HENRIQUE ENTREVISTA FERNANDO

Prólogo

A ausência nada mais é do que uma presença contínua nas mentes dos apaixonados, nos relacionamentos gratificantes, reais ou imaginários, desejados, pertos ou afastados (a distância) .

A importância da comunicação, entre as pessoas, é inquestionável. A força da rotina e do passar dos anos provoca o desencanto, a falta de comunicação… tudo isso faz com que o amor se transforme em mera afeição.

A vida é sempre um movimento com expectativas, às vezes, frustradas; enganos, desenganos, ressentimentos, surpresas, possibilidades, consequências, experiências, mágoas e desilusões. – (Nota deste Autor).

O INÍCIO DA ENTREVISTA

– Bom dia amigo Fernando. Qual foi a experiência amorosa mais marcante em sua vida? Quer falar sobre isso?

– Ah! Sim bom dia... Henrique! Sim. Sem nenhum problema. Ademais, já superei esse trauma. Ainda guardo comigo o guardanapo em que no aeroporto Cecília escreveu: "Don't worry. We'll see you again soon.".

Os Estados Unidos da América e a Europa se tornaram pequenos para comportar a grandeza intelectual de minha amada.

O "see you again soon" final turvou minha visão, mas soou aos meus ouvidos como uma melodia triste de despedida ouvida em nossas adolescências.

A LIMITAÇÃO CULTURAL DE FERNANDO

"Despeça-se de mim em português, por favor." – Falei melancólico. E ela disse em meu idioma preferido, embora mais complexo, o bom e velho português:

"Gratidão é pouco. Saio do Brasil com um sentimento de realização profissional e crescimento pessoal, pois foi aqui, no Brasil, que lhe conheci e aprendi a valorizar os mais puros sentimentos afetivos.".

"Com essa sandice de tanto estudar idiomas fiquei meio mecanizada. Com você aprendi a gostar mais de gente do que dos livros e gramáticas. Espero que o sucesso continue embalando os nossos caminhos com as bênçãos de Deus.".

– Depois dessas lindas palavras nos abraçamos e choramos entre risos de alegria. Cecília partiu e nunca mais nos vimos.

– O que aconteceu? Perguntei curioso. Ao se despedirem ela lhe pareceu sincera? – Perguntei ao amigo Fernando.

– Não sei, ao certo... Eu soube por uma irmã da Cecília que ela recebeu uma irrecusável proposta para trabalhar como tradutora e/ou professora no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Boston. – EUA, mas a competência dela é muito superior para aceitar essas medíocres funções.

– Medíocre função? Ser professora nos EUA... Ora, O MIT é referência em todo o mundo, principalmente quando o assunto são pesquisas e descobertas voltadas para a área das ciências.

FERNANDO EVIDENCIA SUA LIMITAÇÃO CULTURAL

– É. Você tem razão. Acho que o medíocre e limitado sou eu. Pelo que eu sei a Cecília é fluente em: Espanhol, Inglês, Francês, Italiano, Alemão, Russo, Japonês, Mandarim e Português. Ademais, creio que quaisquer idiomas que ela quiser aprender ela conseguirá ser fluente em apenas três meses!

– Não se vitimize! Você é um pecuarista exemplar. Aliás foi com você que aprendi a investir em soja, milho, feijão e gado de corte. Você tem muito boas qualidades. – Disse tentando levantar a autoestima do amigo Fernando.

– Obrigado pelas belas palavras amigo, mas eu queria mesmo era saber notícias de minha amada Cecília. Acho que vou até esse Instituto onde me disseram que a Cecília está trabalhando. – Fernando se referia ao MIT.

– Muito bem. Se quiser eu lhe farei companhia. Meu passaporte, com o respectivo visto, está longe da data de vencimento. Só assim farei um treinamento do meu péssimo inglês com os nativos da Terra do Tio Sam (risos). Estou mesmo precisando de alguns dias de férias.

A INFELICIDADE DE FERNANDO

Existem muitos exemplos de ricos infelizes. Alguns cometem o suicídio, porque não sabem se são amados. Podem até ser úteis e necessários, mas não sabem se as pessoas ao seu redor são amigos de verdade ou se estão interessados no dinheiro.

Quando você cuida apenas dos seus bens, não tem tempo para aproveitar a vida; esquece que muitas coisas importantes na vida são de graça:

São bens graciosos: Um abraço, um beijo, um terno olhar para as belezas da natureza; a chuva, o sol, animais inocentes em festa como o sorriso de uma criança ou uma bela flor no campo e tantos outros que não dependem de dinheiro.

Dinheiro só traz felicidade quando se tem o suficiente para cobrir as necessidades básicas e necessárias para o bem-estar socioafetivo. Quando se tem dinheiro em excesso... Surgem os falsos amigos, as disputas familiares por futura herança, as desconfianças e a solidão do possuidor pelo apego ao vil metal.

CONCLUSÃO

Acreditar que riqueza gera felicidade é uma ilusão. Aumentar a renda tem um efeito breve nas pessoas no índice de satisfação. Logo, o bem-estar não está ligado a rios de dinheiro ou carrões, viagens internacionais ou aquisição de iates, aviões ou mansões.

Fernando era riquíssimo! Todavia, no dia em que eu o entrevistei, ele estava imensamente infeliz. Aparentemente, existem muitas pessoas no mundo que acumulam muito mais do que precisam, enquanto outras sofrem os rigores da extrema pobreza.

Ouso afirmar a causa do desaparecimento da Cecília da vida do Fernando. Há algo muito importante em qualquer relação: a comunicação. Ela, a comunicação, nunca pode faltar, caso contrário a relação estará perdida.

A abissal diferença entre Cecília e Fernando estava na cultura e falta de comunicação! É fato, às vezes, somos atraídos por pessoas muito diferentes de nós, seguras de si, extrovertidas e empreendedoras, enquanto nós somos mais inseguros e um pouco tímidos.

Enfim, os opostos se atraem porque, no fundo, se complementam e preenchem as necessidades, expectativas e sonhos extravagantes de cada um. Assim eram Cecília e Fernando.

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NOTAS REFERENCIADAS

– Textos livres para consulta da Imprensa Brasileira e “web”;

– Assertivas do autor que devem ser consideradas circunstanciais e imparciais.