A VERDADE NÃO É FÁCIL E INCOMODA — 1ª FASE

Prólogo

Por haver escrito um texto demasiado longo, para facilitar o entendimento, depois de uma criteriosa revisão resolvi dividir este escrito em três fases. Espero contar com a compreensão dos diletos leitores.

Nesta narração há o descortinar de uma sórdida conspiração e verdades iluminadas pelas virtudes teologais, disciplina, tenacidade e denodo sem precipitação. Outrossim, cumpre salientar com responsabilidade, respeito e comedimento com os envolvidos e com o emergir das verdades lastradas em provas irrefutáveis.

UMA NARRAÇÃO VERDADEIRA

Nunca existiu e tampouco existirá, por parte deste autor, um riacho, rio ou mar de invencionices maldosas ou estéreis. Este escrito não se baseia em devaneios para eternizar ressentimentos e leviandades que ferissem de morte os propósitos de pessoas já desencarnadas ou outras, ainda, em plena sofrida provação terrena.

Este texto não interessa apenas aos militares da ativa ou da reserva das Forças Armadas. Interessa sobretudo aos amigos que, às vezes, à boa-fé ou por conveniências pessoais, familiares e/ou funcionais, permanecem alheios ou indiferentes aos abusos de poder.

NEM SEMPRE É CONVENIENTE DIZER E/OU ESCREVER A VERDADE

Se você é um trabalhador, subordinado às regras, instruções normativas de determinada instituição ou Normas Gerais de Ação (NGA), pessoa do bem que valoriza seu emprego e função exercida com denodo e proficiência... Certamente gostará de saber que, ser verdadeiro ou dizer e escrever a verdade não é fácil e incomoda.

A COMPROVAÇÃO DE UM DESVIO DE CONDUTA

O sargento observou e comprovou um grave desvio de conduta do Oficial Aprovisionador do Batalhão. Quem fiscaliza e/ou recebe os gêneros perecíveis, FORA DO EXPEDIENTE, é o Oficial-de-Dia, mas ao Sargento Adjunto, às 04h:25min, de uma madrugada fria e chuvosa, foi transferida essa responsabilidade.

É dever do Oficial-de-Dia: "Assistir ao recebimento de todo o material que entre no quartel fora das horas de expediente e, a qualquer hora, a distribuição de víveres e forragem”; – (Fl 55 do Regulamento Interno e dos Serviços Gerais - RISG).

O entregador dos gêneros (carnes, aves, frutas, verduras e pães) disse: “O senhor está contando e pesando o material, mas devo lhe dizer que isso nem sempre é feito. Essa forma de receber os gêneros vai atrasar meu expediente. Portanto, é bom saber uma verdade. Parte desse material, cerca de dez a quinze por cento, já foi entregue ontem na casa do Primeiro Tenente xxxxxx (nome omitido por questão de ética)” – (SIC).

O DIÁLOGO ESCLARECEDOR

— Há quanto tempo isso está sendo praticado, isto é, entregue dessa maneira? – Perguntou muito calmo e experiente Sargento Adjunto.

— Isso tem sido feito há mais de oito meses... Desde que assumi este atual emprego.

— Além do senhor... Alguém mais sabe disso?

— Sim. O Primeiro Tenente xxxxxx (nome omitido pelo Autor) deste quartel, o fornecedor e mais dois outros entregadores. — O Experiente sargento a tudo anotava e fez mais. Chamou o sargento xxxxxxx (nome omitido por questão de ética), Comandante da Guarda, para testemunhar o ilícito (falcatrua e desvio de conduta), mas antes disse para: “a ninguém contar o ocorrido” porque sabia a gravidade do caso.

Antes da realização da Parada Diária e passagem do serviço o Sargento Adjunto transcreveu no Livro de Ocorrências o desvio de gêneros testemunhado e confirmado. É tarefa do Adj organizar e escriturar os papéis relativos ao serviço, de modo que, uma hora depois da Parada, no máximo, estejam concluídos e à disposição do SCmt U e Fiscal Administrativo da Unidade.

A IMPLACÁVEL PERSEGUIÇÃO

Depois desse desagradável episódio o sargento que cumpriu seu dever passou a ser perseguido pelos colegas do Oficial Aprovisionador e alguns graduados comparsas seriam aliciados para a consecução desse maldoso propósito.

"Vamos ficar de atalaia! As ações, omissões e pequenos lapsos desse indiscreto militar devem ser observados. Mais cedo ou mais tarde encontraremos um meio de puni-lo, no mínimo com duas prisões em um ano (dessa forma o comportamento do militar cairia do "excepcional" para "mau". — N. do Autor.), com o maior rigor possível, de preferência enquadrando-o no nº 2, do artigo 13, do RDE.".

UMA EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA

(com esse enquadramento a punição aplicada jamais poderia ser cancelada. — N. do Autor.)— Pronto! O destino do graduado e "bode expiatório" estava sacramentado! Ele não sabia que falar ou escrever a verdade lhe causaria tantos transtornos.

Ora, uma punição cujo enquadramento afete a honra pessoal, o pundonor militar, o decoro da classe e outras prescrições estabelecidas no Estatuto dos Militares (nº 2, do artigo 13, do RDE) não poderá ser cancelada. Por conseguinte, o militar punido com esse maldoso e cruel rigor, em tese, jamais alcançaria o oficialato cuja promoção é sempre por merecimento.

