Pobreza (I)
Desigualdade.
Ficamos pobres meio a tanta riqueza promovida pelo um imenso domínio das ciências e tecnologias. Basta olhar que temos abundância de bens, vastos conhecimentos, amplas possibilidades de construção de confortos no campo da saúde, do sustento alimentar, da moradia, da comunicação e do lazer.
Todas essas coisas ganharam donos e isso chega ao nível da indecência. Um relatório das Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que 1% da população mundial mais rica concentra mais de 40% da riqueza global, e que mais da metade da população pobre detém apenas 1% dos recursos.
Estamos num mundo sem espaço para o riso. A crueldade é insana, basta olhar em volta. Esse parece ser um grande problema da civilização. Todas as coisas ganharam donos e, cada vez mais, a referência social se perdeu. Resultado. A opulência de um lado e a carência do outro retratam a imoral desigualdade entre os seres humanos.
As teorias de ontem e de hoje, que fundamentam essa segregação social, recusam a Vida, impedem o desenvolvimento da humanidade do Homem e nos embrutecem de tal modo que já não sentimos mais a dor do outro. Triste é perceber que todos sabemos que a absurda desigualdade não é culpa da Natureza, e, sim, do modo como a sociedade organizou-se em privilégios. Temos consciência disso, mas, há forças tais que impedem mudanças.
O canto poético de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) clama alto essa pobreza de alma, de vontade, de disponibilidade, clama em maior altura ainda, face à dor, ao sofrimento:
“E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
a mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia...”