente, dispensando a genialidade e floreios da soberbia de engenheiros, geólogos, ambientalistas e demais especialistas, a técnica recomenda que faça um levantamento minucioso e detalhado da bacia hidrográfica, a qual irá contribuir significativamente para o local escolhido. Nada nada mais óbvio, pois, além das forças resultantes do material a ser reservado, o maciço de terra que suportar o volume de água excedente que receberá na estação das chuvas.

Por fim, em mais essa tragédia causada por gente, faltou respeito à Vida, seriedade e comprometimento técnico; no entanto, sobrará falas e discursos de pessoas, que talvez nem saibam o que assinaram. Fato muito comum na engenharia; aliás, antigamente o engenheiro era alcunhado de profissional de obras prontas. Com o avanço da tecnologia, apenas assinam, recolhem a ART (Arrecadação de Responsabilidade Técnica) junto ao órgão de classe e chamam o Google para dar vistas ao projeto. A implantação da obra fica por conta de quem realmente trabalha e sua a camisa para ganhar o mísero alimento de cada dia. Como diz a manada de gado abestada, "ser diplomado e esquentar a Carteira Profissional na província pau Brazil, e simples assim"!

Contrário das falácias da súcia do "deixa disso", que dizem que escola e educação são as entradas e saídas para o desenvolvimento, tanto econômico quanto social do país, não canso de afirmar que caráter, cultura refinada e nacionalidade são itens seríssimos na formação de um povo! Em tempo, quem não pensou, ou não se importou com a tragédia anunciada, certamente frequentou as melhores do país; e oxalá, diplomado exterior. Sinceramente, como a nacionalidade brasileira é safada!

No mais, aguardemos pacientemente sentados confortavelmente na espreguiçadeira, de braços cruzados e novelando os dedos polegares um ao redor do outro, a próxima tragédia; pois como esperado, a maioria das barragens estão sob risco iminente de rompimento.

Valha-me, salve-me Deus da maldita lama que cega meus olhos; sobretudo, porque eu vim do pó seco da terra e para o pó seco da terra, sou prometido; e não para a liquidez do pó.

P.S.: façamos um minuto de silêncio e lancemos um botão de flor em homenagem aos que tiveram suas vidas ceifadas pela irresponsabilidade humana. Que o peso da lama lhe seja mais leve que os pecados cometidos em vida. Amém!

NISTÉRIO DAS LETRAS

Visionário às ocultas

LÁ VÊM O BRAZIL DESCENDO A LAMEIRA!

PUBLICADO EM RECORTES POR PROFETA DO ARAUTO

A Vale é amarga feito fel; mas o rio é (era) de água doce, feito mel! parafraseando Carlos Drummond de Andrade.

Mais uma; mais uma; mais uma! Mais um triste carnaval, mais uma bela obra de arte construída pelas mãos dos artesãos, mais um lamentável capítulo nada fantasioso, menos ainda folclórico, que quanto mais se repete, mais menosprezado, registrado nos anais de História; afinal, como não bastasse a falta de respeito pela Vida e à técnica aplicada, no entanto, depois que o pior acontece, sobram discursos infundados e omissão dos doutos (ir)responsáveis. Diferente das demais áreas do conhecimento, incluindo as falas tolas dos (des)humanos de humanas, a maioria das engenharias assassinam impiedosamente.

urubu.jpg

“Estou enfiado na lama, é um bairro sujo onde os urubus têm casas e eu não tenho asas, mas estou aqui em minha casa onde os urubus têm asas”.

Trocadilhos linguísticos na letra "Lama ao Caos", composta pela Banda Nação Zumbi.

Contextualização: Mais uma vez prevaleceu a irresponsabilidade, a falta de escrúpulo, a falta de caráter, a falta de critérios técnicos, a falta de respeito e compromisso com a Vida, a falta profissionalismo daqueles que se intitulam como administradores, gabaritados coordenadores e gerenciadores de projetos que ganham rios de dinheiro para falar o óbvio; em contrapartida, sobrou lamaçal nos olhos dos humildes operários; sobrou o solícito rejeito químico pincelando flores, casas, carros e folhagens de barro com a cor densa/avermelhada. Ambientalmente, por onde a tragédia passou, levou consigo a fauna e flora. Não raro, a poesia está para o caos, assim como a racionalidade está para a comprometida verdade; e fundindo poesia e racionalidade, temos a TCA: Trágica Cultura do Absurdo; sob a qual, tudo torna-se normalidade diante das justificativas humanas, quando não, insinuam que foi fatalidade advinda da maldita Natureza. Será?

