IMIGRANTES E DESCENDENTES

IMIGRANTES E DESCENDENTES

Faz 100 anos que os japoneses começaram a vir ao Brasil. Discriminados no início, por sua aparência diversa e por sua língua incompreensível, não demorou, no entanto a se firmarem como uma comunidade ordeira e muito, muito trabalhadora. Com tradições rígidas é, provavelmente, a nação mais disciplinada.

Em 1980, quando as indústrias japonesas perderam o estigma de meras copiadoras e foram se expandindo pelo mundo com seus produtos e fábricas, as grandes empresas começaram a visitar o país para conhecer seu povo e aprender com eles. Um reportagem da revista alemã, Stern, da época estampava: “Von der Japaner lernen? Nein!” Mostrava a reportagem o que não se devia copiar dos Japoneses.

Entre as coisas não copiáveis estava a dedicação absoluta ao trabalho e à empresa que emprega. Acreditavam os repórteres, na época, que a sagrada reverência que os trabalhadores japoneses tinham pela empresa era uma espécie de alienação. Mal sabiam que as esposas destes trabalhadores, preteridas das companhias de seus maridos para dar lugar ao trabalho, sentiam o maior orgulho pelo que o marido estava fazendo. E, da maneira oriental, em vez de reclamar da ausência o estimulavam a trabalhar mais. O mais incompreensível para os ocidentais era que o móvel de tal estímulo não era o dinheiro. Muitas vezes, a formação profissional era adaptada às necessidades do trabalho, nem que representasse uma guinada de 360 graus. Hoje, a atividade feminina também está em todos os setores da economia do Japão.

Embora a constituição japonesa tenha sido escrita pelos americanos, em 1945, ela sofreu poucas modificações. Vencedores da segunda guerra, com a experiência das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, impuseram aos vencidos uma constituição à moda ocidental que os japoneses até hoje seguem. Claro que há artigos que poderiam ser suprimidos por absoluta falta de uso, como alguns que sugerem que a lei está acima dos laços filiais, coisa inimaginável para a cultura nipônica, para quem os antepassados e os pais são sagrados. O restante do cumprimento fica por conta da disciplina.

Agora o Brasil espera a visita do Imperador Akihito. O filho de Irohito, que teve um papel tão importante na reconstrução do Japão no pós-guerra quebrando uma tradição milenar e falando ao povo, Akihito também quebra uma tradição viajando para fora do Japão. O imperador está para os japoneses num patamar tão ou mais sagrado que o papa está para os católicos. Por questões protocolares e de segurança, o Amazonas não receberá a visita do imperador, embora esteja entre os estados que recebeu grande número de imigrantes japoneses e tenha aqui importantes indústrias de origem nipônica, como a Honda, Yamaha, Sony entre tantas outras.

Impossível não exercer e sofrer influências quando se atravessa o mundo para viver em outro país. Muitos dos descendentes já não falam mais a língua de seus antepassados. O costume alimentar também foi adaptado à região. Contudo foram abertas portas para a entrada de princípios da cultura japonesa para o Brasil. O Amazonas foi o segundo estado brasileiro a receber o livro base da Seicho-No-Ie, doutrina que prega harmonia entre os povos e entre as religiões e que foi muito importante na retomada do Japão devastado pela guerra, como também na pacificação dos japoneses no Brasil. Akihito também segue na mesma linha, procurando harmonizar o Japão com tradicionais inimigos como a China e a Rússia. Mas isto é outra história.

Por aqui, no início, os japoneses viviam em comunidades muito fechadas, o que está cedendo lugar a uma miscigenação muito proveitosa. Hoje, os nikkeis estão em todas as atividades econômicas. Eles, como tantos outros imigrantes que vieram da Europa, África e Ásia estão dando uma importante contribuição na formação do povo brasileiro que é, afinal, esta mistura da qual somos fruto.

Luiz Lauschner é escritor e empresário.

www.luizlauschner.prosaeverso.net.

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 15/06/2008
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