Charles Aznavour

Palais du Congrès, Paris, outono de 1994.

No palco, Charles Aznavour no show dos seus setenta anos. Na platéia, nossas lágrimas emocionadas por estarmos lá, pela beleza das músicas, pela vitalidade do cantor. Estávamos sentados lá atrás, no alto, mas tínhamos uma visão global do enorme palco do Palais du Congrès. A cada canção, uma nova emoção!

Saímos do show extasiados, e queríamos terminar a noite no Champs Elisées, para onde fomos para poder comentar sobre a maravilha que havíamos presenciado. Foi uma noite mágica, inesquecível!

Via Funchal, São Paulo, outono de 2008.

No palco, Charles Aznavour no seu show de despedida, aos oitenta e três anos. É difícil imaginar um homem dessa idade ficar em cima de um palco durante duas horas, cantar mais de vinte músicas sem tomar nem um copo d’água, sem desafinar, sem um mínimo sinal de cansaço...

Aznavour é um homem magro, de baixa estatura, mas com uma voz linda, que juntamente com a performance que ele faz em cada canção, faz com que ele cresça, tornando-se enorme no palco, onde nove músicos o acompanham .

Um piano de cauda, um piano de armário, um teclado, um acordeão, uma guitarra, um contrabaixo, um baterista, um percussionista e duas vocalistas compõem a banda que o acompanha nas canções que ele vai desfiando, sem intervalo, diante de uma platéia hipnotizada.

Há canções conhecidas, que arrancam aplausos já nos primeiros acordes, como “She”, “Que c’est triste Venise” e “La Bohème”. E como dizia Edith Piaf, para cada canção, um gesto muito particular... O chansonier canta com a voz, o coração e as mãos... Mãos que já apresentam os sinais da idade, com artrite, mas que se tornam lindas ao fazer os gestos da linguagem dos sinais em “Mon émouvant amour”, canção feita para uma surda-muda, ou em “La Bohème”, quando imita o gestual de um pintor que retoca um quadro e depois limpa as mãos em um lenço.

Há canções para nós desconhecidas, como “Je voyage”, cantada em dueto com sua filha, e uma “Ave Maria” que nos levou às lágrimas...

E Charles Aznavour dança... Com uma leveza surpreendente, rodopia com os braços abertos, quase flutua no final de “Emmenez-moi”. Parece dançar consigo próprio ao cantar “Les plaisirs démodés” (The old fashioned way)...

Saímos do teatro com a alma lavada, cantarolando aquelas músicas que embalaram nossa juventude e tantos momentos inesquecíveis... E inesquecível, inoubliable é esse momento que para sempre vai estar impregnado em nossa memória e em nosso coração

Todas as pessoas saem deste show com um só pensamento: “quero chegar assim a essa idade!” Valeu a pena viajar 400 Km para ter a felicidade, a alegria, a graça de assistir a uma maravilha dessas!

Hermes Falleiros

24 de abril de 2008.