África: as repercussões da guerra russo-ucraniana e o sentimento de transgressão

Os africanos estão começando a sentir o impacto das repercussões econômicas da crise ucraniana, uma vez que os preços dos combustíveis, grãos e fertilizantes subiram no continente, da Nigéria ao Malawi, o que aumenta o medo de exacerbar o fenômeno da pobreza.

Os preços globais do petróleo atingiram seus níveis mais altos em quase uma década, ultrapassando US $100 o barril, depois de um tempo recorde da Rússia invadir a Ucrânia, 24 de fevereiro passado, causando um duro golpe para muitas empresas subsaarianas.

A Ucrânia e a Rússia são os principais fornecedores de trigo e cereais para a África, enquanto a Rússia é um grande produtor de fertilizantes.

O impacto da guerra e das sanções ocidentais sobre a Rússia começou a se traduzir em um aumento nos preços das matérias-primas agrícolas e grãos importados pelo continente africano.

Os padeiros da África, de Lagos ao Marrocos, consideram a crise do preço dos combustíveis um desastre, bem como a frágil rede elétrica, da Nigéria mantém a população apenas algumas horas por dia, dependendo de geradores a diesel para gerar energia , apesar do preço alto.

O povo reclama da falta de luz, o que leva a trabalhar com a eletricidade do gerador, enquanto muitas padarias empilhavam pães, por medo da falta da farina.

A Nigéria é o maior produtor de petróleo e a maior economia da África, mas tem pouca capacidade de refino.

O governo subsidia o custo da gasolina, mas o diesel e o querosene de aviação são vendidos a preço de mercado.

Muitas companhias aéreas locais alertaram que este mês, devido à situação de crise, foram forçadas a cancelar mais voos pela falta de combustível de aviação.

O diesel costumava ser vendido por cerca de 300 nairas nigerianas (0,72 centavos) o litro na Nigéria, mas hoje é vendido por 730 nairas (US $1,75) o litro.

Não se sabe como vai ser a situação alguns dias depois, uma vez que 70% dos negócios dependem do diesel. Percebendo-se que algumas empresas trabalham apenas algumas horas com diesel, com medo de não poder pagar os geradores o dia todo.

Fome na África

Se a crise continuar, os países africanos, grandes importadores de combustíveis e grãos vão continuar sofrendo, enquanto os exportadores dessas commodities ganham cada vez mais.

Outros países endividados, como Gana, com muita dificuldade com os custos de empréstimos altos, se esforçam à medida que o apetite dos investidores cresce com a crise.

Os produtores de gás como Tanzânia, Senegal e Nigéria devem aproveitar tais medidas da Europa, no sentido de diminuir a dependência europeia da energia russa. Mas o desafio imediato é enfrentar o sofrimento das famílias africanas, cujas milhões lutam para garantir seu sustento.

A guerra na Ucrânia significa a fome na África; os preços, cada vez mais elevados, exacerbam a insegurança alimentar na Etiópia, assolada por conflitos, onde cerca de 20 milhões de pessoas precisam de assistência alimentar.

Hipertrofia exacerbada

A inflação aumenta, por sua vez, e em muitas partes do continente africano.

No Quênia, um saco de farinha de trigo agora é vendido por 150 a 172 xelins quenianos (US $1,3 a 1,5 dólar americano), em comparação com menos de 140 xelins em fevereiro.

A terceira maior economia da África Subsaariana geralmente recebe um quinto de suas importações de trigo da Rússia e outros 10% da Ucrânia.

Na capital de Uganda, Kampala, a crise ucraniana fez disparar os preços do sabão, açúcar, sal, óleo de cozinha e combustível.

A maioria dos produtos básicos, produzidos localmente, mas sempre com alguns componentes importados, afeta diretamente os preços, causando um determinado choque inflacionário nos mercados internacionais.

A título de exemplo, só uma família de quatro pessoas gasta em média 5.000 xelins em comida e itens essenciais, tal budget não é mais suficiente. Agora se gasta mais de 10.000 xelins, situação alarmante que necessita uma intervenção urgente.

Vítimas de guerra

Com a desconfiança da inflação e da crise na Ucrânia, o Banco Central das Maurícias, por exemplo, elevou a sua taxa de juros para 2%, constituindo o primeiro aumento do tipo desde 2011.

É lamentável que, depois que o céu clareou após o Covid-19, nuvens adicionais apareceram, com a guerra na Ucrânia, obrigando os governos da África a intervir com vista a conter a situação alimentar e inflacionária.

Na capital somali, Mogadíscio, os preços do combustível, óleo de cozinha, materiais de construção e eletricidade subiram, preocupando a população sobre o futuro.

Numa semana só, um galão de óleo de cozinha de 20 litros custava 25 US$ , hoje custa 50 US$. Enquanto o preço do litro de gasolina era de 0,64 US $. hoje é de 1,80 US$.

Na África Austral, o preço do pão e do óleo de cozinha no Malawi tem aumentado 50%.

Esta guerra não nos diz respeito e não é justo pagar um preço tão alto, nem poder ser vítimas sempre que uma guerra irrompe em algum lugar do mundo.

Lahcen EL MOUTAQI

Pesquisador universitário- Marrocos

ELMOUTAQI
Enviado por ELMOUTAQI em 17/03/2022
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