Eu ensinei a todos eles...

Falar de educação pra quem está distante, de fora do processo e não conhece a realidade latente no interior das escolas e as comunidades onde estas estão instaladas é fácil. Falar de uma realidade que se desconhece, ignora e repudia também é fácil e mais fácil ainda é falar do profissional que atua na educação, principalmente quando não se conhece o professor que atua nas periferias de São Paulo. Falar da formação, jogar a culpa do caos do ensino na má formação é muito fácil, mas quem está fazendo o discurso da má formação? O que seria a formação de um profissional? Quero isentar daqui a idéia da especialização..., mas quem está jogando a culpa do caos da educação na má formação dos professores diz-se ou pelo menos se julga ESPECIALISTA. De que...? Em meter o pau nos professores pelos quais também passou? Olha meus caros, a educação está mesmo ruim, e tudo começou com o jesuitismo, o tecnicismo e a porcaria do taylorismo e o fordismo e agora? Ah, já ia me esquecendo, o demoníaco NEOLIBERALISMO, é a nova desgraça que está matando os professores e a educação paulista. Engraçado! Os críticos da educação, os pseudos pedagogos e pseudos especialistas no assunto falam... falam..., e nunca comparecem às escolas da periferia para ver a realidade dos bairros e das escolas.

Tem aluno que se forma no ensino médio, sem nuca ter visto um tubo de ensaio na vida; sem nem saber como se olha num microscópio e sem nunca ter freqüentado uma sala de laboratório. Laboratório! O que é isto? Não existe na maioria das escolas públicas da periferia. Pena! Só alunos de escolas particulares têm acesso a ótimas salas de informática e de laboratório. As escolas têm o vídeo, más não se sabe o que é uma sala de videoteca. Se um professor deseja enriquecer as suas aulas com um bom filme, tem que locar por conta própria, e se usar filmes piratas pode perder o cargo! As bibliotecas não são BIBLIOTECAS, e sim DEPÓSITOS DE LIVROS, ou seja, não tem estrutura de biblioteca, não têm cara de biblioteca e nem se parecem co BIBLIOTECA. Em algumas escolas, principalmente na região de Itapevi e Jandira, os computadores que chegaram acerca de dois anos ficarão obsoletos por não ter uma sala de informática, ou por que, a instalação da escola é ainda da década de setenta. Uma escola da região que não convém citar o nome passou mais de um mês tendo aulas com banheiros fétricos por falta de água. Depois descobriu-se que água tinha, só que estava indo pro chão, por serem os canos, muito velhos, por isso estavam rompidos. Ou seja, ainda se usa canos de ferro na Era do Plástico! A sida dos alunos é escura com riscos de cair na vala ao lado... Em muitas escolas nem se sabe quem faz parte da APM e Conselho Escolar não existe e, se existe é só no papel. Não há prestações de contas a APM nem o Conselho se reúne. Simplesmente a escola é dos diretores! Os professores, estes perderam totalmente sua autonomia, não escolhe mais os seus coordenadores e não podem optar por coisa alguma, após essa nova CARTILHA imitação do CAMINHO SUAVE da época da DITADURA, as coisas tendem a piorar. Agora tem ai um infeliz decreto 53037/08 que não veio para melhorar, mas pra desgraçar ainda mais a vida do professor. Como querem melhores professores com tanto desestímulo, desvalorização da categoria e com tantos ataques da mídia e do governo cercado por seus “críticos” especialistas? Por que o concurso pra coordenadores foi direcionado, e alguns autores que falam da valorização do professor foram deixados de lado? Por que uma cartilha agora para o professor seguir? Por que querem selecionar agora os ACTs e não qualificá-los? Por que avaliar o EFETIVOP depois de tantos concursos públicos com autores renomados? Qual a competência de que quer avaliar os professores? Por que não investem mais nos professores, não reduzem às 40 horas-aulas (alguns casos até 60 horas-aulas) para apenas 20 horas-aulas por semana e um só período com um salário de pelo menos 2000 reais por mês. Sabem os especialistas em educação e o governo quanto ganha um PAPILOCOPISTA na polícia civil em São Paulo? Dois mil (2000) reais pra trabalhar três dias por semana num período de 4 horas diárias! Nível escolar: médio!

