O BAR, A MADEIREIRA E A OUTRA

Esta semana estive conversando longamente com um madeireiro do interior do Amazonas. Sua empresa, muito bem organizada: impostos, plano de manejo, folha de pagamento, fornecedores, tudo na mais perfeita ordem.

Acontece que o empresário em questão, de posse de todas as certidões negativas, tentava obter um financiamento para sua indústria, porque queria ampliar o parque de máquinas. A intenção não era aumentar a produção, mas agregar valor à madeira serrada e fazer um aproveitamento melhor das aparas, para a produção de carvão.

Fora atraído pela propaganda oficial que garantia financiamentos a juros negativos, com longos prazos para pagar. Acreditava que, por ser dono da empresa privada que mais arrecada impostos e que mais emprega no pequeno município, carente de quase tudo, ele poderia obter sucesso no seu intento. Foi barrado por causa de sua atividade: Madeireira.

O consultor do fundo, que o atendeu, explicou que tinham muito dinheiro para atividade agrícola, pesqueira, pecuária etc. Mas, segundo ele, pleitear financiamento para atividade madeireira era pura perda de tempo. Embora reconhecesse que, por ser a única industria madeireira do município, tinha uma abrangência social etc, mas não acreditava que conseguiria encontrar simpatia para sua causa.

O empresário ficou frustrado, como é fácil de entender. Tentou um financiamento em bancos privados, a juros de mercado e também se viu estigmatizado. Como todos os que compreendem a atividade, ele não consegue entender que o governo disponibiliza dinheiro barato pra atividade agrícola e pecuária no meio da selva e trava justamente quem poderia aproveitar um pouco da floresta que se perde. Criou-se uma aversão popular tão forte contra a atividade madeireira, como se ela fosse a responsável pela devastação do planeta.

Lembrei-me que, certa vez, ao ler o cardápio de uma pizzaria, lá dizia que “esta casa não queima lenha para assar pizza, contribuindo com a natureza”. Claro que o proprietário não acredita estar colaborando com a natureza queimando combustíveis fósseis e não combustíveis renováveis. Contudo, sua clientela acredita que está “ajudando a natureza” comendo pizzas assadas em fornos a gás.

Lembrei-me também de um dono de bar que, embora fizesse o impossível para atender a parafernália de exigências legais para funcionar, era constantemente atazanado por fiscais e até por policiais. Ainda tinha de ouvir que os bares eram os culpados de tudo que acontecia de ruim na cidade. Por mais que tentasse, sempre era discriminado como se fosse cidadão de segunda categoria e não um empresário com uma atividade que contribuía em todos os sentidos para o turismo da cidade.

Esse dono de bar fez uma comparação que trago pra vocês: “O bar é considerado a outra. Não importam os argumentos. Não adianta dizer que a ‘outra’ só existe porque ela foi estimulada, provocada com toda a insistência e artifícios para se tornar a amante. Não adianta afirmar que jamais procurou o marido da legítima, que sempre foi ela a procurada. A ‘outra’ não é sequer ouvida. Os argumentos dela batem no vazio porque criou-se um estigma contra ela. Mesmo injustiçada, ela continua errada aos olhos da sociedade que pensa saber das coisas.”

Os bares uniram-se e estão conseguindo provar que são um lugar de lazer e não de confusão. Os madeireiros não encontram essa união porque, como os bares, estão tão ocupados em fazer com que as suas empresas não sucumbam ante às milhares de dificuldades, que nem lembram de se unir.

Um plano de manejo, elaborado conforme os ditames do Ibama, prevê a retirada de 25 metros cúbicos por hectare. Corresponde a menos de duas árvores adultas. Em outras palavras: Só podem ser aproveitadas as árvores que, de qualquer maneira cairiam de velhas. Se esta medida fosse aplicada à agricultura, em de se usar 20% da área para cultivo, só poderíamos utilizar 0,6%.

Para aqueles que pensam que, juntando-se à falsa moralidade da maioria, conseguem melhorar o mundo, vamos lembrar que a atividade da “outra” é mais antiga até do que a dos demagogos.

Luiz Lauschner – Escritor e empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 20/07/2008
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