CIDADE DE TIRADENTES - UMA VOLTA NO TEMPO
 
Conhecer a simpática e acolhedora cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, é um verdadeiro passeio pela história, com direito a muito pão de queijo, passeios inusitados e um íntimo contato com a natureza.
 
Todas as fotos que ilustram o texto são de Arnaldo Agria Huss
 
 
  Foto 1 – Placa na BR-265, já próximo a Tiradentes e São João Del Rei.
 
1. INTRODUÇÃO
 
Joaquim José da Silva Xavier – Tiradentes
Nascimento: Vila de São Jose Del Rei (atual Tiradentes/MG) em 1746
Criação: Vila Rica (atual Ouro Preto/MG)
Morte: Na forca, em 21 de abril de 1792

A História nos remete a uma série de feitos pelo Brasil, do minerador, tropeiro, alferes, dentista e um dos líderes dos inconfidentes, Joaquim José da Silva Xavier. Mas quem chega à cidade mineira, originalmente chamada de Arraial Velho, depois Vila de São Jose Del Rei e rebatizada sob a alcunha do alferes em 1889, após a instauração da República, pouco vai se lembrar do grande homem que morreu na forca lutando por um país independente e contra a dominação portuguesa em Minas Gerais, na época áurea do ouro.
 
Duas esculturas do mártir podem ser vistas em Tiradentes, mas essa charmosa e histórica cidade mineira tem muito mais para mostrar aos seus visitantes nas estreitas ruas com calçamento de pedras (algumas no estilo pé de moleque), nos casarios coloniais, nas igrejas, no artesanato e na Maria Fumaça. Por lá existe até um Museu do Automóvel.
 
Este pequeno município, encravado no pé da Serra de São José, além de ser rico em belezas naturais e inserido na rota da Estrada Real, transpira arte de todas as formas.
 
2. CAMINHOS – COMO CHEGAR
 
De São Paulo e Belo Horizonte, o melhor caminho (porém um pouco mais longo) é pela boa Rodovia Fernão Dias (BR-381), em pista dupla, até a entrada para a cidade de Lavras, seguindo depois pela BR-265 (pista dupla até Lavras e depois pista simples em bom estado) até Tiradentes, passando por São João Del Rei (12 km antes). Para quem vem do Rio de Janeiro, o melhor caminho é pela BR-040 até a cidade de Barbacena, seguindo depois também pela BR-265.
 
Distâncias aproximadas através das rotas sugeridas neste texto: De São Paulo = 490 km; De Belo Horizonte = 230 km; Do Rio de Janeiro = 330 km.
 
Foto 2 – Vista da BR-265 próximo a Itutinga, no trecho entre Lavras e Tiradentes. A rodovia foi recentemente recapeada estando em boas condições.
 
3 – HOSPEDAGEM
 
Tiradentes possui em torno de 170 pousadas para todos os gostos e bolsos. Mesmo com esse grande número, em épocas de temporada e feriados prolongados é bom fazer reservas, pois a cidade “ferve”. É uma cidade romântica, própria para viver a dois, valorizada pelas pousadas com decoração charmosa e quartos confortáveis e aconchegantes.
Uma das pousadas mais novas, e onde fiquei hospedado, é a Lis Bleu, cujo nome foi inspirado no lírio azul que tomava conta do terreno, antes da sua construção. São 12 chalés muito bem decorados, com lareira e frigobar, distribuídos em três níveis do terreno, alguns possuindo hidromassagem. A pousada conta também com piscina e sauna e ao lado delas, fica o restaurante onde é servido o delicioso café da manhã (no ponto mais alto da construção). O espaço possui um charmoso fogão à lenha à disposição dos hóspedes que quiserem derreter os vários tipos de queijos mineiros oferecidos. Doces, bolos, frios, geleias, pães de diversos tipos, além dos tradicionais pães de queijo servidos macios e quentinhos, completam o menu. O visual que se tem lá de cima é um presentão, pois fica de frente à Serra de São José. O casal proprietário (paulistanos) reside no local e os funcionários da pousada são atenciosos ao extremo. Engate um papo com o professor e amigão Carlos, que fica na recepção, e verá o quanto vai aprender sobre Tiradentes, mesmo ele também sendo paulistano, mas lá radicado há bons anos. O preço da diária nos chalés sem hidromassagem, com café da manhã incluído, é de R$ 473,00 (outubro 2014), sendo oferecido desconto de 8% para pagamento em dinheiro ou cheque. Endereço: na pacata Rua Ovídio de Abreu, 152, a 100 metros da Estação Ferroviária e a 700 metros do centro da cidade (dá para ir a pé) – Telefone: (32) 3355.1434/63 – Tiradentes/MG. Site: www.pousadalisbleu.com.br
 
 
 Foto 3 – Vista do restaurante da pousada, vendo-se ao fundo a Serra de São José.
 
