SAL NA MOLEIRA

 

Quando entrei no Grupo Escolar, a Professora, Dona Dona, Dona, eu sei lá, bem, a Dona Professora estava me esperando.

Já fiquei nervoso.

_ Joãozim, vamos para minha sala, disse-me.

A segui. Entrei na sala, fiquei de pé, tendo como fronteira, entre mim e ela, uma mesa com cadernos, livros e os instrumentos de tortura: palmatória, pote de vidro entupido de grãos de milho e um chapéu cônico, com o dizer: BURRO.

De pé, esperei a inquisição...

Ela pareceu-me estar com a língua banhada de açúcar. A sua voz me soou adocicada:

_ Meu bebê, conte-me o que aconteceu no verão passado...

Eu, boquiaberto, olhos arregalados, olhos no olhos, respondi:

_ Euuuuuu?????

_ Sim, seu safadinho, você, sim.

Na verdade, confesso. Eu sabia o que tinha ocorrido no verão passado.

Dizem os doutos do Direito, que uma confissão bem arrumadinha, diminui a pena.

Foi o que eu fiz. Disse que tinha sido bocão, tinha sido infantil - dizendo o óbvio -, eu era de menor mesmo...

Daí, ela começou a praticar a miserável Dança dos Olhos: eu-ferramentas de tortura-ferramentas de tortura-eu.

Fixando o olhar em mim, despejou uma Oratória que, até hoje, ainda me lembro.

_ Você, ainda é uma criança infantil. Tome tino. Vá para a sala de aula, seu safadinho, disse, finalizando a inquisição.

Sagüi
Enviado por Sagüi em 14/01/2024
Código do texto: T7976090
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.