Detalhe: Nas promoções POR MERECIMENTO, antes de ingressar no Quadro de Acesso às Promoções, há uma rigorosa auditagem nas alterações (assentamentos) do candidato à promoção. Nesse trabalho procuram-se punições graves e que desabonam e desclassificam o militar punido para uma promoção.

A SANHA INOMINÁVEL

Enfim, depois de excessos, observações, maquinações e cobranças indevidas os algozes conseguiram seus intentos. Em setembro de 1983, depois de quase 15 anos de profícuos e proficientes serviços prestados à Pátria, conseguiram enquadrar o brioso graduado no nº 40 (haveria que ser no nº 41), do Anexo I e nº 2, do artigo 13, tudo do RDE.

OBSERVAÇÃO NECESSÁRIA

O militar em questão era sim para ser punido e enquadrado no nº 41, do Anexo I, do RDE. Isso não está em discussão. O que ora se evidencia é o fato de ao graduado não haver sido dada a oportunidade de se explicar (Princípio do contraditório), o erro no enquadramento na aplicação da punição e o excesso que caracterizou ressentimento, rancor e sobretudo incompetência funcional do comandante, Oficial S/1 e seus assessores.

A DESDITOSA REUNIÃO

A corneta tocou reunião de ST/Sgt. Alguns sabiam do assunto a ser tratado, menos o sargento que, sem ser previamente ouvido, foi surpreendido e rigorosamente punido com 15 (quinze) dias de prisão! Nessa punição houve intensificação desnecessária, consciente e proposital estribada em grosseiro erro de enquadramento à luz do que preestabelece o RDE.

A surpresa foi tão medonha que o injustiçado não se considerou punido nem ofendido, pois para ele — que se encontrava como se estivesse totalmente anestesiado e surpreendido — tudo não passava de uma farsa e trama envolvendo o comandante bufão, outros oficiais e até seus pares.

A PRIMEIRA PROVA DO RESSENTIMENTO E ABUSO

Passados três dos quinze dias da excessiva pena imposta, o burlesco e caricato comandante encontrou o sargento punido no pátio da OM e, na ausência de testemunha, disse a risível frase ao militar tranquilo: "Estou preocupado com o seu silêncio. Você foi apenas um "bode expiatório.". — O disciplinado praça permaneceu em silêncio, mas prestando uma vigorosa continência.

A sanha continuaria porque mesmo depois da mudança de comando as fichas de conceitos, os desvirtuados informes e perseguições seriam recrudescidas. O pior? O sargento não foi (estava) preparado para esse acontecimento tão maldosamente urdido.

Afinal, era cogente "comer a conduta" (jargão militar. N. do Autor.) do graduado "falastrão". Ah! Mas o intrépido sargento, injustiçado e perseguido, à época considerado atrevido e indiscreto, recebeu uma ajuda inefável e palavra amiga de um único companheiro que, por conveniência funcional, disse entredentes:

“Os cães ladram, mas a caravana passa”. Esse amigo, hoje na reserva remunerada, é um homem de bem. Mas para enfrentar o sofrimento e a perseguição é preciso não desfalecer, isto é, não enfraquecer. Era preciso muito mais do que esperar a "caravana passar enquanto os cães ladravam". Era necessário procurar outra OM para servir, reverter o prejuízo e prosseguir rumo ao progresso.

EXPLICANDO O PROVÉRBIO ÁRABE:

“Os cães ladram, mas a caravana passa”.

Os cães latem, esperneiam, protestam por haverem sido perturbados em seus canhestros e escusos propósitos, mas a caravana ignora a existência deles ou de suas queixas. A caravana tem um ideal proficiente que não pode se curvar à vontade de nada ou de ninguém que esteja em seu caminho.

Os cães simbolizam os invejosos com seus esgares tristes e ferozes tais quais das hienas famintas sorridentes. A caravana representa a superioridade do indivíduo que segue a vida ignorando os "latidos" dos incapazes, frutos apodrecidos ou em processo de decomposição.

Enfim, a expressão indica que o falante não vai mudar sua conduta, pois considera a crítica como hostilidade insignificante, inócua (que não causa dano moral, psicológico ou afim; improvável de causar ofensa moral).

A VERDADE NÃO É FÁCIL E INCOMODA

A verdade é cruel e dolorosa ao retirar o escudo fraco que cobre mentiras e desvios de conduta de quem quer que seja. Muitas vezes de forma inconsciente ou mesmo por instinto de sobrevivência mentimos ou nos omitimos para encobrir erros e proteger criminosos travestidos de autoridades.

Profissionalíssimo, o sargento xxxxxx (nome não mencionado por questão de ética) aprendeu a duras penas que a verdade não é fácil e incomoda os culpados, mas ele NÃO SE OMITIU! Ele nunca foi omisso porque sabia que discrição não se confunde com vista grossa ou conivência!

Nossa covardia ou medo em aceitar e seguir a verdade nos paralisa a ponto de aceitar máscaras e engodos que não devem se transformar em um hábito. Precisamos ter consciência de que estamos “disfarçando” o medo de dizer e difundir a verdade. “E conhecereis a verdade e ela vos libertará” — (João 8-32).

Eu, WILSON MUNIZ PEREIRA, autor deste necessário e esclarecedor texto, afirmo: a verdade sempre me fez crescer, mesmo ante alguns tropeços durante a juventude. Acredito que só depende de mim, de minha reforma íntima, da minha postura otimista e positiva diante dos fatos da vida para poder usufruir momentos verdadeiramente felizes.

OBSERVAÇÃO: Este texto terá continuidade na 2ª FASE.

https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-sociedade/7157230