Lições de Língua Portuguesa: a gramática em Monteiro Loato

Considerado o pai da literatura infanto-juvenil brasileira, assumindo o posto de grande iniciador deste gênero, seu ímpeto criativo para os pequenos ocorre quando o autor percebe a carência na produção exclusiva de livros voltados para esse público.

Tendo contato com a biblioteca herdada do avô Visconde de Tremembé, Monteiro Lobato ao publicar A menina do narizinho arrebitado em 1921 inicia-se com dedicação ao público infantil.

Criando um dos mais incríveis e fascinantes imaginários infantis com um toque de intensa brasilidade, o autor inicia a jornada de aventuras do Sítio do Pica Pau Amarelo com personagens que simbolizam a vivência infantil universal ocorrida em um tempo mítico, no qual não há barreiras entre a realidade e a fantasia.

As crianças são, naturalmente, as protagonistas de sua obra. Narizinho e Pedrinho, primos por natureza, encabeçam a força e a união ao desbravar as mais excitantes aventuras ao lado de Emília, a astuciosa boneca de pano e Visconde, o sabugo de milho inteligente por engolir vários livros de uma estante abandonada.

Dona Benta, Tia Anastácia e Tio Barnabé são os adultos que o autor retrata não inutilmente em sua obra. Enquanto a velhinha que cozia em uma cadeira de balaço exprime a maturidade e experiência de vida, a cozinheira e o caipira da região designam a cultura folclórica do país, razão pela qual sua obra tem um tom folclórico e nacionalista.

Ao dividir o corpus da obra de Monteiro Lobato, chegamos a três vertentes, denominadas: a) recreativa (Reinações de Narizinho), b) didática (Emília no país da gramática) e c) folclórica (O Saci).

Os livros dedicados à primeira vertente não são classificados segundo o critério de conhecimento normativo transmitido pela obra, tendo em vista que o autor tem como uma de suas preocupações a passagem de conhecimento e experiência em qualquer situação literária. Nesta vertente encontramos Reinações de Narizinho, O poço do Visconde e Fábulas.

Quanto às suas obras didáticas, Emília no país da gramática a que me refiro com mais atenção mais tarde, será a principal obra que encabeça este novo “estilo” do escritor. Neste viés, o conhecimento normativo é colocado em destaque, tendo em vista que com o uso de personagens de vivência infantil, esse conhecimento é acessado através de uma linguagem ao alcance da criança em seu contexto (século XIX). Temos como exemplo também A aritmética da Emília.

Em sua obra folclórica, Monteiro Lobato realiza um dos recursos mais geniais na confecção de O Saci, pois no enredo é o próprio Saci, personagem folclórico brasileiro, quem acompanha Pedrinho em uma jornada pela floresta, desvendando todos os seus mistérios.

Enfim, após todo este aparato a respeito de um dos mais importantes escritores da literatura brasileira, em especial da infanto–juvenil como iniciador, este artigo objetiva esclarecer tópicos gramaticais incutidos na obra Emília no país da gramática, publicada em 1934.

Através do índice do livro, podemos perceber que o autor traça um panorama da origem e evolução da língua. Além de organizar os mais conhecidos conceitos gramaticais como a nomenclatura das classes de palavras em “Gente importante e gente pobre” no qual há a diferenciação das classes, e aborda também conceitos de filologia e figuras de linguagem como em “A senhora Etimologia” e “As figuras de sintaxe”.

O enredo se desenvolve de maneira bem simples, Emília, Narizinho e Pedrinho são carregados em cima da “couraça impermeável” de Quindim, o rinoceronte da fazenda. Dessa forma, o autor faz uma alusão aos gramáticos tradicionais e ao seu ensino extremamente anti-didático e normativo.

De acordo com os lugares pelos quais os personagens passam, descobrem um conceito novo, uma idéia nunca antes mencionada ou até mesmo uma palavra desconhecida.

Através de passagens por países imaginativos, não só as classes gramaticais são esclarecidas pelo rinoceronte, mas também as regras de ortografia, acentuação e conceitos críticos a respeito de “temas polêmicos da língua” como a gíria.

Outro recurso de que o autor dispõe é a personificação e o tratamento dado às palavras, expressões e ao léxico gramatical, através delas como a Senhora Etimologia, a casa dos pronomes, e a gritaria na casa das interjeições, o autor elucida o leitor para uma aventura de interesse, na qual o único e primordial objetivo é saber para crescer.

Dessa forma, visando o alcance de conhecimento por parte do leitor de qualquer forma, Monteiro Lobato atribui uma função essencial à literatura, o prazer como ponto de partida para o conhecimento.

Ivan Reis
Enviado por Ivan Reis em 18/07/2008
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