Algumas considerações sobre o Fascismo.

Inúmeras foram as aulas que ministrei sobre o Fascismo em colégios e em pré-vestibulares ao longo da minha vida profissional.

Além da necessidade de cumprir o curriculum escolar, eu tinha grandes objetivos: esclarecer sobre pontos básicos e profundamente marcantes do século XX, o mais violento da história. E fazer com que os meus alunos e alunas se tornassem pessoas críticas, esclarecidas e atentas aos caminhos do mundo, valorizando o humano, jamais sendo responsáveis por ferir os padrões de ética e de civilidade. Eu bem que tentei!!!

Eu carregava material didático, imagens, jornais, cartas, fotos, inclusive a primeira edição da Revista Anauê, do Plínio Salgado, de 1935. “Anauê” era a típica saudação fascista que os correligionários de Plínio lhe faziam, vestidos com suas camisas verdes. Integralismo foi a sua doutrina, conhecida vulgarmente por ser o fascismo tupiniquim. O lema? Deus, Pátria e Família.

Confesso a minha ignorância sobre a gigantesca dimensão do Fascismo na questão do envolvimento emocional da sociedade. Brigas, rivalidades, cenas de violência por coisas pequenas, ínfimas. Mas as brigas iriam se tornando viscerais, figadais, odientas, tais como temos presenciado na atualidade cá embaixo do Equador.

A Psicologia nos explica: a sociedade, na sua carência, no seu desemprego, falta de perspectivas, na sua desilusão, tem a necessidade visceral de apego a um chefe, a uma liderança forte, autoritária, sem meias palavras. Esta promete à sociedade marcada pelo descontentamento uma eventual segurança sempre com base no pensamento autoritário. Basta que a sociedade obedeça cegamente, o dono do poder sem nenhuma contestação ou crítica.

Gostaria de relembrar algumas falas dos meus tempos de magistério, visto que esse assunto volta a nos assombrar de forma impiedosa e gritante.

O Fascismo foi um projeto autoritário de governo nascido na Itália com Benito Mussolini em 1922, quatro anos após o término da I Guerra Mundial.

A década de 20 do século passado foi extremamente complexa para o mundo, especialmente para a Europa duramente devassada pelo conflito. Depois de quatro anos de guerra, com o continente dividido, uma mortandade inimaginável até então, o continente estava em frangalhos. Além da mortalidade excessiva, os milhões de doentes, inválidos, desempregados, órfãos, sem teto amedrontavam uma pequena e frágil elite econômica que conseguia subsistir.

De forma geral, o fascismo é um regime totalitário com absoluta concentração do poder nas mãos de um líder. Esse líder deveria ser cultuado, obedecido, idolatrado, jamais questionado e poderia tomar qualquer decisão sem consultar previamente os representantes da sociedade.

Uma definição rápida: Fascismo é uma política de alianças entre Estado e burguesia para uma plena manipulação das massas e estas devem obediência total e absoluta ao poder. Esse projeto torna-se possível em momentos de profunda crise econômica.

Suas principais características:

- Ditadura;

- centralização do poder nas mãos de um líder;

- repressão às oposições;

- personalismo;

- censura à imprensa;

- eliminação das oposições;

- existência de um partido único;

- nacionalismo exacerbado;

- desprezo pela democracia;

- crença no domínio das elites;

- oposição ao socialismo, ao marxismo, ao anarquismo;

- emprego da violência para garantir a ordem social;

- apelo à frustração social;

- o desprezo pelo fraco;

- a educação para o heroísmo;

- o patriarcalismo bélico;

- militarização da sociedade;

- valorização da virilidade;

- culto à tradição;

- valorização da disciplina.

Para o pensador, escritor, filósofo italiano Umberto Eco (1932-2016), o Fascismo se refere a

um Estado de partido único que tem a tarefa de prover a defesa armada do regime, a seleção de seus quadros de direção e organização das massas no interior do estado, em um processo de mobilização permanente de emoção e da fé.

Na sua obra “O Fascismo Eterno”, Eco destaca:

“O Fascismo eterno ainda está ao nosso redor, às vezes em trajes civis. Seria muito confortável para nós se alguém surgisse na boca de cena do mundo para dizer ‘quero reabrir Auschwitz’, quero que os camisas negras desfilem outra vez pelas praças italianas! Infelizmente a vida não é tão fácil assim. O Fascismo eterno pode voltar sob as vestes mais inocentes. Nosso dever é desmascará-lo e apontar o dedo para cada uma das suas formas - a cada dia, em cada lugar do mundo”.

Os partidos contemporâneos de extrema-direita com ideologias semelhantes ou inspirados nos movimentos fascistas do século XX são denominados neofascistas.

Vale lembrar também um pensamento já bastante conhecido do grande dramaturgo e poeta alemão Bertholt Brecht (1898-1956): “a cadela do fascismo está sempre no cio”.

Alguma dúvida?

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 20/10/2022
Código do texto: T7632098
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