ADEUS A JEFFERSON

Um desabafo de Laurídece Péres, viúva do senador Jefferson Péres de que ela teria preferido as homenagens em vida não tem muita razão de ser. Um político, no que se tornou o professor Peres aos 56 anos, recebe seu reconhecimento através do voto. Não se conhece, na história do Amazonas, político que tivesse feito campanha mais draconiana em termos de gastos e panfletagens como o falecido e assim mesmo ter sido conduzido e reconduzido ao Senado Federal. Claro que ela preferiria seu marido vivo, homenageado ou não, senador ou não, o que é natural esperar de uma esposa dedicada.

Jefferson Péres transpôs a fronteira do Amazonas com seu discurso e práticas éticas para tornar-se um referencial nacional neste campo. Equilibrado, sua postura estava acima dos partidos políticos, acima das rotulações de esquerda ou direita, de oposição e situação. Sua postura influenciava partidos políticos e não dependia deles. Não fez a política pequena, nunca entrou no leilão de cargos ou promoções para si, para amigos, parentes ou amigos e parentes dos amigos. Em outras palavras, foi um político de verdade como deveriam ser todos.

Defendeu a Amazônia, a democracia, a ética na política. Um dos idealizadores da Lei de Responsabilidade Fiscal, que limita os poderes dos executivos, foi também candidato a Vice-Presidente da República, mesmo sabendo que não teria chances de ser eleito. Viu, muito entristecido, a ética pública que tanto defendia, quase ir à pique com a eleição do seu rival Jader Barbalho à presidência do Senado Federal.

Como candidato à Vice Presidência, defendia, juntamente com o titular a bandeira da educação. Como o titular, Cristóvão Buarque, também ele era oriundo do magistério e sabia que qualquer progresso aparente se torna efêmero quando não alicerçado nas bases que vêm da escola.

Jefferson Peres morre repentinamente em sua casa. Não condicionou nenhum familiar a acompanhar uma possível agonia lenta, demorada. Trabalhou até o último dia. Resistente e inflexível em seus ideais não resistiu à morte com o mesmo desapego que tinha em vida aos bens materiais. Recolheu-se à sua casa e partiu deixando um corpo pequeno para ser enterrado. Para seus admiradores e eleitores resta a esperança de que, qual semente que tem que morrer para dar frutos, o estilo de administrar a coisa pública também germine quando a voz já seja audível para defendê-la.

Pela lei da suplência assume a vaga deixada por Péres o seu substituto, Praia. Sai um Jefferson e entra outro Jefferson. Praia assume a vaga de Peres com idade menor do que tinha este quando ingressou na vida pública, aos 56 anos. Embora não seja muito simpático fazer planos em cima do cadáver ainda quente, a vida tem mecanismos que nos empurram a não esquecermos as necessidades imediatas.

Jefferson Praia recebe a missão hercúlea de substituir Jefferson Peres. A torcida de todos os eleitores e dos amazonenses em geral é que ele se dê bem. Preparo, capacidade e honestidade não lhe faltam. Economista que gosta de detalhes, números e percentagens, milita na vida política desde muito jovem. Como comunicador, sempre realçou a participação dos pequenos empresários, dos artesãos criativos e, principalmente daqueles que escolheram os meios disponíveis à sua volta para desenvolver negócios.

Ao novo senador só nos resta desejar que tenha tenacidade, equilíbrio, humildade para exercer seu mandato, porque sabemos que capacidade, preparo e honestidade não lhe faltam. Ah, mais umas coisinhas: tenham também muita sorte e fé no Criador.

Luiz Lauschner - escritor e empresário é conselheiro nacional da Abrasel.

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 25/05/2008
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