A Construção de Brasília como eixo estruturador de ocupação do interior do Brasil

Aires José Pereira

A transferência da Capital Federal para o Planalto Central além de ser estratégica no sentido dos perigos eminentes que poderiam ocorrer ali, uma vez que a população também possui suas estratégias de reivindicações políticas e sociais. Quando afirmamos isto queremos dizer que a própria topografia do Rio de Janeiro possibilita uma ocupação por parte de seus habitantes que, com certeza os beneficia. Dessa forma essa população enfurecida poderia causar sérios problemas às ordens de governabilidade do País. Aliás, temos acompanhado pelos meios de comunicação que os problemas do Rio de Janeiro são evidentes e os “bandidos” comandam a situação. Assim sendo, indiscutivelmente, a saída da Capital Federal dali para o Planalto Central foi uma “maravilha” aos governantes do País. No entanto, subjacente a essa questão peculiar, vem indiscutivelmente, a proposta de interiorização da ocupação do espaço brasileiro. Diga-se de passagem, interiorização de fato consumada.

A presença da Capital Federal no Planalto Central, acompanhada da transferência da fronteira agrícola para o espaço centro-oestino – em virtude da demanda de produtos primários pelos mercados do Sudeste - indiscutivelmente dinamizaram as correntes migratórias para os estados centrais. Esta transferência da fronteira agrícola para o Centro-Oeste se refletiu no crescimento dos centros urbanos já existentes, assim como propiciou o surgimento de novos centros. CARDOSO, 1989. p. 210.

Essa transferência, além de tudo o que já mencionamos anteriormente, trouxe consigo também, uma remodelação do quadro urbano da região de cerrado. Se até então, tínhamos as pequenas cidades geralmente às margens de rios, a partir de então, as cidades surgem ou são revitalizadas às beiras das rodovias que se efetivam como eixo estruturador de todo o processo de produção capitalista do espaço geográfico.

Por outro lado, a transferência do Distrito Federal para o Planalto Central trouxe, também, repercussões sensíveis no quadro urbano. Além de Brasília, das “cidades-satélites”, toda a região circunvizinha se revitalizou, com reflexos imediatos nas cidades. O Estado investiu maciçamente na construção de estradas, de início entre Brasília e o Centro-Sul, depois entre Belém e Brasília e, a seguir, Brasília-Acre. Elas abrigaram ao povoamento grandes superfícies de florestas e cerrados, deram origem a numerosos outros centros urbanos, revigoraram alguns (norte da região) e também, foram responsáveis por uma estagnação ou mesmo decadência de outros, dependentes de outro eixo de transporte, como os da navegação fluvial – o caso já analisado das cidades ribeirinhas do Tocantins. CARDOSO, 1989. p. 210.

Muitas cidades do Centro Oeste e Norte do país se revitalizam e se corporificam, inclusive como pólo econômico da região, justamente em função desse novo/velho modelo de ocupação espacial que o governo federal induz direta ou indiretamente por meios de Programas de incentivos fiscais, isenções fiscais, financiamentos, etc. e, principalmente pela infraestrutura implanta por ele.

*Observação: este artigo faz parte de artigo publicado em Revista Científica de Geografia, bem como, de minha tese de Doutorado intitulada: LEITURAS DE PAISAGENS URBANAS: Um Estudo de Araguaína - TO, defendida em 24 de abril de 2013 na Universidade Federal de Uberlândia.

Aires José Pereira é professor do curso de Geografia e do Mestrado em Gestão e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal de Rondonópolis, é coautor do Hino Oficial de Rondonópolis, possui vários livros e artigos publicados. É membro efetivo da Academia Rondonopolitana de Letras e da Academia de Araguaína e Norte Tocantinense.

Aires José Pereira
Enviado por Aires José Pereira em 31/01/2024
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