4 – GASTRONOMIA
 
Come-se muito bem em Tiradentes, afinal estamos em Minas Gerais. Os restaurantes oferecem ambientes agradáveis e uma gastronomia de primeira, possuindo, pelo menos, oito deles estrelados pelo Guia Quatro Rodas Brasil, Edição 2014. Um dos estrelados, o Tragaluz – Rua Direita, 52 – tem atmosfera romântica com luz de velas. Os outros estrelados são: Pau de Angu, Estalagem do Sabor, Virada’s do Largo, Leitão do Luiz Ney, Kitanda Brasil, Theatro da Villa e Angatu. O Atrás da Matriz – Rua Santíssima Trindade, 201 – serve ótimas pizzas no forno à lenha e vários pratos à base de bacalhau norueguês. De maneira geral os restaurantes mais famosos de Tiradentes não são baratos, mas o valor compensa pela quantidade, qualidade e ótimo atendimento. Muitos servem a tradicional comida mineira, como o frango com quiabo, meu preferido. Você vai ouvir falar muito numa hortaliça chamada “ora-pro-nóbis”, cujo nome, em latim, significa “rogai por nós”, muito usada no preparo de molhos. Também há restaurantes que servem comida a quilo e pelo menos dois deles ficam na Rua Ministro Gabriel Passos. Um é o Quinto do Ouro, no nº 135. O outro é o Divino Sabor, no nº 300. No Largo das Forras e nos seus arredores existem restaurantes e lanchonetes de vários tipos, alguns oferecendo música ao vivo. Um lugar muito agradável para se passar bons momentos.
 
5 – IGREJAS
 
5.1 Matriz de Santo AntonioPode ser vista de vários pontos da cidade, uma vez que fica num ponto alto, na Rua Câmara, no centro histórico. Construída em 1710, é um dos mais belos e ricos templos barrocos de Minas Gerais. Chegam a impressionar os lustres de prata e o ouro que decoram o altar e suas imagens. Sua fachada foi modificada em 1810, obra atribuída a Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, tendo a porta frontal entalhada em pedra-sabão. É a segunda igreja mais rica em ouro do Brasil, junto com a Igreja de Pilar, em Ouro Preto, com 492 quilos do precioso metal. A primeira é a de São Francisco (Salvador/BA) que ostenta 1.192 quilos de ouro. De seu adro é possível apreciar boa parte de Tiradentes, emoldurada pela Serra de São José, local de onde é possível registrar belíssimas imagens, com o mosaico dos telhados dos antigos casarões. Nesse adro fica um relógio de sol colocado lá em 1875, que hoje é um símbolo da cidade. O ingresso para visitação normal custa R$ 5,00 (não há meia entrada). Às sextas-feiras (20 h), a artista Elisa Freixo toca composições clássicas no órgão português de 1788, que tem oito fileiras de tubos e belíssimas pinturas em estilo rococó. Foi reformado no ano de 2009, em Barcelona, Espanha.
 
 Foto 4 – Fachada da Igreja Matriz de Santo Antonio.
 
5.2 – Nossa Senhora do Rosário dos Pretos – Construída pelos escravos, até hoje tem uma torre inacabada. O altar-mor é folheado a ouro no estilo rococó. Nos altares laterais há imagens dos santos negros São Benedito e Santo Antonio de Categeró. A igreja foi construída pelos negros e para eles, que trabalharam na sua construção à noite, depois do trabalho normal durante o dia. É a igreja de escravos mais rica em ouro do Brasil (cerca de 10 quilos). A entrada desse ouro na igreja era feita pelos escravos que levavam o pó de ouro escondido no couro cabeludo e entre as unhas. Lá dentro, lavavam-se em uma bacia e depois utilizavam o ouro para pintar a igreja. Fica na Rua Direita, s/n, esquina com a Praça Padre Lourival, no Centro Histórico. De quarta a domingo, 10h às 18h. Ingressos a R$ 3,00.
 
