Impressões sobre Belém do Pará

Há 40 anos, a partir de meu casamento com um paraense, visito, de vez em quando, Belém do Pará, no mês de julho ou em outubro, pelo Círio. Quando comecei, nos duros anos da Ditadura, eu a considerava desprezada não só pelos governantes, como pela própria população, agravado pelos pichadores que detonavam a bela aparência da cidade, de um modo estarrecedor. Naquela época, eu já estudante de Jornalismo, com a atenção aguçada de foca, justificava com o momento político: É revolta desta juventude desassistida.

Muda a forma de governo, continuo com a mesma necessidade de entender tamanha descaracterização urbana. Observo que diminuiu - um pouco - e os muros agora mais pichados são os dos clubes Paissandu e Remo, sendo a rixa entre torcedores de futebol, a justificativa para continuação do vandalismo. Em julho último, aproveitando a redução das chuvas naquele Estado, lá estava eu, novamente, mergulhada, 17 dias, no movimentado verão paraense

Observei agora uma acentuada melhora no zelo urbano daquela cidade, beneficiada pela riqueza da Amazônia, e com posição privilegiada na Baía de Guajará. Notei um cuidado mais acentuado não só do Governo como dos habitantes da cidade, com a redução significativa de ruas e praças sem asfalto, tradicionalmente arborizadas, agora também limpas. É certo que precisa ser ainda radicalmente modificada no seu sistema de esgotamento, culturalmente funcionando em caneletas a céu aberto, escorrendo das residências aquele líquido amarelo grosso, (tucupi) como sobra da diversidade de pratos da sua saborosa Culinária.

Também continua drástica a irregularidade das calçadas, principalmente nos bairros afastados do centro, traçadas sem obedecer a nenhum padrão funcional, ficando a cargo de cada proprietário: modelo, dimensão, altura, promovendo um perigo para os transeuntes, e a dúvida se você opta por enfrentar os carros na rua, ou continua nas desastrosas construções junto a caneletas descobertas.

No mais, como Belém já era linda pela Natureza, e edificações admiráveis, conseqüentes do apogeu da Borracha, agora mais bem cuidada, está estonteante! Certo é que hoje a elogio. Não perdoava antes o fato de, ela pertencer a uma região tão rica e produtiva, onde “tudo que se planta dá” ou nem precisa se plantar, diferente do que é viver no Nordeste. Julgava que eles não sabiam aproveitar as benesses da Natureza. A chuva de todos os dias não é lenda. Quando ainda lá ia com as crianças, sempre em julho, os paraenses eufóricos com a estação, enchendo as praias fluviais, a chuva chegava sempre às 15hs (mudou agora para as 17h) e nós a esperávamos para finalmente decidir pelo regresso das praias de Mosqueiro. Aviso aos baianos, que ali, a ponte que liga esta Ilha ao Continente já foi construída a mais de 20 anos, com dimensão de 1.500K, e não tirou o romantismo, continuando exótica, como deverá continuar a Ilha Itaparica se o Governo da Bahia construir o mesmo equipamento, desmistificando, assim, opiniões opositoras .

Culinária exuberante, resultado de enorme quantidade e variedade de peixes, patos e outras aves no molho do tucupi, o tacacá, o açaí, frutas regionais, sorvetes, picolés e os bombons delas derivados. A brisa do rio-mar velando a pracinha da vila de Mosqueiro, onde os veranistas lotam, sentados em cadeiras levadas de casa, formando reuniões familiares e de amigos, a assistirem shows realizados no Coreto. Ainda: parque infantil, barracas de comidas e de bugigangas e pequenos restaurantes. Ali você quer que a noite não termine, pelo clima e tranqüilidade. Não se ver um gesto de violência. Crianças, adultos e idosos convivendo prazerosamente.

Também, no bairro da Cidade Velha, no centro da Capital, você pede para o tempo parar. Em volta da praça bem cuidada, o Casarão das 11 janelas ladeado pela Baía de Guajará, em cujo cais os namorados se curtem, na noite de pouca iluminação. Proposital? Velhas igrejas bem cuidadas, ruas limpas, como prova de que pode - se mudar o hábito de um povo. O Mercado–Ver–o-Peso apresenta-se agora organizado, dividido em bosques limpos, demonstrando aos que apostaram na derrocada, como conseqüência da mudança, que ele não perdeu a exuberância, nem a espontaneidade. “Os urubus, antes comuns na área, se mudaram para outras paragens, enquanto vendedores, compradores e turistas só aumentam” informou um satisfeito feirante.

Acrescente a este montante de atrações, a Estação das Docas, monumento de lazer, considerado um dos mais “instrumentalizados” do mundo. Ali são apresentadas as atrações musicais em um elevador tipo camarote que atravessa sua extensão em trilhos, por cima de bares bem servidos e diversificados. Outra atração que deixa o turista deslumbrado é o ambiente do Mangal das Garças, com sua vegetação característica, habitat desta ave solta e faceira, em grande quantidade, bons restaurantes e vista privilegiada do encontro das águas do rio/mar com o Oceano atlântico.

Jô Ribeiro
Enviado por Jô Ribeiro em 10/04/2012
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