Lei Seca, uma “obra-prima”

O que o Brasil tem de diferente de Austrália, Canadá, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Itália, Portugal, Espanha, Suíça, Inglaterra e Estados Unidos, entre outros países, além de educação, cultura, saúde, segurança, saneamento avançado (não básico), lazer, cidadania, poder público eficiente, estradas pavimentadas, cadeia para todos, soberania nacional, entre outros infinitos fatores?

É muito simples a resposta: Tem LEI. Tem LEI DE VERDADE!!!

Calma, muita calma meus amigos... Não pensem que, a partir de agora, o Brasil vai pôr na cadeia meninos de 16 nos que estupram, torturam e degolam mocinhas por aí, não. Também não vai condenar à prisão perpétua (nem aos trinta anos, de fato) marginais que arrastam crianças pelas ruas das cidades. Também não vai encarcerar por trinta anos pessoas que adicionam água oxigenada ao nosso leite, nem quem adultera os medicamentos que tomamos para nos curar do leite... Perdoem-me, mas desviar dinheiro de ambulâncias, decorar apartamentos com lixeiras de 850 reais, depositar na empresa do filhão 5 milhões, assinar chequinhos de mensaleiros, receber mensalões, receber mensalinhos e outros conosquinhos que tais também não é crime, não! Quer dizer, é tudo crime, mas não é punível, não (dependendo de quem cometa). Cartões corporativos, dinheiro do BNDES para entidades assistenciais à gurizada, serviços superfaturados? Esqueça!

Estamos falando é da Lei Seca, essa que entrou em vigor para dizer que está proibido o chope entre os amigos no “happy hour” da sexta-feira, o coquetel nas festas de casamento, aniversários de mãe em pizzaria, batizados, churrascos de fim de semana, Natal, Ano-Novo etc.

O que eu acho mais engraçado nessa história é que não se proíbe publicidade das bebidas em horário nobre. Não consigo imaginar por quê. Será que dá muito dinheiro?

Também não consigo entender por que não proíbem logo o consumo de álcool em geral. Talvez porque o iluminado que escreveu lei e os que votaram nela não queiram que todos sejam criminosos, como eu fui até hoje - e continuarei sendo. Sim, porque muitos deles bebem, e bastante, até mais do que nós que bebemos com consciência. O que diferencia a nós, criminosos, deles, legalistas, é o motorista particular. E essa historinha de vários marmanjos saírem juntos e um único “nerd” levar todos os outros para casa é de lascar, hein! Como é que alguém pode acreditar numa conversa dessa? Então, a partir de hoje, também, eu só posso sair para um bar qualquer se estiver com amigos, e da minha região. OK, a solidão também é crime, tudo bem.

Existe maior hipocrisia do que uma lei contra o consumo de álcool que é sancionada por um dos maiores consumidores de álcool do país? Eu pelo menos nunca foi fotografado no estado em que ele já foi. Ora me poupem! Não se modificam atos culturais com atos normativos.

O congresso legisla para um mundo e vive em outro. Aprova uma lei que só se aplica aos brasileiros normais, que vivem aqui embaixo. Nós estamos proibidos de beber dois copos de chope, mas eles continuarão bebendo, hoje, amanhã e sempre. O presidente e outras tantas autoridades deste país continuarão tendo direito a motoristas, seguranças e salários, ou melhor, pensões, mesmo depois de deixarem o poder.

Por inoperância de nossas autoridades, ineficiência de nossas leis penais e desigualdade jurídica, de fato, entre os diferentes brasileiros conforme a estirpe é que somos obrigados a aceitar essa aberração jurídica chamada Lei Seca.

Estou com o saco bem cheio desses vermes que sustentamos para regrar nossas vidas; esses que legislam para uma sociedade e vivem em outra. Estou cheio de brasileiros que, sendo povo como eu, aplaudem uma cretinice dessas, sob o argumento de que enfim vão acabar os assassinos do trânsito. Como são tolos, como são imbecis esses pobres brasileiros, que votam num semi-analfabeto (e pé-de-cana também) para governar-lhes, e o aplaudem pelo "bolsa-esmola", agora com reajuste, afinal as eleições estão aí.

Se as leis brasileiras fossem rígidas com quem tem de ser, e aplicadas realmente, não seria necessária Lei Burra, ops, Lei Seca. Se agissem com severidade contra quem dirige “embriagado” e é flagrado ou, pior, quem “causa acidente” estando embriagado, não precisaria declarar criminoso quem toma dois chopes. Mas para que matar os carrapatos, um a um, se é mais fácil matar a vaca com um tiro de canhão?

Do jeito que a coisa anda, vão acabar trocando o chopinho pelo baseado, que, pelo menos, no bafômetro, não é alcagüetado.

Éder de Araújo
Enviado por Éder de Araújo em 29/06/2008
Reeditado em 08/07/2008
Código do texto: T1056931
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