Como ser um bom repórter

Sábado, dia 21 de junho, fui com algumas amigas assistir à palestra do jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de São Paulo, sobre Jornalismo Comunitário.

Ele iniciou dizendo que já conquistou todos os prêmios que sua carreira poderia lhe dar. Ou seja, já chegou ao topo. Pobres daqueles que ainda nem conseguem um mísero emprego na área...Bem, mas mudemos o rumo. Este jornalista, com sua vasta experiência, disse que sempre foi um aluno vagal, boêmio. E até pensou em seguir a carreira de medicina ou sacerdotal. Mas o seu perfil não condizia com nenhuma das duas profissões e escolheu então fazer com as palavras a mediciana da cura, da confidência, satisfazendo assim seu desejo incial de ser médico ou padre.

Gilberto diz que o bom repórter tem que ter sensibilidade para tragédia, gostar de má notícia, perceber onde está a sacanagem, o erro, o deslize. Se não descobre falhas é mau profissional. Saber qual é a notícia que causa maior impacto na vida dos indivíduos. Características que ele garante que sempre possuiu. "A boa notícia é má para alguém. Os prêmios são dados para notícias de tragédias. O jornalista presta um grande serviço ao país por estar com esse olhar".

Após um ano de pesquisa e reportagens sobre assassinatos de crianças, onde nasceu o livro Guerra de Meninos, em 1989 - fatos que segundo o escritor não estava na agenda da mídia no momento, mais ligada a questões políticas que sociais - Gilberto percebeu com seu trabalho que esta situação da infância no Brasil era semente para violência. Sua carreira então tomou outro rumo. Agora observava não para denunciar, mas para mudar, principalmente com a educação. Para ele, a visão do educador mostra que por pior que seja o indivíduo, por pior que seja o país, há uma esperança. O jornalista viu-se então criando livros paradidáticos, currículos para escola e ainda preocupado com os problemas, mas emocionado com a solução.

" A vida só tem sentido quando a gente faz qualquer coisa que gosta para viver, construir a partir do que acha que é relevante", disse o homem que se considera o último otimista do Jornal Folha de São Paulo.

Por este ângulo o jornalista diz que se mantiver o olhar treinado só para tragédia, deixa de ser perceptivo, e olha somente o que não funciona. Deixa de descobrir o que é o mundo comum das pessoas. "É preciso investigar o leitor, pesquisas apontam que ele quer saber de boas notícias de sua comunidade"

Outro ponto discutido pelo jonalista quanto à mídia atual é sobre a alta dispersão da informação. Segundo ele o futuro da imprensa é de quem selecionar melhor, quem tem poder de síntese, de afinar o olhar. "É um trabalho difícil porque tem que acompanhar tudo para ter esta habilidade sintetizadora. O futuro é das pessoas que selecionam e informam de forma resumida e charmosa". Em uma comparação ele diz que o educador é o intermediário entre informação e conhecimento. A informação é o tijolo, o conhecimento é a casa. Então o conhecimento é a informação tornada útil, neste sentido o comunicador se coloca no mesmo patamar do educador.

Em sua coluna na Folha de São Paulo ele diz que usa esta técnica, pega tudo que é relevante, lapida e transforma em diamante. Além de apontar o que acontece, coloca uma solução.

Gilberto, que também leciona no Colégio Bandeirantes em São Paulo, diz que o bom professor é apaixonado, entusiasmado pelo conhecimento, fomentador de novos acontecimentos sociais, e acredita que quem não gosta de aprender não gosta de ensinar. "É preciso ter curiosidade e vontade de aprender. Tem o aluno que pode não ser bom em algo mas é bom em outra atividade e se tem atitude curiosa, junto com talento, vai pra frente. Cada um pode fazer diferença", garante o jornalista.

"Círculo virtuoso é o que se dá quando as pessoas se juntam para fazer boas coisas." Gilberto Dimenstein