OS BONS FRUTOS, DAS PEQUENAS BOAS ATITUDES

*Por Herick Limoni

É praticamente inegável que a vida nas grandes cidades está mais corrida - desconfio que o mesmo fenômeno ocorre também nas pequenas -, mais agitada, frenética e, talvez por isso, mais impessoal. A sensação é de que o tempo, aquela figura abstrata e inexorável que escorre pelas nossas mãos tal qual os grãos de areia de uma ampulheta, e que não importa o que se faça, não volta, engatou a quinta marcha na freeway do destino. E em meio a toda essa correria estamos nós, sentados no banco do carona a apreciar as paisagens, à espera de que a viagem não seja muito curta, cientes de que nos é impossível saber quando a jornada terminará, mas que, a depender do que fizermos no percurso, poderemos ter ideia de para onde estamos indo.

Nessa loucura que se tornaram os nossos dias, pouco ou quase nenhum espaço nos tem sobrado para alguns pequenos prazeres, tais como passear com o animal de estimação, dedicar tempo e atenção às conversas com aqueles que nos são caros, tomar um café despretensioso na casa de um vizinho, etc. A falta de tempo, ou a desculpa de, tem-nos impedido de viver esses e outros momentos, tão essenciais para o bem-estar dos que vivem em comunidade, pois o homem é, antes de tudo, um ser social (Marx).

Apesar da vida corrida, algumas atitudes podem nos aliviar um pouco o peso da culpa pela falta, ou alegada falta de tempo. São pequenos gestos, pequenas ações que, se praticadas, têm o poder transformador de nos fazer sentir menos pesados, enlevar nossa alma e aquecer nosso coração. No Brasil há uma subcultura da malandragem, do levar vantagem, do ganhar sempre, ainda que isso, invariavelmente, tenha como contrapartida prejudicar alguém. E infelizmente isso não é algo fácil de se mudar, pois praticamente se tornou um traço característico de nossa miscigenada sociedade (uma aparente contradição). Estaríamos nós, então, condenados a viver essa vida mesquinha, essa existência de trapaças, de golpes, abreviando ainda mais nossa jornada em direção ao inferno??? Definitivamente, não.

Há algum tempo - admito que deveras demasiado - procurei adotar algumas pequenas atitudes que, para além de fazer bem ao outro, têm feito um bem enorme para mim. Como acredito que elas podem ser-lhes também úteis, descrevo alguns exemplos:

- Dar bom dia a pessoas desconhecidas, principalmente aquelas que executam tarefas menos valorizadas;

- Respeitar as vagas de estacionamento destinadas aos idosos e deficientes físicos;

- Ser mais tolerante no trânsito;

- Respeitar filas;

- Ceder lugar aos mais idosos, deficientes e gestantes;

- Tratar as pessoas com a máxima cordialidade possível;

Não há fórmula mágica. Fazer o bem contagia, seja pelo sorriso recebido, pelas palavras de agradecimento ou, em último caso, pela oportunidade de demonstrar amor ao próximo, em cumprimento ao mandamus das Sagradas Escrituras.

E ainda que ajas assim, ser-lhe-ei sincero: não há garantias de que a sua viagem será mais longa, ou que o destino será o desejado. Mas uma coisa, uma única coisa posso lhe garantir: a viagem de ambos, você e o seu semelhante, ficará mais leve, tal como a do pecador que, na solidão e silêncio de suas orações, alivia o peso da alma através do exercício da contrição.

*Bacharel e Mestre em Administração de Empresas