A verdade vos libertará

Jorge Mario Bergoglio voltou a opinar sobre assuntos que não são concernentes às suas exaustivas atribuições. O atual sucessor de Pedro insiste em defender aqueles cujas instituições brasileiras já emitiram seus respectivos veredictos e os fatos investigados são de conhecimento público. Francisco sugeriu que o presidente Luiz Inácio da Silva foi “vítima de lawfare”, termo que se refere ao uso indevido do sistema legal e das leis para fins políticos ou de perseguição pessoal, culminando com uma condenação sem provas, apenas com indícios, insinuando que a Justiça brasileira “não é justa”. Ainda sob a ótica papal, para condenar “basta o volume do sumário, onde está o delito aqui”? Classificou a ex-presidente Dilma Rousseff como “uma mulher de mãos limpas. Excelente mulher”. Nota-se que ao Sumo Pontífice foi apresentada apenas a versão dos fatos sob a perspectiva dos interesses daqueles que procuram enaltecer uma conduta supostamente impoluta de ex-mandatários, fato que obviamente, não condiz com os registros recentes da história.

O Bispo de Roma é figura controversa em seu país de origem. O ceticismo ainda persiste entre os argentinos ao ser apontado como omisso diante da violência imposta pela ditadura militar, que por anos atentou contra os direitos humanos efetuando prisões ilegais, promovendo torturas e o desaparecimento de pessoas. Francisco menospreza a soberania da nação brasileira ao criticar suas instituições. Demonstra com sua inoportuna imiscuição ser acometido por recorrente miopia política, quando tenta em vão desacreditar o Congresso Nacional no caso da ex-presidente e o Poder Judiciário nos processos de Lula, condenado em duas instâncias. Certamente o Sumo Pontífice, pela relevância do cargo e, por conseguinte a pouca disponibilidade em sua atribulada agenda, ignora por completo as abundantes evidências apresentadas nos autos. Sendo assim, seu ponto de vista sobre o assunto pode ser classificado apenas como cândidas conjecturas, estimuladas por sua natural predisposição na defesa daqueles que considera como pobres, inocentes ou injustiçados, postura que o distinguiu entre os representantes do clero. Ocorre que, no caso específico em questão, absolutamente não figuram pobres, nem inocentes e muito menos injustiçados.

Definitivamente, urgem assuntos bem mais importantes para ocupar o tempo útil do Cardeal Bergoglio. A humanidade é constantemente assolada por influências comportamentais dramáticas, que provocam desajustes sociais dos mais variados possíveis. Os fundamentos da Igreja Católica são colocados à prova a todo o momento e isso requer uma atuação firme, vigilante e permanente de Sua Santidade. A preocupação com o respeito aos direitos elementares do ser humano, a propagação da fé cristã entre tantos outros temas relevantes, obviamente se fazem presentes no cotidiano do Papa Francisco. E em seus parcos momentos de reflexão, uma leitura seria recomendada em João 8,32: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.