MUITOS ANOS ATÉ O SUCESSO

Às vezes, ao repararmos numa grande empresa, ou numa casa renomada, não paramos para analisar se sempre foi assim. O começo difícil, a captação de dinheiro, o trabalho todo onde as pessoas que hoje estão “por cima” pegavam na massa, duramente.

Temos histórias lindas de empreendedorismo que são verdadeiros mestrados de administração e trabalho. Gigantes que surgiram de baixo pra cima, com abnegação, persistência e muita garra e vontade de oferecer ao público um produto diferenciado. Por vezes originaram-se de localidades interioranas com a vocação para um determinado produto. Foi assim com a Hering, a Sadia, Perdigão, Varig entre tantas outras. A multinacional Honda tem uma história comovente do ponto de vista humano e didática do ponto de vista da prestação do bom serviço e o oferecimento de um bom produto.

Henri Ford, o primeiro, costumava dizer que nunca tivera um fracasso na vida. Visto sob um prisma leviano, esta declaração nos levará a pensar que tudo foi muito fácil. No entanto, ele queria dizer que usou os aparentes fracassos como aprendizado, de onde sedimentou os degraus que levariam seu nome a ser sinônimo de automóvel.

Nossa história baré tem muitos exemplos: O sonho de I.B. Sabbá em explorar petróleo no Amazonas; de Azevedo que, de consertador de rádio e TV fundou o império TV Lar; de muitos e muitos outros, alguns oriundos dos beiradões e de outros estados, cresceram graças à sua persistência e criatividade.

No próximo dia 13 de julho fará 10 anos em que foi lançada a semente do Porão do Alemão. Criado para ser um kneipe, isto é: um barzinho do tipo pub, onde se serviria bebidas e também algo para comer, mudou rapidamente de direção. No início, a única bebida alcoólica servida era o chope, atitude corajosa que chegou a mudar o conceito sobre o bebedor de chope, em Manaus. Naquela época havia uma concordância geral de que chope era bebida de pessoas de meia idade pra frente.

Em pouco mais de um mês de existência, a casa se voltou para o público amante de rock e assim permanece até hoje. Na época da fundação não se sabia da coincidência de que 13 de julho era o Dia Internacional do Rock. A data não foi escolhida, o bar foi aberto quando estava pronto para receber o público. Por ter optado por rock, o bar sofreu inúmeras pressões e discriminações uma vez que no imaginário de muitos, o rock está associado à coisa ruim.

A palavra persistência é que mais cabe na história dessa casa noturna que impôs sua proposta de ser uma casa aberta ao público jovem, que gostava de rock e chope gelado. Resistiu à pressão autoridades ligadas à igrejas que queriam “expulsar demônios” da cidade, introduzindo uma alavanche lacradora de estabelecimentos na capital, como resistiu também à pressão de traficantes que acreditavam que ali poderia se tornar um ponto de venda de produtos ilícitos. A região onde se localiza, que antes servia como ponto de travestis e prostitutas, hoje está mais moralizada. O que mostra que a agitação de uma casa noturna organizada, ajuda mais que atrapalha a vida da cidade.

Como Henri Ford, que “nunca teve fracassos” o Porão também usou as pressões para adaptar a casa às exigências legais e tronar-se uma das casas noturnas mais seguras da cidade. Uma importante revista nacional concedeu, por três anos consecutivos o título de Melhor Fim de Noite, de Manaus.

Ao contrário que afirmava o ex-presidente Collor: “quem não tem condições para ser empresário que abra um bar”, o Porão mostrou que bar é coisa para empresário que além de muita persistência também deve ter um profundo amor por aquilo que faz.

A história costuma registrar somente a vida das grandes empresas. Contudo, os milhares de anônimos, com seus empreendimentos pequenos, não devem ser esquecidos, nem se lhes deve negar seu lugar entre os empresários.

Luiz Lauschner – Escritor e empresário é conselheiro nacional da Abrasel.

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 05/07/2008
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