 Foto 5 – Fachada da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. À direita, a torre inacabada.
 
5.3 – Igreja Nossa Senhora das Mercês – Tem fachada simples e interior pintado por Manoel Victor de Jesus, que trabalhou na Matriz de Santo Antonio. Encontra-se fechada para restauro, com verba do BNDES, sem previsão de reabertura. Largo das Mercês, s/n.
 
 
 Foto 6 – Fachada da Igreja Nossa Senhora das Mercês.
 
5.4 – Igreja São Francisco de Paula – Construída em 1703 para os escravos comuns é a segunda igreja mais antiga da cidade, restaurada recentemente. Fica no Alto de São Francisco e proporciona uma bela vista de Tiradentes, sendo um ponto catalogado como mirante. O grande gramado em frente, não tão bem cuidado, é um lugar clássico para curtir o fim de tarde e registrar belas imagens. Desse mirante, à noite principalmente, segundo os guias turísticos, é possível ver-se a imagem de São Francisco no frontal da Matriz de Santo Antonio. Confesso que não consegui visualizar a imagem, mas a vista, tanto de dia como de noite, é mesmo muito bonita e vale subir até lá (a pé ou de carro). Encontrava-se fechada para visitação, abrindo somente para alguns cultos que ali se realizam.
 
 
Foto 7 – Fachada da Igreja São Francisco de Paula e o gramado em frente.
 
6 – MUSEUS
 
Tiradentes conta com quatro museus que merecem ser visitados pela beleza, pela curiosidade e pela história que guardam. Os ingressos são baratos por tudo que se pode ver dentro deles.
 
6.1 – Museu de Sant’Ana – O mais novo museu de Tiradentes, foi inaugurado em 19 de setembro de 2014. Instalado na antiga cadeia pública, o museu abriga 300 imagens de Sant’Ana, a santa protetora dos lares e da família, bem como dos mineradores. São obras brasileiras de várias regiões do país, produzidas em sua maioria por artistas anônimos, entre os séculos XVII e XIX, em materiais diversos. Reunidas por Angela Gutierrez ao longo de quatro décadas de buscas e pesquisas, as peças constituem um acervo sem similaridade no país. A coleção impressiona pela beleza, originalidade e relevância. O Museu de Sant’Ana é um espaço cultural de contemplação e visitá-lo é deixar-se levar ao encontro das raízes das crenças populares e da formação cultural do Brasil. É permitido tirar fotos em seu interior. Fica na Rua Direita, 93, Centro Histórico. A entrada é pela Rua da Cadeia (perpendicular à Rua Direita). Telefone (32) 3355.2798. De quarta a segunda-feira, das 10h às 19h. Ingressos: R$ 5,00 (inteira), R$ 2,50 (meia). Conta com monitores treinados para esclarecimentos de dúvidas.
 
 
 Foto 8 – Uma das imagens expostas no Museu de Sant’Ana.
 
6.2 – Museu da Liturgia – Com instalações audiovisuais e terminais multimídia, exibe mais de 400 peças ligadas à liturgia católica, dos séculos XVII ao XX. No pátio, em cada banco de pedra ouve-se uma mensagem ou música sacra. Uma das mensagens contidas no interior do museu e que chamou a minha atenção: “Na simplicidade da natureza, encontra-se a poesia divina; são os simples de alma que a compreendem”. Não são permitidas fotos em seu interior. Fica na Rua Jogo de Bola, 15, atrás da Câmara Municipal. Telefone (32) 3355.1552. De quinta a segunda-feira, das 10h às 17h. Sábados de 10h às 19h. Ingressos a R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia). Conta com monitores à disposição dos visitantes.
 
 
 Foto 9 – Pátio e entrada do Museu da Liturgia.
 