Vale a pena ser professor? Pelo sonho e pela utopia sim, mas por remuneração, não! Além da má remuneração o professor é obrigado a conviver com a visão deturpada daqueles que escrevem de longe sobre a educação. O professor tem que matar um leão por dia pra tentar ministrar uma boa aula, tem que enfrentar as críticas da mídia feita por jornalistas que nunca visitou o interior de uma escola pra escrever suas reportagens. Eles vêem as escolas por fora, e por fora é fácil fazer jornalismo porque por fora as escolas estão pintadas com cores coloridas, mas por dentro estão pichadas, sem estrutura alguma pra que ocorra um bom ensino. Se um professor erra... Deus me livre! Se a secretária erra e escreve “ENC|INO” no lugar de ENSINO com S, a mídia se cala. Chega de hipocrisia! Se o ensino está caótico, isso começa com o secretariado do governo. Querem agora moralizar a educação culpando os professore? Absurdo! Culpem a política neoliberal... Culpem as mudanças erradas feitas a partir da LDBEN 9394/96. Ressuscitaram Darcy Ribeiro pra aprovar uma lei cheia de falhas, desprezando um projeto muito melhor na Câmara! Por quê? Por que o Darcy era muito mais interessante ao sistema vigente. A Educação de São Paulo perdeu a capacidade de ser a melhor educação do país no estado mais rico da América Latina. Os alunos deixaram de ser críticos como os da década da Ditadura, cadê a UNE? Cadê a UBS? Cadê os movimentos estudantis? O professores estão sendo encurralados pela política do “corte de gastos” do governo que empurra a cartilha que eles autoritariamente publicaram chamada de “PROPÓSTA PEDAGÓGICA”. Uma CARTILHA senhores... Não seria melhor voltar à cartilha CAMINHO SUAVE? Pelo menos nessa o aluno aprendia! A ditadura foi mais flexível que esse governo. Estamos vivendo a época da bestialização da educação, e o pior de tudo é que enquanto a mídia evita cobrir a greve dos professores a realidade vai só piorando. A luta continua até o fim do decreto 53037.

Olha o que diz um trecho do texto de Célio Muller, advogado especializado em Direito Educacional, professor universitário e autor do Guia jurídico do mantenedor educacional.

“Educar é uma arte. Mas também é um trabalho de grande impacto social, com repercussão direta no desenvolvimento do País, pois seria impensável uma nação sem escolas, sem estudo e sem professores”. (Revista Profissão Mestre)

Educare, educar é muito mais que ensinar alguma coisa, como ler é muito mais que decifrar códigos e escrever muito mais que saber juntar as palavras. Queremos sim, ensinar os alunos a ler além das letras e a escrever além da escrita, mas pelo visto não querem isso. Essa cartilha da secretária veio pra inibir a criticidade do professor e do aluno. Como eles querem uma educação melhor? Forçando os professores a aceitar o inaceitável. Ta parecendo que estamos vivendo na Alemanha nazista onde o Sr Hitler dizia uma palavra e todos tinham que repeti-la! “Menos manteiga, mais canhão”, diria. É só falta ao nosso ilustre governador em plágio repetir as palavras do ditador: “A liberdade é um cadáver em putrefação”. É, porque, até isso ele está nos tirando com esta cartilha! Liberdade de cátedra, é isso que torna a profissão docente interessante, instigante e mais crítica, sem liberdade pra ensinar não se ensina, repete e reproduz conhecimentos prontos. É, só faltava essa, estamos voltando ao famoso “ENSINO EMPACOTADO” tão criticado por Paulo Freire, estamos voltando ao FORDISMO, tecnicismo, Taylorismo e a todos os ismos do passado da educação brasileira: o lema agora é LINHA DE PRODUÇÃO, quanto mais alunos passarem de ano, melhor. Estão transformando a escola numa fábrica de péssimos cidadãos lotando as salas e fechando outras escolas, tudo para reduzir gastos. Taylor iria ficar muito feliz com o direcionamento que estão dando a educação. Operários... à luta!

Obs. Se tiver algum erro, me desculpe, foi feito às pressas!