O conhecido quadrilátero ferrífero cobre uma superfície territorial de aproximadamente 7,5 mil Km2; e se estende sentido oeste por mais de 200 Km de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Só e somente por essa credencial, dispensa dizer que é riquíssima em minerais, tais como manganês, ferro e outros; perfazendo 2/3 da extração e produção mineral do país. Porém, onde tem ouro e riquezas em abundância, invariavelmente, o saqueador, o afanador, o ladrão e o explorador fazem morada por perto. É tão verdade, que a história do Brasil inicia sendo contada por àquelas bandas; e por questões estratégicas e saquear era uma delas, culminando com Vila Rica, atual Ouro Preto, recebeu o título de "Imperial Cidade, - uma espécie de Capital Federal - conferido por Dom Pedro I na época do Império.

Dizendo adeus ao pequeno relato sobre certo período do Império e ao mando estabelecido, viajamos por mais de um século nas asas do tempo e aterrissamos nos dias atuais. Sórdidos dias atuais, os quais tudo se teoriza, tudo se sabe, tudo se explica e não aparece um, apenas um dos que teorizam e explicam para resolver; e quando não se prevê e resolve antecipadamente as tragédias do eterno retorno, salve-se quem puder. Por outro lado, morre quem morre!

O Brazil não conhece, tapa os olhos para a alma líquida que o Brasil carrega na mala, levando-a para banhar-se em um mar de lama.

Lamas na mala, almas na lama! Uma vez que a linguagem poética imita a vida e ninguém morre no lugar de ninguém, conclui-se que nem toda desgraça é desprezível, vil, má, ignóbil, inútil e ainda que ínfima, alguma coisa dos restos e sobras prestam aos homens que ficaram para contar a história da tragédia. Atente-se o leitor, que o Profeta do Arauto criou um lindo e expressivo anagrama. Sinta-se capaz, e crie coisas legais com as desgraças advindas do rompimento da barragem. Porém, se não for suficiente, repare bem o cotidiano ao seu redor e verás que inspiração é o que não falta. Quem sabe o caro leitor se descubra um artista de alto valor em potencial e concorra ao Prêmio Nobel na modalidade de arte escolhida. Desde já, a cultura intelectual seletiva brasileira agradece! Por que de charlatanismo acusador, basta o escritor furacão Profeta do Arauto.

Em novembro de 2015, na mesma região onde está situado o quadrilátero ferrífero, segundo palavras de Ambientalistas, houve o maior desastre, a maior catástrofe ambiental brasileira. A tragédia ocorrera em Mariana e na ocasião, o lamaçal proveniente barragem de Fundão fizera um estrago sem proporções; com a grossa lama química dizimando gente; atropelando casas e carros; desapropriando escolas e hospitais; desalojando escolares, professores, litros de soro, remédios e pacientes; criando redemoinhos insanos; pondo abaixo volumosas árvores seculares; poluindo rios, efluentes e afluentes límpidos, indo parar em determinado ponto da costa marítima do Espírito Santo. A tragédia e as muitas sêquelas deixadas foram motivo de alarde geral e dignas dos maiores impropérios contra a Samarco; empresa prestadora de serviços para a Vale do Rio Doce. Contudo, de lá para cá, 3 anos se passaram e como diz o ditado, cão que muito late, nada abocanha o afanador e ladrão de joias; e fora as absurdas imagens que tatuaram as emoções e mentes dos lesionados, o restante da tragédia caíra em inerte sonolência; em profundo esquecimento. Até o instante que escrevia o segundo parágrafo deste sinistro texto, silêncio de morte.

Contudo, ao iniciar o terceiro parágrafo, um berro gutural escapou das entranhas da Natureza; e alvoroçada pela atrocidade a qual fora acometida, pedia socorro urgente. Afinal, diante de tantos pequenos desastres suportados por ele no dia a dia, qual a dimensão da tragédia ocorrida para deixar o Meio Ambiente tão atônito e apreensivo de um momento ao outro?!

