O Brasil se rende ao vírus.

10 de março de 2021, 2.349 vidas perdidas em 24 horas. O dia mais letal desde o início da pandemia. Enquanto o mundo quase todo está em um processo de vacinação em massa, o Brasil passa pelo pior momento. É hoje o país em que mais se morre de Covid por dia.

Continuamos com os hospitais em colapso e da vacinação a passos lentos. As ruas estão cada vez mais cheias, festas clandestinas acontecem quase todas as noites.

Como conscientizar um povo cujo líder é o primeiro a provocar o caos? Agora ele aparece usando máscara, fala bem da vacina, e propõem comprá-la. Não é um pouco tarde para reverter o que não fez durante um ano?

Pediu para que o povo enfrentasse o vírus não como maricas. O que quer dizer “maricas” para o tal fulano? Seria pessoa que tem comportamento feminino, já que propôs que enfrentássemos a doença como homens. O que há de errado em ser ou se comportar como uma mulher?

Lamento cada uma das 261.188 mil vidas perdidas, cada família mutilada. Sinto compaixão por cada enterro sem velório, cada lagrima derramada, cada plano interrompido.

Lamento, também, cada ato indevido praticado pelas autoridades que negavam ou negam a existência e o poder de letalidade desse ser microscópico e perverso que se alastra como erva daminha.

Lamento a condução que foi dada a doença, cada desrespeito às pessoas, principalmente àquelas que precisavam se levantar pela manhã e enfrentar o vírus não como homem ou mulher, mas como ser humano que precisava buscar o pão para a família, e mais ainda, pelos que se encontram desempregados.

Lamento por cada um que precisou ou precisa se aglomerar em coletivos ou metrôs para correr atrás de comida e dignidade. Pelos que limpam ruas, lavam pratos ou se expõem em caixas de supermercados. Também, pelos que tiveram que roubar por não terem uma opção diferente. E por mim, que não posso fazer quase nada para tentar mudar essa penosa situação, a não ser escrever na busca de um pouco de alívio.

Nália Lacerda Viana, 10 de março de 2021

Nalia Lacerda Viana
Enviado por Nalia Lacerda Viana em 10/03/2021
Reeditado em 11/03/2021
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