ESCREVER NÃO É DIFÍCIL

Prólogo

O tema deste escrito é facilmente compreensível. Faço uma afirmação que não deixa nenhuma dúvida: Escrever é fácil. O complicado é ser lido, interpretado positivamente e compreendido por leitores num país onde tudo é engraçado e assuntos sérios se transformam em piadas sem graça.

OS MAUS E OS BONS EXEMPLOS

Claro que algumas piadas são, de fato, hilárias. Não faz muito tempo que o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub cometeu um execrável erro na grafia de uma palavra simples.

No "Twitter" o supracitado apedeuta escreveu "imprecionante" — (SIC) em substituição a palavra correta impressionante. Outrora o mesmo cidadão cometeu outras sandices gramaticais não menos gravosas e/ou vexatórias.

Pergunto: É esse o exemplo que nós, eternos aprendizes, temos que seguir? Não creio. Não aconselho. Cuidemos-nos e também das nossas crianças, filhos, netos e bisnetos estudando e corrigindo pelo denodo proficiente.

O momento é propício às manifestações verbais ou escritas, tais quais as minhas, por dois simples motivos: Não há senso crítico positivo e inexiste uma política pública séria de incentivo à criatividade, à cultura, ao progresso de quem se atreva a aprender, ensinar e escrever.

A DIFICULDADE É DE QUEM VAI LER

O ato ou ação de escrever é fácil, mas quantos dos incipientes escritores estão dispostos a trabalhar duro para fazerem seus textos serem lidos com os olhos críticos do melhor siso?

Fazendo seus escritos serem compreendidos até nas entrelinhas? Dedicar tempo, lutar contra os fantasmas e paradigmas, se fazerem entender nas suas pretensões, às vezes, não tão claras pela riqueza do vocabulário utilizado?

A escrita é como uma arma que precisa ser forjada no cadinho da crença do próprio escritor. Quem escreve ensina porque aprendeu com leituras variadas a melhor lição em forma de refrão: Leia mais. Estude mais. Consulte dicionários. Não se preocupe com as indiferenças, aplausos ou pedradas em forma de críticas negativas que provavelmente receberá.

Desconfie da possível clareza de uma frase. Ali poderá existir uma valiosa orientação, um ensinamento proveitoso, mas também uma aberração (teratologia) literária que ensejará uma interpretação dúbia. Escreva mais vezes. Urda qualquer ideia e ponha no papel e será cada vez melhor.

A entrega para a escrita é muito maior do que podemos calcular e deve ser vista como um projeto de vida. Para muitos é difícil escrever porque se preocupam com quem irá ler suas palavras, frases e parágrafos. Para mim, mesmo que pareça fácil, uso de uma lógica talvez egoísta, mas que funciona perfeitamente. Escrevo, inicialmente, para mim!

O RESPEITO AO LEITOR

Embora eu respeite o notável leitor cortês e generoso... Escrevo mais para minha satisfação pessoal e como terapia ocupacional. Tendo o texto pronto e lapidado com uma criteriosa revisão das ideias colocadas no papel, não me intimido com erros materiais porque esses lapsos não mostram ao leitor o trabalho realizado durante a execução.

Fui capaz de compreender até a pergunta inocente ou capciosa de uma leitora quando outrora me indagou “Qual o significado da palavra ‘prólogo’ que você sempre usa no início dos seus textos?”.

Faço isso como identidade pessoal. Uma marca registrada no meu cartório de ideias, mas na ocasião ensinei o que a notável leitora poderia ter pesquisado num dicionário, na web, ou mesmo descoberto por dedução lógica: O prólogo é normalmente encontrado no início de alguns livros. Seu papel é descrever a cena que antecede a leitura da história.

Assim como o prólogo, o prefácio pode ser encontrado no início de um texto ou livro. É uma opinião sobre a obra, dizendo o que o leitor pode encontrar no que se dispôs a ler. Já o epílogo é utilizado para finalizar a narração, acrescentando algo ou algum acontecimento depois da história, como o destino de alguns personagens.

Na terceira e última fase do meu mais recente texto ficcional, publicado no Recanto das letras, cujo tema foi: “MÃOS FRIAS QUE AQUECI” o epílogo está cristalino nas três últimas linhas do texto:

“Luzia agora poderá dizer para si nos sonhos coloridos do porvir: “As mãos frias que aqueci deixaram em meu corpo as marcas que eu sempre quis com extremado prazer.””.

