Metáfora do afogamento para comentar sobre os ativismos de esquerda

Imagine que você está nadando num lago ou no mar, percebe que tem uma pessoa se afogando e pedindo ajuda, desesperada. Então, você vai na sua direção para ajudá-la, mas quando chega perto e puxa a sua mão, ela te puxa de volta para baixo e também começa a se afogar por causa do tamanho da força que está empregando contra você. Claro que ela não está fazendo por mal. Só que, ao invés de ajudá-lo para que você possa salvá-la, ela te atrapalha e ainda o coloca em risco de vida.

Agora, vamos aplicar essa metáfora na política, mais especificamente na relação abusiva que tem sido estabelecida entre as esquerdas e os ativismos.

Pense nos ativismos como pessoas que estão se afogando, nas esquerdas como as que vêm ao seu socorro e nas relações entre elas exatamente como a do exemplo, em que aquele que tenta ajudar também acaba sendo prejudicado. Pois parece ser isso que tem acontecido. Veja apenas um exemplo, mas vale para muitos outros: o ativismo trans.

A opressão que indivíduos transgêneros têm sofrido, equivalente a um afogamento. As esquerdas (partidos políticos, organizações, indivíduos) abraçando a sua causa/incorporando os seus ativistas e lutando pelos seus direitos básicos de dignidade e respeito: que possam fazer a resignação sexual se forem dos seus desejos; que a transfobia (de fato) seja combatida; que possam se identificar de acordo com as suas escolhas e que os outros os considerem de acordo. Mas aí, os ativistas mais radicais, pra variar, não se contentando com a luta pelos seus direitos, também querem alterar o conhecimento básico que temos sobre a sexualidade humana, de que homens e mulheres não são primariamente definidos por suas diferenças biológicas e sim por identificação individual. Em outras palavras, um homem não é homem porque nasce assim, mas unicamente porque se identifica como tal. E ainda baseiam seus argumentos pela falácia de que a simples existência de exceções invalida suas regras. Neste caso, por exemplo, em que a existência de uma minoria de mulheres que nascem com cromossomos sexuais XY invalida, como característica feminina, nascer com cromossomos XX ...

Como resultado, exigências insensatas de muitos ativistas trans, mais a conivência silenciosa das esquerdas, têm impactado de maneira negativa a popularidade de ambos, inclusive causando dissidências internas, particularmente de feministas radicais que passaram a adotar opiniões intolerantes ou excludentes às mulheres transgênero (principalmente).

Não é apenas quem vem para ajudar que acaba sendo prejudicado, mas também ou especialmente quem pediu ajuda.

Bastasse o ativismo trans abandonar essa "demanda" negacionista (que nega ou relativiza a realidade das diferenças biológicas entre os sexos) e focasse no que mais importa, nos seus direitos, e aposto que diminuiria um bocado a antipatia que tem sido construída em torno da causa e a força da extrema direita nesse campo de batalha da "guerra cultural".