O Céu é o Limite?

O Céu é o Limite?

Armstrong

Em muitas cidades brasileiras se assiste, de forma passiva e meio desconfiada, a construção de arranha-céus para fins residenciais, cujas alturas superam em muitos andares o que se define como altura do bom senso. Embora não se saiba ao certo qual é essa altura ideal, em nome da qualidade de vida dos que vão habitar nos andares mais altos, pode-se ter a certeza de que deve haver um limite. Há muitos e muitos anos que se conhece o famoso Número de Ouro, consagrado pelo escultor e arquiteto Phidias na construção do Pathernon na Grécia, muito presente nas coisas belas da natureza, e que pode definir uma relação perfeita (relação áurea ou relação divina) entre a altura e a largura de um objeto, muito próxima de 1,618. O edifício das Nações Unidas em Nova Iorque, projetado pelo famoso arquiteto francês Le Corbusier, retrata bem essas dimensões ideais para uma edificação.

Geralmente, o principal motivo de se construir um edifício muito alto é o econômico, que decorre, muitas vezes, da especulação imobiliária existente nos centros das grandes cidades, dos muitos benefícios que são incorporados ao Condomínio ou dos altos custos dos materiais e da mão-de-obra utilizada. Há quem afirme, inclusive, que existe uma relação ótima entre a altura da edificação e o lucro máximo que pode ser obtido com a sua comercialização. Ou seja, em muitas situações, o que se busca quando se constroem essas aberrações não é o belo ou o confortável, mas o que pode dar um bom retorno financeiro ao empreendimento.

Tecnicamente, muitos são os fatores que podem limitar a altura de uma edificação. As guarnições de bombeiros, por exemplo, têm dificuldade para atender pessoas em situação de pânico ou de perigo de vida que estejam em posições não alcançadas pelas famosas escadas Magirus, as quais, em média, só alcançam alturas de 66 metros ou 22 andares. Também não se devem construir edifícios muito altos em regiões que dificultem qualquer trabalho de reforço de suas fundações, caso essa atividade venha a ser necessária para a estabilidade do edifício.

Morar nas alturas também é conviver com a constante preocupação com o perfeito funcionamento dos elevadores. Não raramente, os custos de manutenção têm obrigado os Condomínios a buscarem contratos mais baratos e peças não originais, as quais nem sempre permitem o bom funcionamento desses equipamentos. Vidros de janelas de andares altos, quando não são bem dimensionados, também podem quebrar-se sob a ação de ventos fortes. Também não se pode esquecer a possibilidade da ocorrência de terremotos, cujos esforços horizontais, atingindo as fundações da edificação, podem provocar oscilações exageradas nas edificações, causando pânico nos moradores.

Algumas cidades brasileiras, atentas ao problema, têm limitado a altura de suas edificações residenciais, estabelecendo valores limites em função de algumas características de seus bairros, de interesses de preservação de construções históricas ou da própria qualidade de vida dos seus moradores.

Os problemas ambientais e de transporte que decorrem da grande concentração de pessoas habitando bairros nobres das cidades onde, geralmente, os grandes edifícios costumam ser construídos, também não podem ser negligenciados pelos órgãos públicos responsáveis pela aprovação de projetos construtivos, os quais poderiam se espelhar nos órgãos que cuidam da proteção aérea, que, em muitas situações, têm evitado que se construam edificações que possam representar perigo para a aproximação de aeronaves.

Assim, é evidente que a construção de edifícios muito altos precisa ser legislada em muitas cidades brasileiras. Está mais do que provado que nas cidades onde esse assunto não é tratado como merece, as empresas construtoras buscam, quase sempre, o céu como limite.