Sou de um tempo.

Sou de um tempo em que as pessoas eram mais secas e rudes em suas relações, o que não diminuía o vínculo interior e verdadeiro da força do relacionamento. as amizades eram de verdade, não virtuais. Não cediam lugar para melindres ou recalques vitimistas paralisantes.

Amigos não se bajulavam, ao contrário as feridas eram frequentes, porém fortalecedoras, em consonância com a escritura sagrada: "fiéis são as feridas feitas pelo que ama".

"Sacanear" e "zoar" ferinamente eram sinais típicos de fortes laços de uma amizade cuja a intensidade e profundidade ficavam evidentes, no mesmo nível da frequência que estes episódios ocorriam.

Hoje os relacionamentos são mascarados, cobertos por uma capa de extravagantes demonstrações vazias de verdade, mas empanturradas com gentilezas e amabilidades verbais, sem poder de produzir sólidos vínculos. Porque o que é valorizado hoje é o parecer, não o ser.

Tudo articulado artificialmente por uma sociedade doente, onde os indivíduos tiveram sua espontaneidade corroída pela acidez velada do politicamente correto. Tal artificialidade determina que todos são compulsoriamente amigos, não há interesse por parte dessa sociedade que as amizades nasçam espontaneamente, que fortes bases sejam estabelecidas entre os indivíduos, aliás, nem o conceito real de indivíduo permanece relevante nessa perspectiva.

O pretendido é o estabelecimento de um padrão normativo onde não haja nuances naturais do humano, é a irônica finalidade oculta do humanismo: A desumanização.

Você não escolhe, você aceita; Você não pensa, Você concorda.

—Para esse tempo presente eu digo NÃO! E você? (isto é, se ainda houver algum você!).

AugustoCSAndrade
Enviado por AugustoCSAndrade em 19/01/2022
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