Porque viajo - reflexões de um escritor de viagens

Quando eu era adolescente, pensava que os livros podiam substituir a experiência de viajar.

Lia tudo sobre a Grécia, o Egito, o Japão e Nova York, conhecia cada história, mitos, monumentos e como me orientar. Viajava através da mente e admirava sujeitos como o filósofo Sócrates, geniais sem jamais ter pisado fora de suas cidades-natais.

Para mim, viajar era enfadonho e cansativo. Se me dissessem, aos 15 anos, que um dia eu seria escritor de viagens, provavelmente eu riria no ato.

No entanto, nada substitui a experiência de viajar, nem livros, nem internet, nem os relatos de amigos. Não dá para dizer que tudo será diferente uma vez que você pisar numa outra cidade, porque não é. No entanto, existem vivências que só são possíveis quando se está lá, diante daquilo que se via em fotos ou na imaginação.

Uma professora da Universidade disse algo que jamais esquecerei: "antigamente, as pessoas viajavam para conhecer o mundo, hoje, elas viajam para reconhecê-lo".

Fico imaginando quão incrível deveria ser o mundo para Marco Polo, desbravando a Índia e a China, quando ninguém mais as conhecia, ou para os navegadores espanhóis e portugueses, chegando à América, ao sul da África e ao Japão pela primeira vez, ou para Hiram Bingham, vendo Machu Picchu pela primeira vez depois de séculos escondida nas montanhas e na mata.

Estas pessoas descobriram o mundo.

Nossa tarefa é redescobri-lo. Por mais que não existam mais territórios desconhecidos em nosso planeta, as cidades e países se transformam: nascem, crescem, envelhecem e, às vezes, até morrem. Vá a alguma cidade grande e retorne a ela 10 anos depois que você encontrará uma nova cidade.

Isto é o magnífico de se viajar, sentir a transformação e a renovação do mundo. Você até pode constatar isto em livros, mas jamais o sentirá desta maneira.

Ainda penso que viajar seja enfadonho e cansativo. Longas horas em aeroportos, longas horas dentro de um ônibus, ou de um trem, mas chegar ao destino e andar pelas ruas de uma cidade na qual você nunca esteve antes, perder-se nela, ver seus habitantes e sentir o cheiro de suas comidas, isto é fascinante e supera toda a exaustão do deslocamento.

"Viajar é preciso/ Viver não é preciso", diz o célebre poema de Fernando Pessoa, repetindo o lema dos grandes navegadores.

A vida de cada um de nós é uma jornada rumo ao desconhecido. Nenhum de nós sabe o dia de amanhã, as alegrias ou pesares que o futuro nos reserva.

Do momento em que nascemos, todos empreendemos esta louca viagem em busca da felicidade, do amor, da realização, e talvez o maior aprendizado que obtive com minhas viagens seja a constatação que, em qualquer lugar do mundo, apesar das pequenas ou grandes diferenças, todas as pessoas são iguais, ansiando o mesmo que a gente.

Viajar é aprender a tornar-se mais humano, é ver-se refletido no espelho do mundo.

(Publicado em http://www.violanasacola.com/2011/04/porque-viajo-reflexoes-de-um-escritor.html)