A sublime função da Linguagem

Thomas Hobbes, na sua obra Leviatã, publicada em 1651, resume de forma simples e honesta seu conceito de Linguagem: “Mas a mais nobre e útil de todas as invenções foi a da linguagem, que consiste em nomes ou apelações e em suas conexões, pelas quais os homens registram seus pensamentos, os recordam depois de passarem, e também os usam entre si para a utilidade e conversa recíprocas, sem o que não haveria entre os homens nem Estado, nem sociedade, nem contrato, nem paz, tal como não existem entre os leões, os ursos e os lobos.”.

É impossível não concordar com o pensador.

Hobbes se refere à Linguagem como “a mais nobre e útil das invenções”.

Desde a publicação de seu livro até hoje, se passaram 370 anos e é incalculável o número de “invenções” que ocorreu nesse período. Mesmo assim a afirmação do autor continua válida porque a Linguagem é uma das bases da existência das sociedades.

Existem vários tipos de linguagens além da Língua-mãe, como linguagem de sinais, linguagem de programação, código Morse, etc.

Quanto mais caracteres, sinais, códigos ou palavras tiver a linguagem, seja qual for ela, mais fácil ela cumprirá sua função, ou seja, mais facilidade terá seu usuário para transmitir sua mensagem ou pensamento, desde que este tenha bom conhecimento daquela.

Com o advento da comunicação via internet houve uma tendência para a simplificação da língua e criação de uma “língua paralela” com muitas abreviações e uso de termos estrangeiros, principalmente o inglês, como sabemos.

Eu me referi a”língua paralela” porque tenho que me restringir à nossa Língua-mãe para o propósito deste texto e me abster de dissertar sobre a utilidade das linguagens em geral

Na medida em que essa nova forma de se expressar foi se tornando corriqueira e cada dia se distanciando mais da nossa Língua-mãe, ocorreu e ocorre um distanciamento entre o que pensamos e sentimos com a mensagem que escrevemos, ou seja, é impossível usarmos uma linguagem limitada para expressar toda a complexidade de nossos pensamentos.

Além desse aspecto, está ocorrendo também um ativismo no sentido de modificar a língua para atender alucinações de pessoas que parecem viver numa realidade paralela e têm a intenção de estabelecer um sistema de punição automática de determinado setor da Sociedade pelas mazelas do mundo. Me refiro a linguagem do gênero neutro e policiamento constante para impedir uso de termos e expressões consagradas, como:

- morador de rua, que passou a ser “pessoa em situação de abandono” (reparemos a carga emocional envolvida nesta expressão. Se está abandonado é porque alguém abandonou);

- grupo de risco passou a ser “vulnerável”, ou seja, fraco, vítima e não agente da própria situação;

- favela, passou a ser “comunidade”, ou seja, agrupamento de pessoas unidas por um objetivo comum, qual seja o de permanecer a vida toda na miséria.

Essas providências, embora tenham o rótulo de “humanismo” ou “respeito com as pessoas”, na verdade se caracteriza por retirar da língua o papel de expressar a Cultura, as tradições do Povo e o pensamento dos indivíduos para atender a função de dominação ideológica.

A linguagem, especificamente a Língua-mãe, é o instrumento com o qual conectamos nossa mente com o Mundo.

Quando ocorre uma limitação de vocábulos, seja pelo desconhecimento deles, por sua alteração artificial ou pela “proibição” de usá-los, no momento que tentamos expressar algum pensamento, é como se deparássemos com uma parede de vidro a prova de som, onde vemos o destinatário de nossa comunicação, seja falada ou escrita, mas não conseguimos estabelecer contato pleno.

Pode ocorrer também que o emissor da comunicação tenha bom conhecimento da língua mas os destinatários não tenham, assim ocorre a situação que conhecemos como “falar para as paredes”.

Essa situação já ocorre e está cada dia mais comum tanto na comunicação falada como escrita. Não é raro no nosso dia a dia ou quando da publicação de textos percebermos que os ouvintes ou leitores não conseguem entender a plenitude da mensagem que tencionamos transmitir.

Não é preciso ter formação na área das Ciências Humanas para imaginar o que pode ocorrer com a personalidade de um indivíduo preso dentro de si mesmo e sem possibilidade de comunicação com o mundo exterior e o que pode ocorrer com um país multiplicando essa condição por milhões.

Que os adeptos do "isso não vem ao caso” tenham em mente, se possível, que a tentativa de preservação da Língua-mãe e outros valores do país, não se trara de mera “teimosia de conservadores”, é atitude consciente de quem quer preservar a saúde mental, física e social da população.

Argonio de Alexandria
Enviado por Argonio de Alexandria em 10/06/2021
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