Grupo Galpão: assistindo com a bunda no chão 

              Estava bastante frio quando saí de uma reunião de trabalho para assistir a apresentação do Grupo Galpão em Lavras. Cheguei em cima da hora, custei a encontrar um lugar para estacionar.O espetáculo estava começando e foi difícil arranjar um lugar razoável para me ajeitar. Empurrando daqui e dali e sendo empurrada também,  de longe avistei um amigo e fui para junto dele. Foi nesse momento que atinei que estávamos em cima da ponte - eu nunca tinha assistido uma peça tão de perto e muito menos em cima de uma ponte. Sentei-me em um ressalto, junto aos cenários, os atores esbarrando em mim para terem acesso ao centro do palco, ou seja, da ponte. Logo percebi que dera uma mancada: comecei a ficar gelada (é a região mais fria da cidade) e não conseguia me levantar. Para fazer isso eu teria que dar um galeio  correndo o risco de parar no meio da ponte me chocando com as pernas de pau ou me apoiar em um estranho. Tive que me conformar e ficar ali, encorujada até o fim e ainda por cima imaginando uma catástrofe: e se a poente cair? E se o parapeito ruir? E se alguém despencar e cair no rio?.  

     A peça apresentada foi Um homem é um homem, de Brecht que é um teatrólogo e poeta de respeito. Classificada como comédia, é,   na minha opinião, uma comédia danada de violenta. Eu gostei muito mas questiono o fato da platéia ser formada por um número grande de crianças. Os pais deveriam ter se informado melhor antes de levarem os filhos para aquela geladeira ainda mais para ver tiros (Falsos, é claro!), suicídio, roubo e prostituição. O pano de fundo é a ocupação de um país oriental por um exército ocidental, lugar comum na vida real. Conta a história de um estivador que sai para comprar peixe para o almoço e acaba comprando um pepino. Um indivíduo que não sabe dizer não e portanto facilmente manipulado. Envolvido por soldados ele acaba se trasnformando em um guerreiro altamente violento. Nesta montagem encontramos elementos latinos, orientais e americanos compondo um samba do crioulo doido globalizado. É uma peça que nos faz rir bastante, mas acabada a exibição, enquanto vamos para casa e mesmo depois, já com a cabeça no travesseiro, o que fazemos é pensar. Pensar na situação do homem e do mundo.

       O Grupo Galpão é um grupo de teatro mineiro, de Belo Horizonte, existente há uns vinte e cinco anos. Sua origem é o teatro de rua mas também se apresenta em palcos. Vive viajando e se exibe em várias partes do mundo. Já participei de atividades deste grupo em seu Centro Cultural no Horto, que é um local de referência para a cultura mineira.

        Apesar do frio a apresentação  em Lavras foi um sucesso. Queixos batendo em direção aos carros, as pessoas comentavam e os comentários, elogiosos. Eu fiquei com uma frase na cabeça: primeiro o estômago, depois a moral.