Insólito.

Agora eu quero falar do que está me angustiando: quero falar do tal Amor. Este mesmo que chega sem pedir licença e se apossa daquilo que pensa lhe pertencer: nossos pensamentos, nossos desejos, nossas certezas, nos liberta e nos aprisiona.

Este a quem eu tanto temi, de quem tanto me protegi e que a cada instante se mostra mais perigoso. As pessoas dizem "Eu te amo" com tanta facilidade que eu até me assusto. Falam em amor acima de tudo, e eu me assusto mais ainda. Eu tenho medo. Isto não deveria ser verdade na vida de alguém tão jovem quanto eu.

Talvez não seja justo atribuir a minhas conturbadas lembranças o mérito por este temor. O caso é que por mais que eu deseje, não sou capaz de me mostrar e enfrentar este "encanto", e com isso eu me torno cada vez mais introspecta à medida que verifico as possibilidades.

Faltará confiança? Faltará coragem? Ou simplesmente "não está na hora"? E eu que sempre fui uma pessoa de reduzidas certezas...

Sempre fui "anti amor", no sentido das líricas e eternas juras pré-sexuais dos casais apaixonados dos filmes de romance; sempre preguei a valorização do "eu" antes de tudo. Tenho medo por não ser capaz de corresponder nem de acreditar plenamente nesta forma de afeto. Estou sem ação. Estou em conflito comigo mesma, com minhas convicções... Tenho medo de negar-me, contradizer-me...

Dizer "eu te amo" para mim, não é apenas pronunciar três palavras; é costurar almas, vidas... Ao dizê-las, ao assumir esta condição, estamos assinando involuntariamente um termo de desistência do "eu" para nos dedicar ao "nós", pois a partir daí, estaremos sempre preocupados com o outro, tentando não o desagradar, estaremos numa aeróbica permanente para conciliar o "outro" com o "eu" sem que nenhum dos dois se prejudique, o que muitas vezes não acontece. Estou confusa e assustada! Temo o cativeiro do amor possessivo que priva da luz da liberdade.

Encarecidamente, rogo ao leitor que não me eleja pessimista. Entretanto, devo assumir que a crença no amor para mim ainda é algo insólito; custo a aceitar. Custo mas não nego que exista. Na verdade, sonho com o dia em que o conheça, entenda e aceite. Que este dia não tarde! Um abraço!