BULLYING: A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

Não é nenhuma novidade a violência existente no interior das escolas. Contudo, a tendência é se acreditar que essa violência existe apenas em algumas escolas, especialmente as da periferia. Ledo engano, ela está presente em qualquer escola, inclusive, nas mais conceituadas.

Convencionou-se chamar de “bullying” os atos agressivos de estudantes contra seus colegas. O vocábulo inglês significa intimidação e passou a designar também atos de humilhação, perseguição, discriminação, difamação, isolamento, etc.

A socióloga Miriam Abramovay, pesquisadora da Unesco e vice-coordenadora da seção brasileira do Observatório de Violências nas Escolas, entende que o que existe nas escolas brasileiras não pode ser enquadrado como bullying: “O que temos aqui é a violência escolar. Se nós substituirmos a questão da violência na escola apenas pela palavra bullying, que trata apenas de intimidação, estaremos importando um termo e esvaziando uma discussão de dois anos sobre a violência nas escolas”.

O médico Aramis Lopes Neto, membro da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia), faz a seguinte definição: “bullying diz respeito a atitudes agressivas, intencionais e repetidas praticadas por um ou mais alunos contra outro. (...) não se trata de brincadeiras ou desentendimentos eventuais”.

A posição de Abramovay deixa claro uma distinção entre bullying e violência escolar. Contudo, somos de opinião que todas as atitudes definidas como bullying (ofender, injuriar, quebrar pertences, empurrar, beliscar, dar pequenos chutes, puxar os cabelos, etc.) são, na verdade, modalidades de violência. Destarte, entendemos o bullying como a violência escolar em níveis diferentes.

Estudos recentes indicam que as atitudes definidas como bullying existem em escolas de todos os níveis socioeconômicos do mundo inteiro. O fenômeno começou a ser estudado a 10 anos nos EUA, mas foi na Grã-Bretanha que esses estudos mais evoluíram e ganharam contornos pragmáticos: ali existe atualmente um programa anti-bullying nas escolas.

A Abrapia define os estudantes envolvidos com o fenômeno nas seguintes categorias: “alvos”, são os alunos que se colocam apenas na condição de vítimas; “autores”, são os que praticam tais ações contra outros alunos ; “alvos/autores”, são os que ora estão na condição de vítima ora são autores; e “testemunhas” que são aqueles que presenciam a prática mas não participam nem como alvos nem como autores.

Entendemos que, na linha de definição da Abrapia, poderão ser enquadrados como testemunhas apenas aqueles que são indiferentes aos acontecimentos, porque aqueles que, embora não pratiquem o comportamento agressivo, se manifestam com risos ou algo parecido poderiam ser enquadrados também como autores.

Sabe-se que a carência afetiva e a convivência com atos de violência, dentro e fora de casa, levam a criança ou o adolescente a se tornar tímido, inseguro, taciturno. O indivíduo inseguro acaba por adotar duas linhas de conduta: tornar-se passivo e manipulável ou do tipo que tenta suplantar sua insegurança mostrando-se agressivo e temeroso.

O bullying é, portanto, uma reprodução comportamental do ambiente doméstico e social que vive o aluno, ou seja, os componentes básicos do fenômeno originam-se no processo de socialização de seus autores e vítimas. Com freqüência, alguns dos autores dessa prática se enveredam pela criminalidade.