Desfalecido:

Plumas suspensas nas brumas;

Uma sobre as outras, rolam rumas sem rumo;

Tafuiam em Brumadinho, cidade mineira, pendida em galhos de flores sem prumo.

Ao ouvir os berros ensurdecedores, lembrei-me da analfabeta, estúpida, sábia, filósofa, psicóloga, devota de Santa Retidão e minha mãe, que paulatinamente alertava-me dizendo que quando o sujeito perde a vergonha, torna-se safado por fé e crença, pode caminhar em passos lentos, observando minuciosamente a estrada de mão única de Ushuaia ao pé da Argentina, até o Japão, que jamais encontrará o tesouro que perdeu. Afirmava a filósofa de tempos que estavam por vir, que o fulano cruzaria com a vergonha inúmeras vezes, sem no entanto, ser reconhecido por ela. Então, eu que tomasse cuidado, pois para perder a vergonha era fácil; difícil era achá-la, como também não seria nada fácil tornar-me confiável o bastante, para reconquistá-la. Sem sair do lugar e apenas idealizando um mundo humanista/vivencial, a minha orientadora tinha razão, conhecimento e bagagem experiencial suficientes, a ponto de jamais gastar saliva, jogando conversa fora. Cada palavra era fundamentada sob verdade absoluta vista à olhos nus.

Pois bem, infelizmente, o homem (letras minúsculas) tem a capacidade inata, tem o dom único, para produzir tragédias. Niilista, esse traste não comete pequenos erros, mas sim tsunamis e terremotos de lama. Em nome do progresso e na busca incessante dos lucros, o homem acaba cometendo as maiores barbáries e atrocidades, quando não é contra o homem, é contra o meio ambiente; mas também pode ser contra Natureza e homem. Desgraça pouca é tolice; e está escrito nos anais de História que essa plaga destruidora universal, quando é para o seu interesse e mais meia dúzia de capangas aliados, é versátil e presta, quase que exclusivamente à destruição em massa.

Existe um dito chinês que diz o seguinte: “Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranquilidade”. Aquilo que para minha mãe não passava de uma “Grande Tragédia Anunciada”, os usurpadores da Natureza e governantes costumam resumir num simples eufemismo: “fatalidade fortuita", como disse Sérgio Bermudes, advogado - rábula, por assim dizer - da Vale. Quanto ganha em dinheiro vivo um egrégio doutor "Gravatinha" para defender uma tese infeliz, absurda, grotesca, disparatada, como a dita acima? Recordando Machado de Assis, "há pessoas elegantes e pessoas enfeitadas". Permita-me Machado, dizer que, claro que há umas poucas pessoas de rara gentileza e elegantes no trato humano; e fazem o bem sem barganhar, sem pedir nada em troca. Mas, repito: é raro, é uma em cada um milhão de pessoas.

Todavia, de fatalidade e tragédia natural não houve nada; mesmo porquê, o número de barragens de rejeito de materiais condenadas ao uso na região, é quase totalidade. Além do mais, a profícua e indefesa Natureza é dadivosa e trabalhando em silêncio, produz, renovam as belezas, sem no entanto, deixar rastros de destruição.

Ainda nos tempos de faculdade, quando havia um pouco de seriedade no ensino brasileiro, ouvi de um bocudo, corajoso, ousado professor, daqueles que construíram os alicerces da profissão com competência e não com mentiras e falcatruas, por que verdades não devem ser ditas, que os paspalhos educandos estavam sendo enganados pela montoeira de disciplinas da grade curricular do curso, as quais dificilmente seriam postas em prática; pois para ele, engenharia é 10% de conceito físico aplicado e 90% de bom senso do engenheiro/projetista. Deveras, sem contar que qualquer obra de infra-estrutura envolve altas cifras de dinheiro, via de regra do governo, (e dinheiro mata, compra seriedade e insatisfação, corrompe toda e qualquer inteligência. Vide a ciclovia que após um mês de "finalizada", rompeu com a força das ondas marítimas no Rio de Janeiro, levando a óbito duas pessoas) quase sempre os números enganam; motivo de aplicação do chamado "super-dimensionamento", ou coeficientes de segurança nos projetos; principalmente os estruturais.

