INQUIETAÇÕES ACERCA DO INDIVÍDUO PÓS-MODERNO

Seja para melhorar a vida ou para se tornar melhor como pessoa, o ser humano passa sua existência buscando o conhecimento. Nesse processo evolutivo e sob a justificativa dessa necessidade primeira de “crescimento” individual e/ou amadurecimento pessoal, com o passar dos anos, quanto mais o indivíduo aprende, mais ele “se prende” (se isola) - pelo medo de se expor, de falhar, de ser julgado, etc., e o saber adquirido é, fatalmente, minado pelo egocentrismo manifestado em atitudes individualistas.

O filósofo Martin Heidegger em seus estudos sobre a existência humana - na segunda parte da obra O ser e o tempo (1927) faz uma análise aprofundada sobre o modo de ser dos sujeitos sociais contemporâneos, dividindo a existência do indivíduo no mundo em três partes: “o mundo em que o ser é, o quem que é no mundo, e o modo de ser - em si mesmo”. De acordo com a filosofia heideggeriana,

lançado ao mundo para cumprir sua existência, o homem

projeta-se em seus atos. Por isso, existir é projetar-se

continuamente, é fazer da vida sempre um projeto. Nesse

sentido, o ser humano [...] é um ente inacabado, um ser

em estado de carência que procura mascarar a angústia

que essa condição provoca (HEIDEGGUER, 1927; p.2).

Jean-Paul Sartre afirma que a existência precede a essência . Ou seja, primeiro o homem existe no mundo - e depois se realiza. Sob essa ótica, o indivíduo é o único responsável por suas ações e pelo que faz com sua vida.

Ora, “cumprir a existência” sugere entre outras coisas, principalmente, a necessidade de interagir socialmente, uma vez que sendo um ente inacabado, como observa Paulo Freire, o indivíduo se faz nas suas relações.

Então, se existe um consenso de maioria, que o conhecimento tem poder transformador e, se o indivíduo passa a vida inteira buscando a evolução por meio do saber científico, por que quanto mais à sociedade avança, muito mais o ser humano retroage em suas relações, mesmo tendo conhecimento da necessária interdependência à sobrevivência humana?

Por que se utiliza de experiências negativas vivenciadas para se “proteger do outro”, se aprende continuamente, que cada indivíduo é um ser distinto? E se ocupa seu tempo com a desconfiança, quando vai avançar positivamente nas relações?

E o mais importante: porque nos momentos oportunos de praticar a “empatia”, o “altruísmo”, o “amor ao próximo” que é propagado nos discursos diários, as pessoas, ainda que inconscientemente, optam por duvidar do outro - sem lhe permitir o benefício da dúvida - e preferem não pensar que, apesar das novas formas de comportamento provocados pela modernidade e da fluidez dos processos de convivência resultantes desse fenômeno, “talvez” ainda possa haver amizade, amor, pessoas sinceras e verdadeiras com quem vale a pena se relacionar e em quem se pode confiar – pelo menos até que provem que não merecem? Por que buscamos o isolamento social? Será que estamos voltando ao início?

Se almejamos melhorar como seres humanos, penso que é muito importante refletir sobre nossa capacidade de compreensão de nós e do outro. Até onde nos conhecemos? O que podemos esperar de nós mesmos? Como agimos, percebemos e compreendemos as outras pessoas? Será que antes das cobranças diárias, estamos permitindo ao outro conhecer quem somos?

É comum no nosso dia a dia, não admitirmos que alguém faça pré-julgamento de nossas atitudes - mas, geralmente, por razões diversas, nos fechamos para o mundo e não deixamos que o outro nos conheça. Pior que isso, não pensamos duas vezes, antes de formar um pensamento precipitado sobre alguém, que agiu de forma não esperada, em um determinado momento.

Quando somos empáticos, não significa que concordamos com a opinião da outra pessoa. Apenas buscamos respeitá-la e entendê-la da melhor forma, sem qualquer julgamento. É só uma questão de dar ao outro o que queremos receber. É fazer uso correto do conhecimento científico adquirido – e que acreditamos que poderá vir a melhorar às relações e o mundo.

Tudo é apenas, uma questão de aproximar mais os nossos discursos das nossas ações.

Maria Sonhadora
Enviado por Maria Sonhadora em 08/06/2019
Reeditado em 08/06/2019
Código do texto: T6668195
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