Pacto pela Vida

A história nos conta que, na ditadura militar poucos se importavam com o sofrimento alheio. A maioria dos brasileiros preferiu fingir não ouvir os gritos dos torturados, muitos inclusive até a morte, ou o clamor dos mais de 8.000 índios assassinados junto com a Floresta Amazônica. Ainda assim, tudo indica que a reação da população foi mais forte e expressiva do que essa que testemunhamos e protagonizamos no momento - um projeto de extermínio.

O processo da retomada da democracia, mesmo com muitas falhas, a maior delas a impunidade dos assassinos de Estado, foi capaz de criar a Constituição de 1988 - Constituição Cidadã, que tenta sustentar o que ainda nos resta de democracia.

O que nós nessa sociedade fraca, corrompida, individualista estamos dispostos a fazer para colocar um fim nesse profeto de extermínio da sociedade? Teremos capacidade de olharmos no espelho e pensar que poderíamos ter feito algo? Dormiremos o sono dos justos mesmo sabendo que muitas mortes poderiam ter sido evitadas se não houvéssemos cruzados os braços?

Se dermos por perdido, por impossível, por vencidos... completaremos, bem rápido, o caminho rumo ao matadouro. Obedientes à política de morte, insistimos em gritar nas redes, ou tentar convencer parentes e amigos de que estamos chegando perto do abismo. Isso é muito pouco, não é desobedecer a absolutamente nada. É pouco mais do que desperdiçar energia nos iludindo de que isso é uma ação de verdade. Para fazermos a diferença, precisamos de nos unir num objetivo comum, fazer um “pacto de vida” e interromper a política de morte a que estamos expostos.

Mas como um povo acostumado a morrer será capaz de barrar seu próprio exterminador? Essa pergunta é pungente, mais de 300 mil mortos...

Nossa única chance é fazer o que não sabemos, ser melhores do que somos, pressionar os órgãos capazes de responsabilizar os verdadeiros culpados pelos seus crimes. Precisamos nos somar a projeto comum. Assim, talvez possamos nos descobrir capazes de nos tornarmos “comunidade”.

Precisamos acordar a cada manhã e pensar o que poderemos fazer hoje para impedir que nos conduzam ao vale da morte? O que mais falta acontecer para compreendermos que estamos submetidos a um projeto de extermínio? já assistimos a pessoas morrerem sufocadas por falta de oxigênio. Vimos outas intubadas que, por escassez de sedativos, tiveram que ser amarradas em macas para não arrancarem tudo por causa da dor e do desespero. O que mais falta? Qual é o próximo horror? De qual imagem necessitamos para entender para “onde estamos caminhando”?

Estamos nos deixando matar, não há mais tempo. A alternativa é seguir assistindo ao espetáculo da política de morte nos imposta pelo atual governo até não podermos mais ver, já que estaremos mortos.

Nalia Lacerda Viana
Enviado por Nalia Lacerda Viana em 28/03/2021
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