ONDE FOI QUE ERRAMOS?

Nunca em tempo algum, nesses tempos denominados “modernos” em que vivemos, se têm assistido a tanta violência. São estupros, assaltos, homicídios, latrocínios, seqüestros de todos os tipos: relâmpago, curto, médio e de longo prazos, roubos, extorsões, além dos hediondos genocídios destituídos de motivos, que ocorrem através da ação dos malfadados criminosos em série, que simplesmente adquirem armas de grosso calibre e, deliberadamente, atiram em meio a um conglomerado de pessoas na intenção clara de exterminá-las; e o mais incrível é que esses mega-assassinos não fogem; eles se entregam e fazem questão de dar entrevistas dizendo em alguns casos com certo orgulho de suas façanhas sanguinolentas, expondo os detalhes da premeditação que antecedeu ao hediondo crime...

Se entrevistarmos populares nas ruas acerca dos motivos da violência, a maioria certamente alegará ser essa proveniente da pobreza, da miséria, da fome, do desemprego etc. E muitos guardam convictamente a concepção de que oferecendo emprego e condições de vida material digna para todos, a violência cessará, ou pelo menos será significativamente diminuída.

Ledo engano. Os maiores e mais hediondos crimes têm ocorrido não em países de terceiro mundo, onde predominam a escassez, os conflitos generalizados, as guerrilhas ideológicas, mas sim nos de primeiro mundo... Para ser mais claro focalizemos os Estados Unidos da América do Norte, país que vive o ápice de sua organização e equilíbrio tanto econômico como tecnológico. É justamente na Terra do Tio Sam, onde deveria ser concretizado o tão propagado “sonho americano”, é que têm ocorrido os mais horrendos crimes, sobretudo nos meios mais esclarecidos e privilegiados materialmente.

Ninguém certamente se esquece que em São Paulo, numa noite de quarta feira, num dos mais conceituados Shoppings, o Morumbi Shopping, um estudante do sexto ano de Medicina, filho de família de classe “média alta”, levou à morte dois seres humanos inocentes - e poderiam ser muito mais -, num cinema em pleno horário de exibição de um filme, desferindo contra elas rajadas de metralhadora que obtivera facilmente de traficantes. Em seguida, depois de capturado, o que não foi difícil - uma vez que esse tipo de assassino faz questão de detalhar seus feitos - confessou tratar-se de crime que há muito havia premeditado; e quando perguntado pelo motivo que o levara a tal atrocidade, não soube responder.

Repitamos a pergunta: Onde foi que erramos? Onde foi que a sociedade se enganou?

Será que se enganou estabelecendo a concepção de que o homem se realiza com a plenitude material? Se enganou quando deixou sua vida religiosa em terceiro plano, passando a dar tudo à “César” e quase nada à Deus? Se enganou considerando que a formação acadêmica e cultural é tudo quanto o homem necessita para sua vitória interior?

Será que se enganou quando achou que a medicina, os remédios, os anti-depressivos e outros tantos “antis” seriam eficientes o bastante para restabelecer o equilíbrio da química cerebral do homem?

Será que se enganou passando o tempo todo ocupado com o ter (adquirir, açambarcar, reter, acumular) e se esqueceu de ser (humano, solidário, fraterno, bom, caridoso, desapegado)?

O fato é que está mais que provado que a violência não mora na favela, nem na mansão, nem na mente do desempregado, nem no traído, nem no culto, nem no artista, nem no louco... Não tem morada certa. Pode surgir em qualquer lugar, da mais maquiavélica forma, e muitas vezes proveniente de pessoas que computamos isentas de quaisquer suspeitas de insanidade.

A verdade é que o problema da violência está na alma.

Alma? Que coisa abstrata! Só se fala nela quando se conversa a respeito de filmes ou quando se trata de ficção. Ela que ainda se encontra catalogada no campo dos mistérios...

Será que em pleno Século XXI ainda pensamos que o ser humano é apenas um conglomerado de células, neurônios, nervos que se agregam ao acaso e se desagregam com a morte?

Será que ainda guardamos a concepção de que somos fabricados pelos nossos pais, filhos do acaso ou de uma vil paixão, ou mesmo de um ato de amor, e que simplesmente tivemos sorte de nascermos perfeitos, ditosos ou vítimas da fatalidade de nascermos pobres, doentes e muitas vezes condenados desde o berço?

Está na hora de pensarmos com a razão, com o bom senso, com toda a inteligência que podemos mobilizar.

Neste mundo não haverá mais lugar para o temente, para o fiel, para o submisso, para os seguidores de mentes vazias.

Está na hora de nos libertarmos das teias da ignorância e das superstições injustificadas.

Estamos em época de transição, de renovação. De adentrarmos num novo tempo, em que a verdade está ao alcance de todos.

Descubramos a nós mesmos.

Se assim o fizermos, certamente compreenderemos melhor as aberrações que nos cercam; e mais ainda teremos a certeza da veracidade do velho dito popular que diz: “Deus escreve certo por linhas tortas”.