Porém, por questão de economia e maiores lucros, subestimam os coeficientes de super dimensionamento, burlam leis específicas que regulamentam as muitas modalidades de projetos, montam esquemas escusos com os órgãos de aprovação, não fazem inspeção e manutenção periódica da construção; e o mais ousado, usam materiais de péssima qualidade. Voltando ao passado, quem não se lembra do castelo construído com areia lavada de mar pelo nobre engenheiro Sérgio (ca) Naia; também no Rio. Paro por aqui, porque se for enumerar as aberrações técnicas que ocorrem paulatinamente em terra Brasilis, com um tiro seco e certeiro, atentarei contra minha vida. Como na maioria das áreas do "conhecimento, ensino e pesquisa", em verdade vos digo que há um bando de abutres, fantasiados de beija-flor de corações ternos, infiltrados na engenharia brasileira. Querem canudos e pomposos salários, tanto no setor privado, quanto no setor estatal.

Maquiavel sentenciou que: "A ambição do homem é tão grande, que para satisfazer sua vontade não pensa no mal que sua atitude pode ocorrer após algum tempo".

A grosso modo, uma barragem ou reservatório de grande dimensão, é um maciço triangular de terra e pedra compactados; cuja finalidade é represar alguma coisa, via de regra líquida. Dependendo do material a ser represado, adota-se um material aglutinante para reforçar, preencher os vazios e consequentemente, melhorar a compactação do maciço. Ora, valendo-se da terceira lei de Newton e pelo simples pensar técnico, dá para imaginar que o maciço de terra terá que exercer uma força contrária maior que as forças e pressões que agem em suas espessas paredes. Outro conceito físico importante e obrigatoriamente levado (ou deveria) em consideração no projeto de uma barragem, é uma das leis de Pascal, que diz que a força resultante nas paredes do reservatório, é proporcional à massa do material, multiplicada pela ação da gravidade, multiplicada pela altura, ou seja Fr = mgh. Lembra-se dela? Resumindo essa lei, quanto mais profunda for a área destinada ao reservatório, proporcionalmente serão as forças atuantes nas laterais e no maciço de terra. Segundo noticiado, o projeto previa certa profundidade, e a construção foi executada com outra muito superior a projetada; o que é comum, pois assim como teoria e prática não prestam-se ao proposto, há um distanciamento enorme entre os arquivos-mortos e a implantação da obra.

Esclarecendo melhor, recentemente rompeu uma ponte na cidade de São Paulo, construída, salvo engano nos anos 70 do século passado e para repará-la, a "equipe técnica" do governo atual foi pedir para a esposa do engenheiro assinante e responsável pelos projetos, os originais das plantas e detalhamentos gerais da ponte. Infelizmente, o marido faleceu faz algumas décadas. Pode o defunto levar para o beleleu os projetos de engenharia de infra-estrutura executados por ele em vida, Arnaldo? Que preceito anti-ético desse defunto, Gérson; senhor/futebolista brasileiro, canhotinha de ouro que difundiu o "eu gosto de levar vantagem em tudo, leve vantagem você também", cerrrto? Se não fosse o óxido corrosivo do tempo, esse craque de bola dos anos 70, ainda seria exemplo de glória e legado para o povo brasileiro.

As barragens são construídas em lugares estratégicos, levando em conta o relevo topográfico, ou melhor em baixios, gargantas e depressões; obviamente esse item de projeto deve contemplar o menor impacto ambiental possível. Novamente e dispensando a genialidade e floreios da soberbia de engenheiros, geólogos, arquitetos, ambientalistas e demais especialistas, o estudo da técnica apurada recomenda que faça um levantamento minucioso e detalhado da bacia hidrográfica, a qual irá contribuir significativamente para o local escolhido. Nada nada mais óbvio, pois, além das forças resultantes do material a ser reservado, o maciço de terra tera que suportar o volume de água excedente que receberá na estação das chuvas. A consolidação do projeto prevê uma crista nivelada de largura variável à montante; enquanto que a base triangular ou saia de contenção, será tão grande quanto as forças e as pressões totais resultantes. Basicamente, o conceito técnico aplicado à construção de barragem é esse.

A Vale é amarga feito fel; mas o rio é (era) de água doce, feito mel! parafraseando Carlos Drummond de Andrade.