OS CONFLITOS DO APRENDIZ DE ESCRITOR

Diversos são os conflitos que invadem a mente de quem se aventura a escrever. A organização do tempo, as interrupções alheias a sua vontade (meu neto adora me interromper quando me pergunta se 'jia' se escreve com "g" ou "j" ou se 'macaxeira' deve ser escrita com "x" ou "ch").

Há, ainda, a insegurança com as interpretações esconsas de suas ideias que se transmudaram em palavras, o medo da vulgaridade, a preguiça e o cansaço são alguns dos inúmeros fatores constantes no dia a dia.

E para você que pretende um dia escrever algumas de suas ideias, seus casos memoráveis e viagens saiba dessa verdade: O melhor e mais fiel entendedor de seus escritos será você mesmo. Tudo o mais será ilação ou reflexo de quem pensa diferente ou é tendencioso a crer apenas em si mesmo. Isso, essa leviandade, não deverá ser motivo para seu desengano.

Em outras palavras, só você saberá o porquê de escolher cada uma das palavras do seu texto, os motivos pelos quais articulou frases trocando os nomes dos personagens como sempre faço em respeito aos meus afetos. Tudo parecerá estar no lugar planejado, transferido da sua mente febril, às vezes, insana para o papel.

A SATISFAÇÃO PESSOAL DE QUEM ESCREVE

Quem escreve, em quaisquer estilos, sabe que a satisfação de escrever é poder ser lido, talvez, por centenas de milhões de pessoas! E, pasmem, mas acreditem: Os leitores pensam totalmente diferente de quem escreve. Por isso, há mais um reforço na dificuldade técnica da escrita, que é, basicamente, de se fazer entender sem distorções ou interpretações espúrias. Mas isso é de somenos importância.

Quem escreve não deve se preocupar com interpretações ilegais dos escritos. No entanto, ao escrever sobre um anseio real ou hipotético, ficcional ou verdadeiro, sexual ou científico você poderá ser visto como um tarado, devasso e/ou inconsequente.

Trata-se, nesses casos, de um comportamento compulsivo e obsessivo não do escritor, mas de quem distorceu seu escrito sob a ótica de uma visão hipócrita e mesquinha.

O SEGREDO PARA A ESCRITA DE UM BOM TEXTO

O bom texto precisa ser conciso, coeso e revisado – só para começar: Com muitas e boas leituras; consultas aos dicionários e treinos, o candidato a escritor conhecerá e desenvolverá seu estilo e ganhará cada vez mais segurança na abordagem de assuntos diversos.

Excelentes escritores do passado e de hoje já foram considerados desequilibrados, obsessivos ou compulsivos à luxúria. Suas resiliências os fizeram vencedores. Posso escrever que estou na fase do aprendizado a duras penas impostas pelo senso crítico pessoal.

Um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos, Jorge Amado, não se preocupava com os erros gramaticais que cometia. Sempre que podia ele afirmava com segurança: "O importante é a ideia. Escrevo o que tenho em mente e a correção será feita pelos editores e revisores.". — (SIC).

Comparando sem pormenores, isto é, grosso modo, eu também sou assim... No que escrevo sempre dei plena liberdade para meus leitores me ensinarem e corrigirem meus involuntários erros. Sempre ensino a desconfiarem de quem pensa saber de tudo. Todos nós, sem exceção, somos limitados e controlados por nossos conhecimentos e emoções.

CONCLUSÃO

Em tudo que se faz é preciso ter satisfação pessoal. A competência se consegue com muito treino e dedicação recalcitrante. Você pode até escrever bobagens, à luz do entendimento das outras pessoas, mas se o que escrever lhe fizer feliz, sedimentando conhecimentos e superando sua insegurança, já será um pequeno passo para o progresso.

Um dia, quem sabe, alcançarei o nível de Ruy Barbosa de Oliveira, Edgard Allan Poe, Ernest Miller Hemingway, Oscar Wilde, Fiódor Dostoiévski, Érico Veríssimo, Augusto dos Anjos, Paulo Coelho, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Machado de Assis, Clarice Lispector, José de Alencar, José Saramago, Franz Kafka, Gabriel García Márquez, Agatha Christie, Fernando Pessoa, Graciliano Ramos e tantos outros monstros sagrados da literatura universal.

Sou pretensioso e atrevido em demasia? Sim. Sou, mas também sou resiliente e acredito no que Ruy Barbosa escreveu: “Quem não luta pelos seus direitos não é digno deles.” — (SIC).

Eu tenho o sagrado direito de escrever meus devaneios porque acredito no potencial e positividades que emergem dos meus sonhos coloridos e entendo que ESCREVER NÃO É DIFÍCIL.