MADEIRAS EM ALTO RIO

Uma notícia num jornal da cidade, no último dia 27 de maio me deixou pensativo. Dizia a reportagem que o IBAMA tinha aprendido uma jangada com cerca de 3.000 metros cúbicos de madeira, extraída de uma área não autorizada no estado do Amazonas. Confesso que fiquei intrigado olhando as fotos muitas e muitas vezes. Fiz uns cálculos rápidos e cheguei a um número fantástico. Se forem confirmados os números da reportagem, a jangada deveria cobrir uma área, sobre as águas de 5.000 metros quadrados. Uma área maior que um campo de futebol. Eu não vi nada disso, embora o fotógrafo tenha tirado as fotografias com a máquina perto do nível das toras para aumentar o impacto.

Suponhamos que os fiscais, para aumentar a metragem, não usem a tabela Francon nem façam outro desconto que as madeireiras fazem na hora da compra. Apliquem a velha fórmula do Raio ao quadrado multiplicado por 3,1416 e pelo comprimento. Sem os descontos dos 25% de perda no esquadrejamento e considerando todas as toras sem oco.

Diz a reportagem que há entre as madeiras muitas de baixo valor comercial, mas não falam do valor comercial das madeiras mais nobres, se as há. Para quem não sabe, as toras de boa qualidade, que pesam mais que a água, tem que estar entremeadas com toras de baixa qualidade, que flutuam para que não venham a afundar. Bem amarradas, argoladas sem encostar uma em outra durante o banzeiro, porque senão a tendência é se soltarem. Por isso o cálculo. Se fossem toros de um metro de diâmetro seriam necessárias cerca de 500 delas, todas com 8 metros de comprimento. Se forem mais finas, a área sobre as águas aumenta muito.

Admitamos apenas para exercício matemático, que sejam 3.000 metros cúbicos, resultantes de aproximadamente 250 árvores adultas de madeiras diversas. A função do barco seria apenas de dar um certo rumo, em dias de navegabilidade boa, sem muito vento, deixando a movimentação da jangada por conta da corrente. Um comboio bem iluminado para impedir que outras embarcações a atropelem e se acidentem levando a jangada a pique.Continuemos com o exercício matemático: cada árvore ocupa uma área na floresta em torno de 60 metros quadrados. Assim estes 3.000 metros cúbicos representam uma área “devastada” de 15.000 metros quadras, ou, se preferirem ; 1,5 hectares. Um hectare e meio.

Antes mesmo de medir a carga os fiscais já se apressaram em apresentar multas de cerca de R$ 300.000,00 mais a apreensão da madeira que representa um valor muito menor que a multa alardeada.

Embarquemos numa mentira geral de que madeireiro devasta a floresta. Mentira porque madeireiro não devasta nada. Ele apenas escolhe as árvores adultas, que sejam comercialmente interessantes para serem serradas e transformá-las em tábuas, lambris, perna mancas caibros esteios, azimbre, lastro de cama, cadeira de restaurante ou armário de cozinha. No mais ele até ajuda o meio ambiente porque, ao tirar as árvores adultas que já deitaram semente forma uma clareira para que novas árvores possam crescer de forma mais rápida e renovar a floresta.

Acreditemos que o madeireiro não faça nada disso. Acreditemos que ele não vá escolher árvores adultas num raio de 4 ou 5 hectares e depois de 10 anos possa voltar ao mesmo local e fazer tudo de novo. Esqueçamos isso e acreditemos que devaste um hectare e meio pra formar a jangada em questão. Depois, caso o IBAMA não prenda a mercadoria, receba da indústria um pouco mais de R$ 100,00 por metro cúbico. Esta indústria processa a madeira, absorve a quebra e consegue pôr no mercado algo abaixo de 2.000 metros cúbicos de madeira beneficiada. Para chegar a isso, a indústria trabalharia, serrando 500 m3 por mês, durante meio ano, com um contingente de 25 pessoas se a maquinaria for de boa qualidade.

Sei que estou sendo lido por pessoas inteligentes que sabem onde quero chegar. Aliás, que já chegaram à minha frente. Todo o estardalhaço em torno da madeira é feita porque alguns hectares alimentam uma indústria por meio ano.

A atividade madeireira é dificultada por toda sorte de percalços onde o IBAMA é um dos “atrapalhativos” mas não é o único. Mesmo que houvesse uma tolerância maior, o número de madeireiras no Amazonas só cresceria se houvesse devastação promovida pelos pecuaristas ou agricultores. Sem isto continuaria estagnada. Por um fator muito simples: muito investimento, muita preocupação e pouco lucro.

A atividade madeireira, se considerarmos a riqueza do subsolo da Amazônia, em minerais, petróleo e gás, é tão pífia que nem entra nos cálculos dos economistas. No entanto é a mais visada pelos ambientalistas, que de seus escritórios em Londres, Nova Iorque, Amsterdã ou Oslo puxam os cordéis e manipulam os técnicos e legisladores dentro do governo brasileiro.

O tratamento dado aos madeireiros é apenas mais uma das distorções que imperam neste nosso querido país.

Luiz Lauschner – Escritor e empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 27/05/2008
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