Por fim, em mais essa tragédia causada por gente, faltou respeito à Vida, seriedade e comprometimento técnico; no entanto, sobrará falas e discursos de pessoas, que talvez nem saibam o que assinaram. Fato muito comum na engenharia; aliás, antigamente o engenheiro era alcunhado de profissional de obras prontas. Com o avanço da tecnologia, apenas assinam, recolhem a ART (Arrecadação de Responsabilidade Técnica) junto ao órgão de classe e chamam o Google para dar vistas ao projeto. A implantação da obra fica por conta de quem realmente trabalha e sua a camisa para ganhar o mísero alimento de cada dia. Como diz a manada de gado abestada pela alienação, "ser diplomado e esquentar a Carteira Profissional na área de formação, nesta provínvcia nominada pau Brazil, é simples assim"! Embora que com título ou a inexistência dele, não exime o compromisso com a verdade, com a retidão e planejamento honesto a longo prazo; título que, convenhamos não é propriedade e objetivo da nacionalidade brasileira.

Peixes pequenos ornamentam aquários. Peixes grandes, enchem oceanos. Em água doce ou salgada, há um aquário em cada balneário. No Brasil, dinheiro é a condição maior e compram oceanos, peixes, aquários e balneários incendiários.

Contrário das falácias da súcia do "deixa disso", que dizem que escola e educação são as entradas e saídas para o desenvolvimento, tanto econômico quanto social do país, não canso de afirmar que caráter, cultura refinada e nacionalidade são itens seríssimos na formação de um povo! Em tempo, quem não pensou, ou não se importou com a tragédia anunciada, certamente frequentou as melhores escolas do país; e oxalá, se não for diplomado exterior, afinal aqui, quem sabe inglês detém o poder da palavra final. Sinceramente, como a nacionalidade brasileira é safada; e o pior: amparada por título de nobreza, leis e família!

Rompimento de barragem e banho espiritual em águas densas de mar de lama, aprecie com moderação.

No mais, aguardemos pacientemente sentados confortavelmente na espreguiçadeira, de braços cruzados e novelando os dedos polegares um ao redor do outro, a próxima tragédia; pois como esperado, a maioria das barragens estão sob risco iminente de rompimento. Não obstante, segundo relatório sobre as barragens, a de Brumadinho estava em condições plenas e apta ao recebimento do material rejeitado. Impossível quem elaborou o relatório não saber que o resultado final é produto da competência, comprometimento e seriedade de quem executa a tarefa proposta por ele.

Valha-me, salve-me Deus da maldita lama que cega meus olhos; sobretudo, porque eu vim do pó seco da terra e para o pó seco da terra, sou prometido; e não para a liquidez do pó.

O que o poder econômico bem ou mal direcionado do mega ou ínfimo empreendimento faz? Sufoca o direito, compra opiniões e cala a boca dos que protestam. Sabendo-se que ninguém morre por ninguém, paremos de hipocrisia dissimulada e da pseudo sensibilidade empática; e fim de papo! Sobretudo, enquanto uma noite em hospital de ponta em São Paulo ou um implante dentário custa a bagatela de 5 mil reais, a Vale amarga pagará a fortuna milionária de 100 mil reais (aproximadamente 25 mil dólares) aos que se recusaram pintar a cara com a cor vermelha da lama química, obra de arte feita pelos artesões da engenharia brasileira.

P.S.: sigamos o séquito em direção ao cemitério, pois morre quem morre. Mas antes de finalizar o ato solene, façamos um minuto de silêncio e lancemos um botão de flor em homenagem aos que tiveram suas vidas ceifadas pela irresponsabilidade humana. Que o peso da lama lhes seja mais leve que os pecados cometidos em vida. Amém!

Contudo, contentem-se, contentem-se senhores, afinal, não há nada tão ruim que não fique pior. Sigam rigorosamente esse pensamento filosoficamente correto e dormirás bem, sossegado, tranquilo. Numa boa; pois a lama está muitas léguas, muitos quilômetros longe da casinha do seu cãozinho de estimação; e da casinha do meu bichano também.

Enquanto a lama não consome a respiração de minh'alma, escrevo uma efeméride em agradecimento a morte que não veio visitar-me:

Pela janela aberta,

Brisa leve em gorjeios de pássaros adentra,

Pena serena no branco do papel proseiam na Escrivaninha.

Respirar a liberdade de sobreviver responsavelmente, ainda é o grande mistério da existência humana.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 26/01/2019
Reeditado em 01/02/2019
Código do texto: T6559724
Classificação de conteúdo: seguro