6.3 – Museu do Padre Toledo – Em 2012 foi reaberto trazendo uma nova proposta: valorizar, além da história do inconfidente, a construção em si. Uma das salas, com apenas um longo sofá ao centro, transporta o visitante ao século XVIII, convidando-o a admirar a pintura do teto ao som das charretes que passam pelas ruas de pedra. Ali morou o controverso e influente padre inconfidente Carlos Correia de Toledo e Mello, que foi vigário da Paróquia de Santo Antonio entre 1777 e 1789. O museu abriga uma coleção de móveis, imagens e pinturas da época. Algumas curiosidades envolvem a vida do polêmico padre Toledo, mentor de todo o movimento inconfidente. Uma delas diz respeito ao seu envolvimento com a Maçonaria e a defesa dos mulatos, para as quais construiu a Igreja São João Evangelista, anexa ao museu. Isto porque, em meados do século XVIII, os mulatos não podiam assistir às missas na igreja dos brancos porque tinham sangue negro e nem na igreja dos negros, pois, ironicamente, tinham mistura dos brancos. Em frente ao museu há uma estátua de corpo inteiro de Tiradentes. Fica na Rua Padre Toledo (Largo do Sol), 190 (Centro Histórico). Telefone (32) 3355.1549. De terça a domingo das 10h às 16h30. Ingressos a R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia). A visita é feita acompanhada de um guia que fornece as principais informações.
 
 
 Foto 10 – Pintura no teto do Museu do Padre Toledo.
 
6.4 – Museu do Automóvel da Estrada Real – O colecionador Rodrigo Cerqueira Moura adquire os veículos desde a década de 1970 e faz a restauração de todos eles, que estão em estado de novos. Os veículos são divididos em três setores: americano, europeu e nacional. Quando estive lá o mais antigo era um Buick Phaeton, de 1928. Alguns veículos ainda aguardam restauração, mas também se encontram expostos. Fica na estrada para Bichinho (local de venda de artesanatos), a 5 km do centro. Telefone (32) 3799.8033. De quarta a domingo das 9h às 18h. Ingressos a R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia). Para quem curte automóveis, uma visita imperdível.
 
7 – O CENTRO HISTÓRICO
 
O Centro Histórico começa oficialmente no Largo das Forras, assim chamado, pois era o local onde os escravos recebiam suas cartas de alforria. A principal característica da área que pertence ao Centro Histórico tombado pelo Iphan é a ausência de fiação aérea nas ruas. Ela deve ser toda subterrânea, para resgatar a época dos lampiões, o que já não acontece na chamada periferia do Centro Histórico, onde os imóveis têm as mesmas características arquitetônicas dos demais, mas a fiação é aparente. Outra exigência do Iphan é que as casas sejam de parede branca na fachada, com portas, portais e janelas na cor de preferência de seu proprietário. Outra curiosidade está relacionada ao calçamento das ruas que, na época do alferes Tiradentes, era de terra e depois, por iniciativa dos próprios moradores, ganharam pedras miúdas, chamadas pé-de-moleque (ver item 11), devido ao formato semelhante ao doce homônimo. Um lado que vi como negativo é a permissão para a circulação de automóveis e outros veículos motorizados pelo Centro Histórico. Entendo ser inadmissível essa permissão, haja vista que os pedestres normalmente circulam pelo meio das ruas e a presença desses veículos acaba por descaracterizar por completo o local, chegando mesmo a incomodar.
 
 
 Foto 11 – Vista da Rua Direita, com a charmosa charrete que leva os turistas a belos passeios pela cidade. Note o casario, todo pintado de branco.
 
8 – PASSEIOS MOTORIZADOS
 
8.1 De trem até São João Del Rei – São 12 quilômetros (cerca de 40 minutos) margeando o Rio das Mortes, com vista para a Serra de São José – no sentido Tiradentes/São João, quem senta no lado direito do vagão vê melhor a paisagem. Os horários em outubro de 2014 eram os seguintes:
• Sextas e Sábados: Saídas de São João Del Rei: 10h e 15h / Saídas de Tiradentes: 13h e 17h;
• Domingos: Saídas de São João Del Rei: 10h e 13h / Saídas de Tiradentes: 11h e 14h.
Ingressos: R$ 40,00 só ida e R$ 50,00 ida e volta.
Para ter mais tempo de conhecer as cidades, pode-se voltar de táxi que custa cerca de R$ 40,00.
 
