Dinheiro: o deus dos homens

Se apresentarmos para uma criança (que ainda não sabe o valor das notas de dinheiro) uma nota de R$100,00 e perguntarmos o valor daquela nota, certamente ela falará um número aleatório. A inocência das crianças me encanta ao mesmo tempo que me surpreende quando conferimos um valor para um simples pedaço de papel. Por que damos tanto valor a esses pedaços de papéis e até guerreamos e matamos uns aos outros por eles? Se pararmos para pensar, o valor que empregamos às notas de dinheiro é pura fantasia, ou seja, o dinheiro não é uma realidade material é uma construção psicológica. Podemos trocar uma mansão por alguns milhões de notas de dinheiro, pois acreditamos e confiamos que os papéis de dinheiro têm um valor. Portanto, a confiança é a matéria-prima com que todos os tipos de dinheiro são caracterizados. Será, então, que vivemos naquilo que podemos chamar de “o mundo encantado do capitalismo”?

De fato, estamos presos por este encantamento, precisamos consumir para a nossa subsistência e nossa moeda de troca é o dinheiro. Estudamos, trabalhamos, sonhamos, apostamos e até rezamos por ele. O dinheiro foi uma criação do homem e hoje ele é soberano em nossas vidas como um deus. Em pleno século XXI, repulsamos qualquer forma de escravidão e defendemos a forma do homem como ser livre, mas será que somos totalmente livres? Definitivamente, não! Da mesma forma que fantasiamos valores para pedaços de papel existem correntes imaginárias prendendo nossos pés; são as correntes da ganância, do poder, do desejo de ter mais e mais.

Não obstante, existe outro Deus (se é outra invenção do homem, não me cabe opinar, no momento) que prega não o consumismo, mas sim um outro substantivo abstrato: o amor. Esse Deus afirma que o amor, por definição, é livre e gratuito, o amor não pode ser uma obrigação. Por isso, Ele permite a nossa liberdade de amá-lo ou não, pois, quanto mais livres somos mais responsabilidades temos. Desse modo, é preferível um deus que oprime e obriga pois somos seres falíveis, não gostamos de responsabilidades e de comprometimentos, optamos por alguém que faça por nós.

Analisando o contexto histórico da humanidade, tudo gira em torno daquilo que atribuímos um grande valor. Os nativos das américas, por exemplo, na época das grandes explorações, não compreendiam o porquê os colonizadores dedicavam tanta importância para um metal dourado. Da mesma forma, os diamantes são considerados preciosos porque são pedras raras de serem encontradas na natureza e, por isso, o homem atribui, nessa pedra, os mais diversos valores: financeiro, sentimental, poder, riqueza, status. Entretanto, se o valor atribuído a essa pedra advém da sua raridade, por que então cada ser humano, na sua particularidade, sendo um ser único, não tem um valor alto? O valor do homem vem do que ele tem e não do que ele é. Novamente, a nossa ignorância sobrepõe a nossa inteligência.

A ciência é fruto da nossa inteligência, no entanto, infelizmente, até a ciência é escrava do dinheiro. O professor Harari, em seu livro Sapiens, afirma que toda ciência financiada pelos países só teve um único propósito: a de obter mais poder para o país diante das outras nações. O bem estar do povo sempre esteve em segundo plano. A essa altura já poderíamos estar passeando em Marte ou já teríamos descoberto a cura do câncer se o poder não fosse um dos discípulos do dinheiro.

Lamentavelmente, viveremos eternamente nesse mar revolto do capitalismo e de suas imposições consumistas; entretanto, cabe a cada um de nós determinar e se questionar: qual Deus deve imperar?

Narrira Campos
Enviado por Narrira Campos em 10/04/2020
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