OBJETO DIRETO E O PRONOME OBLÍQUO “LHE”

Prólogo

Quero dedicar este artigo aos profissionais da educação (professores, mestres e afins); aos estudantes; aos pais que, com paciência, esmero e amor educam seus filhos (as); aos autodidatas recalcitrantes e resilientes iguais a mim.

Nem tão cedo eu pretendia escrever sobre algo que os meus milhares de leitores poderão, caso queiram, ler em quaisquer gramáticas do idioma português. Todavia, por um comentário de um leitor, feito em um texto totalmente divergente do assunto pronome oblíquo, fui instado a urdir este escrito.

Na conclusão do texto “PREFIXO DES- OU DIS-?”, publicado no Recanto das Letras, no endereço:

https://www.recantodasletras.com.br/gramatica/5410287 eu escrevi:

“Sobre a palavra prefixo é de bom grado escrever que, anteposto a uma palavra, lhe altera e, às vezes, lhe reforça o sentido.” — (SIC). Ocorre que o respeitável leitor (não autenticado), isto é, sem cadastro no Recanto das Letras, identificado com o nome de “Matos” fez um comentário à guisa de crítica.

EIS ABAIXO O COMENTÁRIO DO LEITOR:

28/08/2020 00:53 — Matos [não autenticado]

“Com a devida vênia, discordo. Se o verbo é transitivo direto, o pronome LHE é inadmissível, mesmo na poesia tal deslize é repudiado... “. — (SIC).

SOBRE O PRONOME OBLÍQUO “LHE”

O leitor está coberto de razão! O pronome oblíquo “LHE”, no idioma português, pertence a uma das seis classes gramaticais variáveis (substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome e verbo). As demais classes gramaticais invariáveis são: Advérbio, preposição, conjunção e interjeição.

Portanto, de forma predominante, o “LHE” corresponde a “a ele” ou “a ela” sendo inadmissível sua utilização quando funciona sintaticamente como objeto direto. Ou seja: Se o verbo da frase é transitivo direto o pronome oblíquo “LHE” será proibido sua utilização! Vejamos os exemplos:

1. Luzia é uma excelente professora. Deram-lhe um salário justo. — Neste exemplo o “lhe” corresponde a ela (Luzia) e sintaticamente funciona como objeto indireto.

2. Henrique é um homem honesto, carismático e leal. Deram-lhe uma função de confiança. — Neste exemplo o “lhe” corresponde a ele (Henrique). Observamos que o "lhe" funciona também como objeto indireto.

A FRASE QUE SUSCITOU A CRÍTICA DO LEITOR MATOS

Eu escrevi num texto já referenciado: “Sobre a palavra prefixo é de bom grado escrever que, anteposto a uma palavra, lhe altera e, às vezes, lhe reforça o sentido.” — (SIC).

Certamente o leitor ao fazer a crítica de minha frase se baseou nos verbos “altera” e “reforça” antecedidos pelo “lhe”. Ora, alterar e reforçar são verbos transitivos diretos! Em tese eu não poderia usar, em hipótese nenhuma, o pronome oblíquo “lhe” antecedendo esses verbos.

Contudo, em minha escrita, salvo outro juízo, escrevi de forma correta por uma simples razão: Embora os verbos “altera” e “reforça” sejam transitivos diretos os pronomes “lhe” que lhes antecedem funcionam como uma segunda classificação sintática chamada (adjunto adnominal do objeto direto) sendo que os objetos diretos completos são: ‘altera o sentido’ e ‘reforça o sentido’.

Esse é o “pulo do gato” para quem, igual a mim queira aprender um pouco mais. Vale lembrar que o adjunto adnominal é o termo acessório da oração que acompanha o nome a fim de caracterizá-lo, individualizá-lo ou determiná-lo.

EXEMPLOS DO “LHE” COMO ADJUNTO ADNOMINAL DO OBJETO DIRETO

Os pronomes oblíquos átonos: me, te, lhe, nos, vos, lhes podem exercer a função sintática de adjunto adnominal mesmo quando antepostos a um verbo transitivo direto. Isso acontecerá quando houver indicação de posse: algo de alguém. Exemplos:

1. Louco de paixão Henrique disse a Luzia: “Se quiser, beijo-lhe os pés” — Neste exemplo Henrique poderia ter dito: “Se quiser beijo os seus pés”. Observamos que o verbo beijar é transitivo direto. Façamos a pergunta: Beijar o quê? Os pés!

2. Entre cochichos, na delegacia de roubos e furtos, os policiais comentavam: “Roubaram-lhes os documentos”. Roubar é um verbo transitivo direto. Leia a resposta à pergunta: Roubaram o quê? Roubaram os documentos deles.

3. O mensageiro disse ofegante: “O estuprador foi preso. E a turba enfurecida gritava: Cortem-lhe a cabeça!” — Neste caso o “lhe” não funciona como objeto indireto, mas sim, por poder ser substituído pelo pronome possessivo ‘sua’ passa a exercer a segunda classificação sintática chamada ADJUNTO ADNOMINAL DO OBJETO DIRETO.

CONCLUSÃO

Os adjuntos adnominais são termos acessórios (secundários) que ficam ao redor de um substantivo. Vejamos o exemplo: “Ontem eu sonhei com Luzia.”. Se eu quisesse caracterizar, por exemplo, o substantivo "Luzia", eu poderia acrescentar adjuntos adnominais ao redor dela e a frase ficaria assim: “Ontem eu sonhei com Luzia sorridente, perfumada e carinhosa”.

As palavras: ‘sorridente’, ‘perfumada’ e ‘carinhosa’ são adjuntos adnominais ou acessórios que, se retirados da frase principal a oração continuaria fazendo sentido, isto é, por serem acessórios os adjuntos adnominais podem ser removidos sem prejuízo na compreensão da frase principal.

Enfim, em outras palavras, adjunto adnominal consiste em um termo da oração que sempre faz referência a um substantivo que atua como núcleo de um termo, com o objetivo de determiná-lo, indeterminá-lo ou caracterizá-lo. O adjunto adnominal recebe essa classificação justamente por referir-se aos substantivos, classe de palavras que dá nome aos seres.

Vejamos essa beleza de exemplo com o uso de cinco adjuntos adnominais numa só frase:

“Os dois primeiros classificados disputarão a medalha de ouro.”

ANÁLISE SINTÁTICA DA ORAÇÃO

Os = adj. adnominal

dois = adj. adnominal

primeiros = adj. adnominal

classificados = substantivo que atua como núcleo do sujeito

disputarão = verbo transitivo direto e bitransitivo (fazer parte de uma competição esportiva)

a = adj. adnominal

medalha = substantivo que atua como núcleo do objeto direto

de ouro = adj. Adnominal

Desde o momento em que nascemos, estamos em constante aprendizado. Aprendemos (nem todos) quem realmente somos, o que desejamos e como queremos viver nossa vida. Assim pensando resolvi concluir este trabalho escrevendo que aprender é descobrir aquilo que você já sabe e ensinar é lembrar aos outros que eles poderão, se quiserem, saber tanto quanto você.

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NOTAS REFERENCIADAS

– Textos livres da Imprensa Brasileira para consulta;

– Assertivas do autor que devem ser consideradas circunstanciais e imparciais.