8.2 De jardineira – Este passeio é obrigatório e muito concorrido, sendo aconselhável fazer reserva, pois são apenas 7 lugares. O tour pela cidade foi idealizado há oito anos pelo guia turístico e motorista Luiz Fernando Neves (um simpaticíssimo carioca) e é feito à noite na Charmosa, uma jardineira de 1935, com buzina característica da época e com direito a muitos sacolejos. O veículo pertence ao Museu do Automóvel da Estrada Real (subitem 6.4). Com bom humor, ele nos apresenta a cidade em cerca de duas horas, com riqueza de informações históricas e boas dicas sobre a cidade. Os dias normais dos passeios são de quinta a domingo, com saída às 18h30 a partir do Largo das Forras, em frente à Lanchonete Barouk. Mas havendo pelo menos quatro pessoas pode-se também tentar um agendamento nas segundas, terças e quartas-feiras. Ele carrega no veículo mantas para todos os passageiros, pois é comum fazer aquele frio gostoso durante o passeio, principalmente nos lugares mais altos, como no mirante onde fica a Igreja São Francisco de Paula. O passeio custa R$ 60,00 por pessoa e vale muito a pena. O agendamento pode ser feito com o próprio Luiz através dos celulares: (32) 9948.2370 e (32) 9957.4757. Seu e-mail: luizfernando.neves@hotmail.com.
 
 
 Foto 12 – Vista da Charmosa, a jardineira de 1935.
 
 
 Foto 13 – Este é o simpaticíssimo Luiz Fernando Neves, guia e motorista da jardineira.
 
8.3 – De jipe – O mesmo Luiz Fernando que conduz a jardineira, criou também outro passeio (que não cheguei a fazer), este em um jipe Toyota que percorre a zona rural de Tiradentes, com ênfase para a Serra de São José.  Informações e agendamentos  nos mesmos telefones e e-mail citados em 8.2.
 
8.4 – De charrete – Para entrar no clima do Brasil colônia pode-se alugar uma charrete que percorre os principais pontos turísticos da cidade. Custa, em média, R$ 70,00 por hora (a charrete e não por pessoa), mesmo assim um tanto exagerado. Mas sempre dá para barganhar com o charreteiro.
 
8.5 – Bichinho – Fica a 8 quilômetros do centro de Tiradentes através de estrada pavimentada, parte em asfalto e parte em paralelepípedos. O distrito de Bichinho começou com a fundação da Oficina de Agosto em 1991, pelo artista plástico Antônio Carlos Bech. Na ocasião, ele começou a ensinar técnicas de artesanato aos moradores. Hoje há vários ateliês na rua principal, inclusive a própria Oficina de Agosto. É um lugar específico para a venda de artesanatos e só vale a visita se desejar comprá-los, pois, além disso, não há mais nada para se ver por lá.
 
8.6 – São João Del Rei – Entre as cidades históricas mineiras, é uma das que mais se desenvolveu economicamente, com um bom comércio e trânsito relativamente intenso. Conserva uma boa parte de seu patrimônio, como a exuberante Igreja de São Francisco de Assis e a Catedral Nossa Senhora do Pilar. Imprescindível uma visita ao moderno Memorial Tancredo Neves, com recursos digitais que contam a história do ex-presidente do Brasil, assim como de Minas Gerais. Não são permitidas fotos no interior do Memorial. Vale visitar também (apenas externamente) o Solar dos Neves, no Centro Histórico, residência do ex-presidente Tancredo Neves entre 1957 e 1985, ano de seu falecimento. Dista cerca de 13 quilômetros de Tiradentes através da BR-265.
 
8.7 – Outros municípios próximosCoronel Xavier Chaves (~ 17 km): No trecho velho da Estrada Real fica o engenho mais antigo do Brasil em atividade, o Boa Vista, numa fazenda erguida em 1775 pelo irmão mais velho de Tiradentes. Lá você encontra a Cachaça Século XVIII, que usa uma receita de mais de 250 anos, a preços variando de R$ 20 a R$ 300, de acordo com a safra. A cidade também oferece rendas, abrolhos, crivos e bainhas portuguesas vendidos diretamente nas casas das artesãs. Prados (~ 30 km): Muito sobe e desce nesta pequena cidade, com construções históricas bem preservadas. O artesão Julião esculpe animais em tamanho real a partir de troncos de carvalho e cedro. As obras podem variar de R$ 50 a R$ 40 mil. Aceita encomendas. Resende Costa (~ 38 km): O ponto forte deste município são as peças artesanais de tear, com preços acessíveis. Há uma igreja em estilo barroco – Matriz de Nossa Senhora da Penha de França – construída em 1749.
 
