Os Generais: Linha Dura e Linha Moderada

Não foi bem assim.

Começa que os militares de altas patentes daquela época foram oriundos de ensino das Academias que ainda sentiam o arroto da Segunda Guerra e já visualizavam na pele a iminência de uma Terceira Guerra. Dessa maneira a sociedade prepara os seus soldados, para comerem fígado de alemão e depois lhes exigem se contentarem com canja.

Eu fiz parte intensivamente desta época, como militar subalterno. Trabalhei minha vida ativa praticamente na área de ensino. Formando militares para os diversos níveis da farda: soldados, cabos, sargentos e oficiais. Somente na área do oficialato foram nove anos formando alunos no Colégio Naval em Angra dos Reis. Por coincidência na época em que o Bolsonaro esteve na ativa do Exército (77-88).

Foi exatamente nessa década, bolsonárica, que houve a transição do regime dito de linha dura para o de linha moderada.

Logo no início da primeira década do regime militar, parcela considerável da sociedade intelectual recrudesceu, pegando o governo de surpresa. É quando o governo implanta o AI-5 para inibir tais “desvios ideológicos”. Principalmente no que concerne aos universitários.

Acontece que tal medida adentrou até aos quartéis, incidindo nos “militares universitários”. Eu fui uma das vítimas. À época eu era o único marinheiro do Brasil que fazia Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Para atenuar tal descalabro, o governo resolveu flexibilizar as Escolas Militares, ensinando também “ciências sociais” além dos rigores de guerras.

Como isso aconteceu nos meados da segunda – e última – década do Regime Militar, o Bolsonaro não era mais militar-aluno, mas militar-ativo. Daí o mesmo não ter passado por essa nova escolástica de flexibilização, mas saído inda com o modelo dito da linha dura.

Na verdade todas as patentes militares dessa época eram “linha dura”, o que mudou “às pressas” foi o currículo escolar das Academias.

No meu caso, fui um dos muitos “universitários militares” mandados para essas escolas; com o fito de ajudar os novos acadêmicos a “reaprender a fazer um dever de casa” mais adequado ao tipo da sociedade em que estavam inseridos.

Em detrimento da minha família, nunca consegui terminar meu curso universitário de Engenharia Elétrica. Recentemente fui chamado à UFPE para falar sobre tal assunto.

Edmilson N Soares
Enviado por Edmilson N Soares em 29/08/2019
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