HÁ 18 ANOS O BRASIL PERDIA CAZUZA

Há 18 anos morria Cazuza, o gênio indomável da música brasileira. O Brasil perdia o que tinha de melhor e mais irreverente na área do rock, por este motivo, há aqueles que ainda não acreditam em sua morte, acham que está vivo em algum lugar, compondo letras irônicas, profundas, que desvendem a essência da história deste país.

Como uma estrela, Cazuza ainda brilha no imaginário popular, viaja nos sonhos de cada cidadão, torna realidade o simples desejo de viver. Viver?! Quem não se emocionou ao vê-lo lutar com coragem, contra a doença do século? Quem não chorou ao vê-lo subir ao palco, em 1989, para receber o prêmio de melhor compositor, carregado no colo e aplaudido por uma platéia em pé?

Mesmo diante da morte, não fraquejava; permanecia lutando, pois acreditava poder vencer a doença, voltar aos palcos, representar o grito dos excluídos. Em 1990, enfim, perdia a batalha. O Brasil, perplexo, caía aos seus pés...Reis, rainhas, príncipes, princesas e plebeus, numa só voz, entoavam seus versos em sinal de luto. De todos os cantos, o que se via era um povo cabisbaixo, com expressão cansada, amarrado pelo medo, pela dor da perda do ídolo que consagrara nos palcos.

O Rei das Letras

Cazuza costumava dizer que não conseguia se definir, era tudo e nada ao mesmo tempo; seu amor pela composição, pela vontade de construir uma sociedade mais justa, democrática, em que os anseios de todos fossem ouvidos, faziam-no ficar dias e dias à frente de um folha de caderno, com lápis em punho, imaginando um país diferente.

Aos poucos suas canções tomavam forma; incorporadas à alma do brasileiro, traduziam desejos, revolta, amor pela pátria. A mesma pátria que agora o reconhecia como um nobre filho. A mesma pátria que era tema e título de sua canção de maior sucesso.

Dotada de um escárnio descomunal, de uma criatividade que beirava às raias do absurdo, Brasil, de 1988 (veja abaixo a letra da música), tema de abertura da novela Vale Tudo, de Gilberto Braga, desenterrava os problemas sociais da época, chamando o povo à reflexão. Quem não se lembra de ouvir Gal Costa, intérprete da música, entoando cada palavra como se fosse uma agulhada na história de um país atordoado pelas mazelas políticas de uma Brasília ensandecida? Naquele momento, a sociedade voltava-se para suas causas, revia-se como nação recém democratizada, decidia tomar um caminho, corrigir a intolerância de séculos e ser feliz...

O inconstante Cazuza

"Às vezes, fico triste, mas não consigo me sentir infeliz. Acho que o tédio é o sentimento mais moderno que existe, que define o nosso tempo. Tento fugir disso, pois tenho uma certa tendência ao tédio. Mas, felizmente, eu sou animadérrimo! Sou muito animado pra sentir tédio. Sou animado à beça, qualquer coisa me anima. Se você me convida pra ir à Barra da Tijuca, eu já digo logo: Vaaaamos!!! Qualquer besteira me anima. Tudo que já passei na minha vida não conseguiu tirar essa animação. Eu me sinto sempre ganhando presentes. Se faço uma entrevista e leio depois no jornal, acho tudo o máximo, o texto, a foto… Estou sempre ganhando brinquedos. Minha vida é muito assim: sempre morrendo de rir, nunca com tédio. E quer saber de uma coisa? O que salva a gente é a futilidade"- disse Cazuza, dias antes da morte.