9 – ATRAÇÕES TURÍSTICAS
 
9.1 – Chafariz de São José de Botas – Datado de 1749, e um dos locais mais visitados pelos turistas, a construção se destaca por ter similaridade com uma fachada de igreja. A água abastecia os habitantes e os animais da cidade, além de ser utilizada para lavagem de roupas. Tudo isso era feito no mesmo local? Sim, pois a construção possuía três pontos de reserva de água. A primeira, que caía das três fontes frontais, era reservada ao consumo humano. Havia também dois tanques laterais: um era utilizado para dar de beber aos animais e o outro por escravos para a lavagem de roupas. Fica na Rua do Chafariz s/n, Centro Histórico. Ouvindo o guia Luiz Fernando dissertar sobre a construção e história deste chafariz, fica-se impressionado com a engenharia aplicada na época, pois a água era oriunda de uma fonte no Bosque Mãe D’Água, e levada até ele por um aqueduto, em parte coberto por pedras pesadíssimas. E a própria distribuição da água para as três fontes também é de impressionar.
 
 
 Foto 14 – Vista do Chafariz de São José.
 
9.2 – Trilha Mãe D’Água – A entrada para esta trilha fica ao lado do Chafariz de São José e é aberta à visitação, sem guia, das 8h às 16h. Não cheguei a adentrar muito por ela, mas segundo informações que colhi é uma trilha fácil, com aproximadamente 1 km de extensão. Não há cobrança de ingresso.
 
 
 Foto 15 – Trilha Mãe D’Água. Note o aqueduto que levava a água para o Chafariz de São José, recoberto por pesadíssimas pedras. Um trabalho de construção insano para os escravos da época.
 
9.3 – Serra de São José – São várias trilhas que levam o andarilho aos principais mirantes, a até 1.260 metros (de duas horas e meia a cinco horas, com graus de dificuldade baixa a média). Todas atravessam a chamada Calçada dos Escravos, do século XVIII. Não se aventure a ir sozinho. As agências de turismo de Tiradentes têm guias para as caminhadas, que custam entre R$ 50,00 e R$ 75,00, com seguro. Tiradentesbrasil (3355.2477); Uai Trip (3355.1161).
 
10 – COMPRAS
 
O comércio é um tanto limitado, pois se trata de uma cidade pequena, com pouco mais de 7.000 habitantes. Mas se o assunto for a compra de doces e queijos mineiros, o endereço certo é o Empório Doces e Queijos, que fica num centrinho comercial à Rua Ministro Gabriel Passos, 238. O telefone é (32) 9984.9722 e a proprietária, Danúbia, é um doce de pessoa (sem trocadilho). Produtos deliciosos e de alta qualidade. Ela aceita pedidos por telefone e se compromete a enviar os produtos para sua casa, evidentemente acrescentando os custos da postagem nos correios. Recomendo sem medo de errar.
 
11 – A HISTÓRIA DO PÉ DE MOLEQUE
 
Luiz Fernando, o motorista da jardineira, nos conta durante o passeio a história do pé de moleque. O nome desse doce de amendoim com rapadura vem de uma expressão correntemente falada antigamente, quando as doceiras deixavam o doce esfriando na janela das casas e os meninos de rua roubavam pedaços da iguaria. Ao advertirem a prática, as doceiras disparavam: “Não rouba, menino, pede, moleque!”.  E assim nasceu o nome do doce, que também batiza as pedras, que resistem ao tempo até hoje.
 
12 – CONCLUSÃO
 
Estando em Tiradentes, não tem como não nos sentirmos vivendo na época do Brasil colônia e dos inconfidentes. Quase tudo em seu Centro Histórico nos conduz nessa volta ao passado, uma época sem tanta pressa, onde as pessoas ainda hoje gostam de comer (muito bem, por sinal), rezar e prosear. Na maioria das casas há uma cruz na porta com o símbolo do Divino, uma tradição que se renova todo dia 3 de maio, Dia de Santa Cruz, quando todas são abençoadas em uma missa especial, para dar proteção aos seus moradores.
 
 
 Foto 16 – Cruz com o símbolo do Divino.
 
E, finalmente, prosear com os tiradentinos é uma maneira muito peculiar de se conhecer a cidade. Se você puxar conversa com algum deles vai ouvir tudo o que a cidade tem a lhe oferecer de bom. Experimente, afinal, papo com mineiro é sempre muito bom. E o sotaque, então. Não tem igual.
 
Aproveite bem sua viagem e sua hospedagem nesta cidade que o tempo não conseguiu maquiar.
 
 
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