A FALTA DE CRIATIVIDADE NAS MENSAGENS NATALINAS

Prólogo

CRIATIVIDADE — Os intelectuais dizem e escrevem: "um produto ou resposta serão julgados como criativos na extensão em que a) são novos e apropriados, úteis ou de valor para uma tarefa e b) a tarefa é heurística e não algorística". Alguém entendeu essa definição? Ora, é muito mais fácil escrever que CRIATIVIDADE é algo eminentemente original e único.

Por que estou escrevendo sobre a falta de criatividade nas mensagens natalinas e/ou de felicitações diversas? Isso é fácil de explicar. É que eu recebi um comentário ORIGINAL sobre um dos meus mais recentes escritos publicado no Recanto das Letras. Eis a mensagem abaixo transcrita “Ipsis litteris”:

“28/12/2020 10:05 - Silvia Maria [não autenticado*]”

“Bom dia professor Wilson. Fiquei meio envergonhada depois que li sua mensagem "DE AGRADECIMENTO POR GRATIDÃO". Fiquei envergonhada porque copiei da internet vários cartões natalinos com mensagens tipo clichê, repetitivas e sem originalidade para enviar para minhas amigas e amigos via Facebook, WhatsApp e Instagram. Quase todo mundo faz isso, mas você, além de dar conselhos aos concurseiros, deu uma demonstração de criatividade cultural e educação originais. Parabéns. Beijos. Obrigada e Feliz Ano Novo!”

“Para o texto: UMA MENSAGEM DE AGRADECIMENTO POR GRATIDÃO (T7145133)” — (SIC).

SOU DO TEMPO DO “ASDFGHJKLÇ”

Ainda hoje guardo comigo o diploma de datilografia. Sou datilógrafo! Iguais aos datilógrafos das antigas hoje os digitadores sabem o significado do “asdfghjklç”. Outrora não existia o computador, celular e tampouco o Google. Portanto, a originalidade era mais presencial nos textos, cartas, ofícios, telegramas, mensagens, bilhetes e outros documentos correlatos.

Quando nós datilógrafos cometíamos algum erro havia uma tinta mágica chamada corretivo líquido (português brasileiro) ou corretor líquido (português europeu) à base de água para sanar o lapso. É um material escolar usado por muitos alunos para esconder erros passados ou escritos a tinta, geralmente adaptados para o papel. Também existe a fita corretiva. O corretivo líquido pode ser encontrado em minipotes, caneta ou em fita.

OS CARTÕES NATALINOS DE OUTRORA

Os cartões natalinos eram impressos coloridos, depois surgiram os cartões iluminados e musicados, sempre com as simbólicas imagens de uma árvore, uma manjedoura tendo carneirinhos pastando em volta; havia fogueira e uma criança sorridente de bochechas rosadas.

Também existiam cartões com o bondoso velhinho Papai Noel em sua carruagem colorida. No rodapé do cartão o clichê: “Feliz Natal e Próspero Ano Novo!”. Nesse tempo os Correios eram eficientes, não entravam em greve, e recebíamos em tempo hábil a graciosa mensagem.

É claro que sempre havia o risco de se receberem cartões iguais, com frases semelhantes e assinaturas diferentes. As papelarias vendiam centenas de milhares de cartões iguais para pessoas indiferentes às criatividade e originalidade.

EXERCENDO A CRIATIVIDADE

Para conseguir ser original era necessário fazer à mão o cartão ou mensagem natalina para enviar para meus notáveis amigos (Eu fazia isso e os imprimia em uma impressora matricial). Sempre gostei de exercer essa criatividade original!

O tempo mudou. As pessoas também mudam. A tecnologia avançou para facilitar a vida de todos, mas a originalidade acabou! Os computadores de mesa, tabletes e celulares, com seus eficientes teclados físicos e/ou virtuais existem, mas as letras “asdfghjklç” são pouco utilizadas.

Existem cartões com mensagens prontas, previamente formatadas. Nisso o Google e outros aplicativos de busca ajudam sobremaneira nessa empreitada e tarefa socioafetiva. Quando a senhora Sílvia Maria escreveu em seu comentário:

“Fiquei envergonhada porque copiei da internet vários cartões natalinos com mensagens tipo clichê, repetitivas e sem originalidade para enviar para minhas amigas e amigos via Facebook, WhatsApp e Instagram. Quase todo mundo faz isso”. — (SIC).

Gostei. Li e vi nesse comentário simples a essência da originalidade! Senti a sinceridade de quem gostaria de ser diferente, mas, para isso, a tecnologia teria que ser, no mínimo, negligenciada.

A ORIGINALIDADE DE UM TEXTO EVIDENCIADA

Quando escrevi e publiquei no Recanto das Letras o texto “UMA MENSAGEM DE AGRADECIMENTO POR GRATIDÃO” eu fui original e sincero! No contexto da mensagem há gratidão e subida euforia por termos aprendido e superado nossas dificuldades socioculturais e afetivas durante o ano de 2020! Particularmente gostei das palavras:

“Durmam menos e estudem mais porque de certa forma isso é ótimo como motivação para a prática da resiliência e traz, sem nenhuma dúvida, resultados proficientes, gratificantes e positivos. Esse é o caminho do progresso para quem se valoriza e honra a vantagem de ser meritoriamente capaz.” — (SIC).

CONCLUSÃO

Tenho poucos amigos no WhatsApp. Trata-se de pessoas sérias, comprometidas com seus afazeres pessoais e trabalhos em prol da família. Compreendi perfeitamente o fato de quase todos terem me encaminhado “cartões natalinos com mensagens tipo clichê, repetitivas e sem originalidade”.

Por haverem recebido mensagens de igual teor, tipo: “pacotinho com laço de fita vermelha” com os dizeres “Abra o seu presente surpresa!”, meus diletos e respeitáveis amigos e amigas não vacilaram e usaram o “Ctrl t, Ctrl c e Ctrl v” e me encaminharam (é fato que fizeram o mesmo para outras pessoas) as mesmas mensagens recebidas dos notáveis outros amigos comuns. Isso não é crime, embora não haja originalidade!

NÃO JULGO PARA NÃO SER JULGADO

Não os condeno! Não os censuro! Não os imito! Compreendo que, a falta de tempo associado às mudanças tecnológicas são os verdadeiros vilões dessa falta de criatividade nas mensagens natalinas e outras. Vou mais além... O nada dizer ou escrever, isto é, manter o silêncio nas datas festivas (alguns amigos mais argutos assim procedem) é mais original do que parafrasear pacotes prontos e frases de efeito.

PARAFRASEAR é o uso de palavras diferentes para redefinir um texto e alcançar um significado mais claro. Parafrasear é usar suas próprias palavras para manter a ideia original, mas para esclarecer melhor o significado, darei exemplos:

O meu sofrido irmãozinho Wellington come de mais porque está sempre faminto. Você pode parafrasear escrevendo: "O irmão do Wilson — Wellington — come tal qual um abade” ou, caso queira ser involuntariamente grosseiro, poderá escrever: “Ele come feito um bicho”. Isso explica o ser nordestino e original.