Delírios e covardias

Na semana passada, o filósofo e escritor Olavo de Carvalho faleceu, nos Estados Unidos. As causas da morte não foram divulgadas pela família. Olavo foi uma figura controversa, e as reações de algumas pessoas, com relação à morte do pensador, também foram polêmicas. Num extremo, há aqueles que estão querendo reunir depoimentos para (ao que tudo indica) formar uma causa pela canonização dele (!). Outros, comemoraram o falecimento, e fizeram galhofa até não poder mais (!). Estes dois tipos de reações, mostram muito mais do que parece, sobre como a politização e polarização de tudo, está corroendo a humanidade e o senso comum de certos indivíduos.

Quanto à primeira reação, nós vemos como há uma distorção de valores clara sobre o terreno e o celestial. Olavo de Carvalho era uma pessoa cheia de defeitos; igual a cada um de nós. Uma pessoa que tinha visões erradas para algumas coisas, e corretas para outras. Negar isto é ser imaturo: não há um único ser vivo nesta terra que esteja cem por cento errado sobre qualquer coisa, e vice-versa. Agora, é justamente por estas razões que uma causa que tente transformar Olavo em santo da Igreja Católica, é danosa para o próprio processo de canonização (não fazem nem quinze dias que o homem morreu!). Ao invés disso, deveríamos apenas rezar pela alma dele, que pode estar precisando de orações. Esta é a maior ajuda que se pode dar a alguém que não está mais aqui.

Já com relação à segunda reação, ela é um reflexo – mais vil – do problema da polarização. O que havia de mensagens comemorativas (pasmem, comemorativas!), nas redes sociais, sobre a morte de um ser humano, de um semelhante…É de dar pena. E é inútil tentar demover certas pessoas deste tipo de pensamento e ação: o cérebro delas está apodrecido, vítima da politização de tudo e de todos. E o espírito deste tipo de indíviduo é tão arrogante, que ou ignora o conceito de imoralidade, tão bem representado pelas ideias políticas belicosas; ou ainda acham que estão fazendo a coisa certa. O fanatismo cega, seja de que lado for.

Os fatos são os de que uma pessoa morreu; e que temos uma sociedade tão doente, que aparenta ter perdido a compreensão do que é a morte e a empatia. Por mais horrível que alguma pessoa seja, somos pecadores do mesmo jeito que ela. Quem somos nós para julgá-la?

Texto publicado em fernandosaliterze.wordpress.com

Fernando Saliterze
Enviado por Fernando Saliterze em 31/01/2022
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