Estado democrático de barbárie

Por Eduardo Barbosa

Os vândalos eram os integrantes de um povo bárbaro antigo. Provocavam devastações por onde passavam. Estiveram em alguns continentes, na Europa, na África. Vem do comportamento desses povos o termo conhecido por nós nos dias atuais como vandalismo. Um vândalo pode ser descrito como aquele que destrói monumentos, bens de uso público, ou como define o dicionário Aurélio: um “inimigo das artes e das ciências”.

Talvez pareça absurdo dizer que no mundo contemporâneo haja vandalismo enquanto forma de governo. Penso que existe e é disso que eu trato neste texto.

Se o vandalismo opera pela via da destruição não há diferença entre este e algumas políticas do governo brasileiro atual. Vejamos alguns exemplos:

nomeação de um titular racista para a Fundação Palmares: vandalismo. Incentivo ao garimpo e outras explorações não-sustentáveis em terras indígenas: vandalismo. Apoio ao movimento antivacina: vandalismo. Insuflação do povo contra os poderes constituintes da República como STF e Congresso: vandalismo. Ministério do Meio Ambiente “passando uma boiada” sobre as regulações de preservação da fauna e flora brasileiras: vandalismo. Ministério da Economia defendendo alta do Dólar, pois até “empregada doméstica ia à Disney” com um Dólar valendo o equivalente ao Real: vandalismo. E a lista se torna interminável para os tantos casos de vandalismo institucional.

São destruições a gosto do freguês. Saques na credibilidade da Ciência. Destruição do meio ambiente, da democracia, do poder de compra dos mais pobres, enfraquecimento da luta contra o racismo. É aquele mesmo velho vandalismo que nossos antepassados testemunharam. No entanto, foi reformulado para se ajustar aos novos tempos.

É pouco perceptível que vivemos sob o jugo de bárbaros porque os ataques não são contra prédios, monumentos, vidraças ou fachadas, é institucional. Passamos de um Estado democrático de Direito para um Estado democrático de Vandalismo.

A grande ironia é um povo escolher pelo voto o vandalismo como forma de governo, resultando daí sua legitimidade. Mas também não é novidade. O líder do nazismo chegou ao poder por meio do voto popular.

Ao fim e ao cabo estamos trocando nossos direitos de ter um país melhor pelo direito à nossa própria ruína. Freud chamaria de pulsão de morte. O predomínio do inverno de Tânatos sobre a estação criadora de Eros. Um desejo de retorno ao inanimado, à não-existência.

É pouco provável que os vândalos ajam ao contrário de sua natureza, isto é, a barbárie. Então não podemos esperar por um mundo melhor sob seu domínio. Tudo que deixam de legado são escombros. Após sua passagem será possível construir algum futuro com os cacos e entulhos que nos sobrará de Brasil?

Só o retorno de Eros dirá.

Eduardo Barbosaa
Enviado por Eduardo Barbosaa em 31/08/2022
Reeditado em 31/08/2022
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